por Júlio Miragaya
Não obstante o início da vacinação, o mundo acaba de superar o patamar de 100 milhões de infectados pela covid-19, o número de mortos chega a 2,3 milhões, a cada dia cerca de 500 mil pessoas são infectadas e mais de 15 mil perdem a vida. Mas essa massa de contaminados e mortos não se distribui de forma uniforme pelo planeta.
Após um ano da aparição do vírus, podemos observar que as regiões mais afetadas são a América Latina, América do Norte e Europa. Numa situação intermediária, temos o Oriente Médio, a Ásia Central e Meridional e a África Setentrional, sendo o quadro bem menos grave na Ásia Oriental, Oceania e África Subsaariana.
A América Latina, com 650 milhões de habitantes, se aproxima de 20 milhões de contaminados e 600 mil óbitos, com os mortos por covid-19 representando aumento de 15% nos óbitos totais em um ano.
A América do Norte, com população de 370 milhões, tem mais de 26 milhões de infectados e 470 mil mortos, com os óbitos por covid ampliando em 21% o total de mortos. Já a Europa, com 30,5 milhões de infectados e 710 mil mortos, teve incremento de 16% nos óbitos.
As três regiões, com apenas 22% da população mundial, respondem por 80% dos contaminados e 75% dos mortos pela Covid. A África Setentrional, Oriente Médio e Ásia Central e Meridional possuem 2,95 bilhões de habitantes, registrando 23,5 milhões de infectados e 390 mil mortos, número que representa um aumento de 2,5% nos óbitos em um ano.
A África subsaariana, região mais pobre do planeta, felizmente foi pouco assolada pela covid-19. Com 1,16 bilhão de habitantes, são apenas 2,5 milhão de infectados e 62 mil mortos (mais de 60% concentrados na África do Sul, país de 60 milhões de habitantes).
As regiões mais bem sucedidas no combate à pandemia são a Ásia Oriental e a Oceania. Com quase 2 bilhões de habitantes, tiveram apenas 900 mil contaminados e 14 mil mortos, aumento de diminutos 0,1% no número de óbitos.
Como é sabido, o vírus não respeita fronteiras, mas se propaga muito mais nas regiões e países em que seus dirigentes (e grande parte de seu povo) nega a gravidade da doença (casos do Brasil, EUA e da Itália); em que o sistema de saúde pública e de proteção social é precário (caso dos EUA, Peru e México); e em que a ótica exclusiva do lucro faz a elite empresarial exigir a liberação de todas as atividades econômicas (vários países).
O sucesso dos países da Ásia Oriental deriva, sobretudo, da percepção de que o interesse coletivo se sobrepõe ao interesse individual. Estudo do Lowy Institute, da Austrália, concluiu que, entre 94 países, os mais bem sucedidos no combate à pandemia são Nova Zelândia (nota 94,4), Vietnam (90,8) e Taiwan (86,4). Cuba estaria no “top five”, mas não foi incluída no estudo.
Com as piores notas, os EUA (nota 17,3), México (6,5) e, em último lugar, o Brasil (4,3). Nota apropriada para um país em que os negacionistas bolsonaristas exigem que a vacina seja 100% segura para uma doença que afirmam não existir.
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia