O PT e a esquerda jamais são perdedores em eleições

Nas duas últimas eleições ocorridas no Brasil, 2018 e 2020, tornou-se lugar comum na mídia mainstream as análises de experts, quase sempre partícipes do stablishment, perorando a derrota das esquerdas, e em especial do PT.

Embora os números indiquem uma perda de espaço em cargos eletivos por parte de partidos progressistas, principalmente do PT, que encarna para a elite econômica do país o inimigo a ser batido, muito em função de sua inserção nos movimentos sociais e capilaridade pelo país, tenho comigo com bastante convicção que as esquerdas, incluindo-se aí o PT, jamais são perdedores em eleições. São, na verdade, grandes ganhadores sempre.

Antes que qualquer iluminado do mainstream venha com pedras para me atingir, me explico: o Brasil é um país cuja mídia afirma diuturnamente sua imparcialidade, porém dia sim e o outro também, se dedica a demonizar a política, em especial os partidos progressistas, e muito em particular o PT, pelo que ele representa.

Invariavelmente, a mídia utiliza um falso discurso de que estes partidos são irresponsáveis fiscalmente, e são inimigos do mercado, e, portanto, sua ascensão pode colocar em risco a estabilidade do país, o crescimento e a geração de empregos, ou seja, uma narrativa oposta ao que efetivamente ocorreu quando o PT governou o país.

As estruturas institucionais do Brasil foram desenhadas para excluir e para perpetuar o status quo. Veja-se a legislação partidária e eleitoral, particularmente o mecanismo de financiamento das campanhas que, mesmo depois do fim da aberração das doações empresariais, ainda
permite doações pessoais praticamente sem limite, o que possibilita situações em que um único empresário doa para uma campanha que lhe interesse, mais do que o fundo partidário ou eleitoral de algum pequeno partido de esquerda.

E convenhamos, sem dinheiro não se disputa eleição no Brasil, e este veio de doações de empresários, banqueiros, latifundiários, especuladores e grandes investidores não vai para partidos cujas linhas políticas vão de encontro do interesse deste setor social.

Costuma-se dizer que o brasileiro é conservador, com base nos resultados eleitorais. Mas, quando se verifica a atuação institucional brasileira, em especial dos meios de comunicação e dos estamentos estatais como judiciário, polícia e ministério público, que agridem dia e noite os
movimentos sociais de resistência como sindicatos, associações em geral, ecologistas, movimentos identitários, sem terra, sem teto, e todos aqueles que se veem representados nos partidos progressistas, é de se louvar o desempenho que estes apresentam, visto se tratar de uma luta absolutamente desigual.

Apenas para dar um exemplo, comparemos o poder de alcance de uma Rede Globo e de um jornal sindical. Quem forma mais opinião? Então, em um ambiente que foi estruturado para o stablishment nunca perder, posso afirmar que os poucos espaços conquistados pelos partidos progressistas, em especial do PT e do Psol, que representam mais genuinamente o pensamento contra a corrente, tem de ser louvados, pois representam a resistência que, com o que consegue em face da avalanche de espaços
conquistados pela representação das elites, constrói os pequenos avanços que permitem ao Brasil ainda ter um mínimo de civilização, embora o atual governo esteja dando passos largos para que caiamos de vez na barbárie.


Não que eu não concorde com as opiniões de alguns comentaristas mais honestos que apontam a necessidade de os partidos de esquerda, em particular do PT, se oxigenarem e se reconectarem com a sociedade a partir de um debate mais aberto, mais alegre e mais propositivo. Mas daí, a dizer que, frente ao poderio que a elite tem e joga nas eleições brasileiras, afirmar que a conquista, por parte dos partidos alocados no campo mais a esquerda de aproximadamente 1.000 municípios, incluindo aí algumas capitais e cidades importantes, seja uma derrota, compõe o mesmo roteiro de tentativa de destruição da imagem destes partidos, pois, ao fim e ao cabo, o que o stablishment deseja mesmo é não ter nenhuma oposição, pois
assim, sequer os anéis seriam dados.

O PT, pelo que já fez, pela capacidade de inserção no tecido social, especialmente sua simbiose com os movimentos sociais, o que o coloca como capaz de se alçar a espaços mais altos de poder, sempre será o mais demonizado, e consequentemente, aquele que mais despertará sentimentos díspares na sociedade, particularmente nos segmentos menos afeitos à informação e ao debate político. Aliás, é quase unanimidade a falta de elementos claros nas respostas daqueles que dizem odiar o PT, porque, de fato, quando se coloca o que o PT fez, não há argumentos para contraposição.

Mas o PT seguirá, firme em seu propósito de transformação do Brasil. O que foi feito entre 2003 e 2014, com elevação de renda, geração de empregos, democratização do acesso ao ensino superior e políticas sociais amplas dão a mostra do que ele é capaz. E é isso que assusta a elite, o mercado, o mainstream.

Frente ampla é um caminho, porém, jamais pode ser com o viés de subjugar o PT, e jamais relativizando a destruição de direitos feitas nos últimos cinco anos.

Antonio Eustáquio Ribeiro
Bancário aposentado e diretor da FETEC C/N – Federação dos Bancários do Centro Norte

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