Em outra dimensão do Universo, onde as pessoas são iguais, fraternas, solidárias, gentis e agir com bondade é a norma, prepara-se uma grande festa.
Um comitê de recepção se organiza para a chegada de um convidado muito, muito ilustre: Fidel retoca o corte da barba e vê se a velha farda verde está bem passada; Ernesto, com aquele sorriso celestial no rosto, enfileira os melhores charutos na mesinha ao lado da grande mesa de confraternização; Chavez capricha na guayabera e dá os toques finais no discurso; Dr. Sócrates, com a camisa do Coringão, da Democracia Corinthiana, ajeita a faixa do cabelo para parecer ainda mais bonito do que é.
No palco da sala, Mercedes Sosa, Violeta Parra, Compay Segundo, Victor Jara e Gonzaguinha aprendem de Paulo Freire uma Ciranda bonita, enquanto esperam para fazer seu último ensaio antes das apresentações, já que Astor Piazzola ainda não concluiu o novo arranjo de “Vuelvo al Sur”.
Aldir Blanc, Henfil e Betinho selecionam as frases que Carlito Maia recitará nos intervalos.
Uma mesa é colocada para que Galeano se sente e escreva a história dessa recepção e Quino registre os traços e as falas de todos os presentes para o próximo número da Mafalda.
E Dona Marisa, com seu vestido vermelho e seu sorriso mais bonito, com Arthur no colo, abrirá as portas daquele céu para receber Diego Armando Maradona, que entrará garboso, com seu uniforme da seleção argentina e um passarinho chamado Garrincha pousado no ombro.
É tanta gente boa, tanta gente linda, que não dá pra citar todas, mas em nossas almas lhes sabemos todos os nomes.
E eu estou desconfiada de que quem preparou o banquete foi Jorjão do Feitiço, já que foi visto, de relance, passando apressado usando aquele chapéu branco e comprido, com uma garrafa da melhor cachaça e outra do melhor rum nas mãos.
E essa festa vai rolar pela eternidade, rimando com nossa saudade. Saudade de quem ainda está aqui, na luta pelo mundo muito melhor, que toda essa gente queria.
Lúcia Iwanow – Coletivo Resistência _ Ação