Por Mino Pedrosa
A cereja do bolo que levou toda a cúpula da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) para o Complexo Prisional da Papuda em Brasília é uma empresa polêmica por deixar rastros de corrupção em vários Estados por onde atuou. A MV Sistemas Ltda foi a chave da caixa preta do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (IGES-DF), implantado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB-DF), que escolheu como ponta de lança na gestão temerosa, Francisco Araújo, preso na Operação Falso Negativo, deflagrada pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).
A MV já foi denunciada pela ex procuradora geral da República, Raquel Dodge, por irregularidades em contratos sem licitações com prejuízos de cerca de R$ 2,6 milhões para o município de Serra no Espírito Santo quando o prefeito era o atual deputado federal, Sérgio Vidigal (PDT-ES). Apesar de o agora parlamentar possuir foro privilegiado o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, determinou que o processo retornasse à Justiça do Estado.
Matéria que apresenta a empresa MV Sistemas no IGES-DF
Francisco tratava direto com os fornecedores e permitiu que a MV abocanhasse cerca de 100 milhões de reais para implantar um sistema de atendimento eletrônico, informatizando alguns setores dos hospitais vinculados ao IGES-DF. Joabe Francisco Barbosa representava a empresa, porém, na gestão de Francisco Araújo, foi substituído por um lobista de Brasília que atendia no IGES-DF em uma sala ao lado do comando do Instituto, com direito a secretária e assessoria, indicado pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI). A farra com o dinheiro público sem a obrigatoriedade de licitações que garante a prestação de serviços com lisura, chamou a atenção de dois empresários que prejudicados pelo direcionamento do poder de quem indica, resolveram denunciar e colaborar com a justiça.
A partir daí uma investigação no IGES-DF focada na cúpula comandada pelo ponta de lança do governador jogou luz em Francisco que deixou o Instituto para assumir a SES-DF. Os investigadores acompanharam toda a engrenagem da corrupção desde o IGES-DF até a secretaria que culminou com as buscas, apreensões e prisão do próprio secretário. A Operação Falso Negativo aconteceu em duas partes: a primeira apenas buscas e apreensões que após análises de documentos confirmaram a gestão corrupta de parte da cúpula. Um edital formatado dentro da empresa MV Sistema Ltda revelou a intenção do esquema criminoso que puxava a empresa do IGES-DF para a secretaria com um custo de 179 milhões de reais para os cofres públicos.
Francisco e alguns servidores tratavam em sigilo a tal licitação dirigida que iria favorecer mais uma vez a empresa MV Sistemas que não concluiu nem um terço dos serviços contratados pelo Instituto, mas, já estava com tentáculos dentro SES-DF. Ainda segundo os investigadores a caixa preta do IGES-DF guardava várias irregularidades em contratos de empresas prestadoras de serviços que atuavam com dois CNPJ.
A engrenagem corrupta alcançou também a pandemia no combate ao Novo Coronavírus. Francisco Araújo direcionou a construção e a gestão do hospital de campanha no Estádio Mané Garrincha. A Contarpp Engenharia foi a empresa vencedora para a construção e já prestava serviços recebendo antecipadamente cinco milhões de Reais antes mesmo de assinar o contrato. Ainda de acordo com os investigadores, Francisco não dava um passo sem comunicar o governador.
Ibaneis nomeou o conterrâneo piauiense Iohan Andrade Struck que estava encarregado de fazer os pagamentos das despesas dentro da secretaria. Iohan por sua vez fez Francisco nomear a esposa Larissa Barreto Ferraz Struck como Chefe do Núcleo de Compras Diversas do Instituto. Iohan é filho de Alfonso Struck Júnior, principal assessor da primeira dama piauiense, deputada federal, Rejane Dias (PT-PI), esposa do governador do Piauí, José Wellington Barroso de Araújo Dias (PT-PI).
Depoimentos de funcionários do departamento financeiro do IGES-DF dão conta de que a empresa MV Sistemas recebe até hoje, mesmo sem concluir os serviços descritos nas faturas empenhadas. Outra personagem que anda sob as sombras é Beatris Gautério de Lima, dona do cofre da saúde e fiel escudeira do secretário de fazenda, André Clemente. Com a prisão de Francisco Araújo, o governador Ibaneis Rocha nomeou Beatris Gautério como subsecretária da pasta da saúde e lhe deu poderes para gerir todos os contratos da SES-DF. André Clemente entregou Beatris para o atual secretário de saúde, Osnei Okumoto, deixando bem claro que a subsecretária tem poderes de fato, maiores que Okumoto.
O governo parou com a perplexidade de Ibaneis que até então tinha trânsito livre no judiciário, mas, devido a robustez de provas nas várias frentes de investigações não consegue desatar os nós deixados por seus secretários. As labaredas aumentam e não só estão chamuscando a gestão de Ibaneis, como também queimam suas pretensões políticas.