Juliana Cardoso, de SP, Mary Ferreira, do MA, e feministas de diversas regiões do país denunciam invasões de reuniões online com conteúdo pornográfico. Saiba o que fazer. 21/08/2020 15h30
Da Redação, Agência Todas
Nas últimas semanas, mulheres de diversas vertentes que debatem participação feminina na política vem enfrentando uma onda de ataques de homens em videoconferências. Um fenômeno que começou acometendo pesquisadoras e estudiosas sobre mulheres na política, agora se estendeu para pré-candidatas, parlamentares e militantes que defendem as pautas feministas.
O comportamento é típico da baixeza machista do homem médio brasileiro e latino americano. Eles invadem as salas e começam a veicular conteúdos pornográficos com cenas de sexo violento e muito foco em mostrar o pênis. A atitude só demonstra o despreparo e a ignorância desses homens em lidar com mulheres que debatem política — portanto utilizam desses mecanismos para compensar a falta de argumentos e reforçar a violência e a coerção como único método de lidar com as próprias frustrações.
O objetivo é cristalino: constranger as mulheres presentes e, principalmente, silenciar essas vozes que se levantam contra a sociedade machista e patriarcal. Alimentados e legitimados por um governo machista, racista e homofóbico, esses invasores estão alinhados com a ideologia bolsonarista e no enfrentamento às pautas progressistas.
Em São Luiz do Maranhão, a pré-candidata a vereadora pelo PT, Mary Ferreira, professora universitária e petista histórica, relata como foi a invasão em uma reunião de mulheres organizada por ela
“Tinha muitos conteúdos pornográficos, faziam muitos barulhos, e cenas de sexo anal, sexo oral, cenas de pênis bem evidente. Eles estavam claramente atacando o feminismo e de fato entraram na sala para prejudicar. Eu fiquei impactada no primeiro momento, mas depois reagimos, tiramos todos da sala. Eram 15 pessoas. Tentamos reiniciar a reunião e não conseguimos porque eles tentavam entrar de todo jeito. Tivemos que encerrar aquela sala e ir para um outro link. Seguimos a reunião”, conta.
Mary não foi a única pré-candidata pelo PT a ter a sua reunião invadida. A vereadora Juliana Cardoso, de São Paulo, que também é pré-candidata, organizou uma plenária de mulheres com a presença de mais de 100 pessoas e também passou por essa situação.
A invasão foi feita por um conjunto de perfis masculinos, de rapazes jovens e até adolescentes. Eles tomaram o controle da sala e compartilharam conteúdos violentos, misóginos e pornográficos, além de xingamento no chat da plataforma Zoom.
“Ficamos muito impactadas e chocadas. Havia um rapaz que se masturbava ao vivo na frente da câmera. O outro com uma sunga da bandeira norte-americana que pulava na de um lado para o outro. Muito barulho, cacofonia e cenas violentas, sexuais e misóginas”, relata Camila Furchi, assessora e organizadora da plenária “Mulheres na Pandemia”.
O mandato da vereadora Juliana Cardoso foi até a delegacia e registrou queixa-crime de crime virtual e vai tomar as providências que forem necessárias para que os culpados sejam punidos.
Apesar de tamanha violência, o susto e a perplexidade não paralisaram as companheiras. Elas desfizeram a sala e se mantiveram mobilizadas para abrir um outro link e prosseguir com a reunião.
Aumentar a segurança das reuniões online – Práticas Anti Zoombombing
Diante dessa situação, aumentar a segurança das reuniões online tem sido uma das ferramentas para tentar minimizar esse tipo de invasão.
O papel do anfitrião (host) das reuniões é muito importante nesse enfrentamento. Portanto garantir que seja alguém com domínio da plataforma é o primeiro passo.
Abrir reuniões com “salas de espera” é um bom começo para tentar impedir que esse tipo de situação aconteça — nela é possível filtrar as pessoas que vão entrar.
Para reuniões menores e mais internas, atribuir uma senha de acesso à sala — esse recurso só funciona se a senha não for disparada em grandes grupos de WhatsApp. Vocês podem divulgar o link da reunião amplamente e disponibilizar a senha por meio de mensagem individual a cada um dos participantes.
Uma das formas dos invasores “assumirem o controle” é quando a opção “permitir compartilhamento de telas para todos” está habilitada. Portanto, desabilitar essa opção e deixar o compartilhamento de telas restrito ao anfitrião também diminui os riscos de invasão.
Antes de toda reunião, compartilhe com os participantes os protocolos em caso de invasão. É importante que as pessoas mantenham a calma e confiem nos passos que o anfitrião pode fazer para, não apenas remover os invasores, mas ter tempo para reunir provas contra eles.
Em caso de invasão no Zoom:
1) Tenha calma e siga os seguintes os passos
2) Gravar a invasão (por meio do botão “recorde/gravar”) por tempo suficiente para ter provas
3) Buscar identificar os possíveis invasores (tirando prints dos rostos, dos conteúdos e dos nomes de entradas)
4) No botão “Segurança”, verificar se o compartilhamento de tela está habilitado ou desabilitado. Manter desabilitado. E desabilitar a possibilidade das pessoas de “ligarem seus microfones”.
5) No botão “Participantes”, tem uma opção: “Desative o som de todos/ Mute All”. Habilite e proíba que todas as pessoas abram seus microfones
5) Destacar vídeo de uma pessoa não invasora: ir até uma janela de uma pessoa não invasora, clicar nos três pontinhos do canto superior e escolher a opção “Spotlight Video/ Destacar Video”
6) Habilitar sala de espera.
7) Vá até a janela dos invasores, clicar nos três pontinhos do canto superior e escolher a opção “Remover da reunião/Remove”.
8) Prossiga a reunião.
9) Reúna os materiais gravados e printados e vá até uma delegacia de crimes virtuais para prestar queixa.
Se caso esses passos não funcionarem, há a possibilidade de ser o caso de uma invasão hacker que não apenas “toma o controle da sala”, mas também invade computadores. Neste caso, derrube a reunião e abra outra sala.