Publicado originalmente no site Opera Mundi
Um grupo de compra e venda feito por pessoas de esquerda e progressistas de diversos lugares que pretende reunir de artistas plásticos e cozinheiros a costureiras e cabelereiros. Essa é a proposta do Esquerda compra da Esquerda (ECDE), do qual 105 mil pessoas já fazem parte no Facebook, compartilhando produtos e serviços.
O “embrião” do grupo surgiu em 2019, quando a artista plástica Erica Caminha pensou em abrir uma cooperativa internacional que vendesse produtos de protesto, como bandeiras, canecas e bonés. No entanto, o processo de abertura não foi para frente, fazendo com que a ativista dos direitos humanos recorresse ao Facebook no final de 2020. Em novembro, a artista plástica alterou o nome de um grupo que participava com outras 150 pessoas para Esquerda Compra da Esquerda, no intuito de promover essa interação entre vendedores e consumidores.
Em entrevista a Opera Mundi, Caminha afirmou que o grupo é um espaço de “pertencimento” e “liberdade” de estar com pessoas “gente como a gente”. “[Esquerda Compra da Esquerda] é sobre pertencimento, sobre estar entre os seus e você não temer o que é e o que pensa. Essa liberdade de ser o que somos dentro de um grupo feito para a gente, como pessoas como a gente”, disse.
Dentro do espaço, as publicações são separadas em produtos, serviços, alimentos e bebidas, vestuários e acessórios, arte, saúde, turismo e outras categorias. Para fazer parte dessa rede é preciso ser aprovado pelos moderados do grupo. Ao solicitar entrada, é necessário responder um questionário que será avaliado, assim como o perfil do Facebook.
A idealizadora do projeto declarou que essa etapa é complexa, pois a moderação, que no total são 40 pessoas, evita “infiltrados que possam prejudicar o movimento”. “Tem esse lado, claro, fascistas não entram de forma alguma. E ainda excluímos quem está lá dentro que tem essa posição”, afirmou.
Caminha não conseguiu mensurar o quanto já foi comercializado dentro do ECDE, mas afirmou que, em média, os moderadores recebem 500 anúncios diários de vendas para serem publicados no grupo. Cerca de 30 mil pessoas ainda estão na lista para serem aprovadas ou não.
Segundo ela, há uma certa “tranquilidade” das pessoas gastarem dinheiro com aqueles que não nos “chamam de corruptos e inventam calúnias”.
“Nunca imaginei que um projeto, que começou como algo pessoal, pudesse ajudar tantas pessoas. As pessoas estão conseguindo pagar suas contas, colocar comida na mesa e estão se sentindo reconhecidas pelo seu trabalho. E isso é muito importante. Tem que continuar a crescer e virar uma sociedade alternativa. Eu pelo menos vejo assim, como um bloco econômico”, declarou.
A moderação também não permite debates políticos dentro do grupo, já que o foco ali é a venda e compra de produtos e serviços diversos. De acordo com Caminha, todos que ajudam a manter o ECDE são voluntários que “aprendem diariamente a lidar com esse espaço”.
Mas o grupo não está somente no Facebook: existe um site do projeto – por enquanto, somente em português, mas Caminha busca traduzir a página para outras línguas. A idealizadora anunciou que, no começo de fevereiro, estreia a ECDEtv, um canal que publicará conteúdos realizados por integrantes do grupo. O Esquerda Compra da Esquerda também está em outras redes sociais.
“Estamos diariamente aprendendo. Já cometemos erros que fazem parte. A esquerda tem um futuro grande pela frente, não sei se estou certa, mas que, dependendo das pessoas que estão no grupo, será gigante e maravilhoso”, afirmou Caminha.