Há duas semanas, publiquei neste Brasília Capital o artigo “Desigualdade Obscena”, ocasião em que confrontei a situação de miséria e fome de milhões de brasileiros com o obscenoaumento de 33% na riqueza acumulada por 238bilionários brasileiros em 2020. Vemos agora o governo, em nome de um suposto rigor fiscal, cogitar o corte de benefícios sociais, como o abono salarial, o seguro-desemprego e o BPC. Conta, mais uma vez, com a passividade do povo. Mas seria bom contar que ela tem limites!
Em sua trilogia sobre a Revolução Russa de 1917, Leon Trotsky ressaltava que a imensa massa camponesa, que considerava o czar quase como um deus, apenas alguns meses depois, ainda antes da tomada do poder pelos sovietes, mudara seu estado de espírito: “Em grande número de províncias manifestaram-se perturbações provocadas pela fome… o espectro da fome, tornava intolerável a vizinhança do bem-estar e do luxo”, o que, segundo Trotsky,resultou numa explosão de violência social:
“Os camponeses lançam-se à tomada das terras pela violência, ao saque das terras dos nobres, ao incêndio das mansões e até mesmo ao assassinato dos grandes proprietários, e que até mesmo os apelos de bolcheviques pela preservação das propriedades eram ignorados pela turba camponesa”.
É oportuno lembrar que a história da humanidade está repleta de rebeliões contra os regimes de super exploração e fome a que alguns povos se viram submetidos.
Enquanto isso, nos EUA, a nação símbolo do individualismo, da opulência e da desigualdade, aproxima-se a eleição presidencial de 3/11.Considerando a situação desfavorável de Trump, não havendo o que fazer em apenas um mês para melhorar o quadro econômico ou social do país, há sempre o risco de uma ação desesperada, como recorrer a um recurso amplamente utilizado na América: inventar uma ameaça externa, seja o comunismo ou o radicalismo islâmico.
O encontro de uma alta autoridade norte-americana com o chanceler brasileiro em Boa Vista para debater a derrubada de Maduro da presidência da Venezuela; a ida de outra alta autoridade do país a Taiwan, provocando fortereação da China; e a intensificação do criminoso boicote econômico ao Irã, buscam provocar rusgas, e mesmo conflitos, no front externo, o que recomendaria a recondução do atual mandatário da Casa Branca. Que os norte-americanos não caiam, mais uma vez, neste conto da carochinha!
PS. Excelente o documentário “O dilema das redes (2020)”, em que ex-executivos das megaempresas de tecnologia dos EUA denunciam a manipulação de bilhões de pessoas, sua transformação em “produtos” por elas vendidos e a imensa máquina de desinformação montada.
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia