Liberação de armas e ataque ao Supremo se completam, escreve José Dirceu

Por José Dirceu

Como é possível uma nação e um país como o Brasil voltar a se defrontar com o risco de uma ditadura, novamente. Como se não tivessem bastado os anos do Estado Novo corporativista e ditatorial respaldado pelos militares. E é bom sempre recordar que vivemos também 21 anos de ditadura militar (1964-1985), assumida e até agora insepulta e impune.

Agora nem a vitória de Jair Bolsonaro e o status de casta que os militares conquistaram com a recente reforma da Previdência os mantêm fora da política. Pelo contrário. Reivindicam o direito líquido e certo de exercer sobre o país a tutela militar, o poder moderador, nomes suaves e enganadores para uma ditadura legalizada de certa forma como a de 64, quando tínhamos partidos, eleições e até um Judiciário dócil e de joelhos.

Até onde irá a cumplicidade de nossas elites políticas e empresariais de direita com, de novo, a tentação ditatorial e a regressão política, mas também social e cultural que representa Bolsonaro? O que mais é preciso acontecer, fora o descalabro em todas as áreas do governo e a criminosa negação da pandemia com toda sua tragédia humanitária, para darmos um basta com todos os riscos que representa um impeachment?

Hoje nos defrontamos de novo com uma aberta tentativa de preparação de um golpe no caso de uma derrota eleitoral. Isso está claro com a liberação total de armas para as milícias civis de extrema-direita e a provocação de um deputado do entorno bolsonarista –Daniel Silveira, do PSL do Rio de Janeiro– contra a Suprema Corte com o objetivo expresso de retomar a pressão para o assalto ao Poder Judiciário depois da captura das Mesas da Câmara e do Senado.

É disso que se trata e não da soberania do Congresso ou da liberdade de expressão dos deputados e senadores. O que está em jogo é a democracia, a liberdade, é viver de joelhos e submissos ou livres e de pé ainda que nos custe sangue, suor e lágrimas. Que nos custe a vida e muitas vezes, como na ditadura militar, a própria liberdade.

Só nos resta uma alternativa. Lutar e lutar. Não há outro caminho senão o de agora ou nunca manter, com todos os senões, a soberania e a independência do Supremo Tribunal Federal. Isso para mim, pessoalmente, tem um custo alto. Já fui condenado sem provas na ação penal 470 por essa mesma Corte. Mas nada me cegará diante da ameaça de novo da ditadura, agora com um caráter fascista e militar. É hora de dar um basta.

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