Nascida no Ceará e criada na Paraíba, Maria Holanda Lopes Carvalho, de 81 anos, chegou ao Distrito Federal em 1975. “Em busca de melhores condições de vida”, ela construiu a vida na capital como educadora. Nesta quinta-feira (15), celebra seu 51° Dia dos Professores e afirma que a categoria teve conquistas, mas ainda precisa ser valorizada.
“Se eu nascesse outra vez, seria professora. É um trabalho que não me cansa”, ressaltou.
A paixão de Holanda pela educação surgiu ainda na Paraíba. Ao G1, ela contou que trabalhava na escola de uma igreja católica da região, quando decidiu se especializar na área. Ao chegar na capital, desempregada, ela conseguiu uma oportunidade em uma creche. Em 1994, se aposentou e deixou as salas de aula, mas continua ativa na busca dos direitos da categoria.
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Nos anos em que lecionou, Holanda reuniu uma série de histórias que, hoje, guarda como se fossem uma coleção: dividir merenda com os alunos, aguardar a chuva passar para conseguir chegar à escola, ter que se reinventar para conseguir ir ao trabalho com os filhos.
Apesar das dificuldades, ela afirma que a carreira também trouxe conquistas. Autora de três livros, um infantil e outros dois sobre questões sindicais, ela recebeu os títulos de Cidadã Honorária de Taguatinga, em 2011, e de Brasília, em 2013.
Leia a entrevista
G1: Como você decidiu ser professora e como foi sua formação?
Professora Holanda: Quando cheguei ao Distrito Federal, comecei a trabalhar em uma creche. Tinha um curso nesse sentido, que fiz na Paraíba. Essa unidade onde prestava serviço era vinculada ao governo, porém, ela fechou. Em seguida, fui transferida para a Secretaria de Educação e decidi estudar para prestar concurso público. Por volta de 1985, comecei na Faculdade de Artes Dulcina De Moraes. Depois, me formei em artes cênicas, passei em três concursos de diferentes níveis da educação, e comecei a dar aulas em Taguatinga e no Gama.
G1: Como era o cenário da educação quando você começou a lecionar?
Professora Holanda: Tinha muitas dificuldades, mas, acima de tudo, o respeito dos alunos pelos professores era maior. Hoje, a gente percebe que parte disso se perdeu. Têm colegas de profissão que sofrem violência. Lembro que entrava na sala de aula e cantava o Hino Nacional com os estudantes, promovíamos trabalhos, rezávamos e ríamos muito.
G1: Qual era a sua relação com os alunos?
Professora Holanda: Na hora do meu almoço, eu costumava sair para visitar meus alunos. Gostava de saber a situação financeira e cultural deles, para saber como ministrar as aulas. Morava e trabalhava em Taguatinga, e, na época, era uma comunidade muito carente. Então, queria me integrar também.
“Trabalhei em várias escolas de Taguatinga e uma no Gama. Até hoje tenho uma relação boa com meus ex-alunos. Não tem um que eu não veja na rua que não fale comigo. Minha filha abriu uma escola e todos filhos de antigos estudantes meus estão matriculados lá”.
G1: Do que mais sente falta de dentro da sala de aula?
Professora Holanda: Do aconchego com os alunos, do amor, da troca de ideias e do respeito que eles tinham com a gente. Era uma amizade muito boa. Sinto muita falta de tudo disso, mas sei que também faço falta para a educação do Distrito Federal.
G1: Como você acha que seria trabalhar durante a pandemia do novo coronavírus?
Professora Holanda: Para mim, seria muito difícil. Primeiro, porque não tenho imunidade. E segundo, porque acho que os professores não foram preparados para dar aula online e tiveram que aprender tudo muito rápido, do nada.
“Além disso, acho que aluno e professor tem que ter aquele contato, de pergunta e resposta. Considero que aquela conexão dentro de sala de aula é muito importante”.
G1: Como foi receber os títulos de Cidadã Honorária de Brasília e Taguatinga?
Professora Holanda: Fiquei muito feliz por esse reconhecimento. O que mais agradeço a Deus é porque ganhei esses títulos em função do meu trabalho e não da minha pessoa.
G1: Como é sua atuação dentro do sindicalismo?
Professora Holanda – Fui delegada sindical, e diretora do Sindicato dos Professores (Sinpro). Me aposentei, mas continuo na militância. Não perco nenhuma assembleia, e, inclusive, canto paródias para satirizar a situação dos professores.
“Conseguimos algumas conquistas, mas todas com a luta sindical. Nunca recebemos nada de graça do governo e sempre fizemos greves, que foram repostas com horas extras depois. Professor é muito corajoso”.
G1: Hoje, do quê a categoria precisa?
Professora Holanda: Acho que o professor não sabe o valor que tem. Sem falsa modéstia, somos as pessoas mais importantes do mundo. Tiramos pessoas da escuridão, ensinando a ler. Quando a pessoa sabe disso, ela pode conhecer o mundo, saber se expressar e reivindicar os próprios direitos.
Todos precisam passar pela escola. Portanto, acho que não somos valorizados. Os governos deixam nossa categoria por último.
G1: O que significa o Dia do Professor para você?
Professora Holanda: Para mim, é muito importante. Todo dia é dia do professor, mas ter um momento de reconhecimento é muito bom. Recebo sempre ligações de colegas de profissão. Se eu nascesse outra vez, seria professora. É um trabalho que fiz e não me cansa.
“Uma filha minha que faleceu era professora, formada em letras, outra é dona de escola e tenho um neto, estudante de direito, que dá aulas de reforço. A educação é muito presente aqui em casa, graças a Deus”.
Via G1