Empresários faturam uma fortuna na pandemia, mas ajudam pouco no combate à crise, segundo relatório da instituição
Em plena pandemia do novo coronavírus, a fortuna das 25 pessoas mais ricas do mundo aumentou 255 bilhões de dólares em apenas três meses, segundo aponta um relatório da instituição Oxfam, confederação que estuda a pobreza e a desigualdade mundial. De acordo com a pesquisa, publicada nesta quinta-feira 10, o lucro foi registrado entre os meses de março e maio deste anos.
A organização diz que as empresas mais ricas estão “auferindo lucros excedentes durante a pandemia”. Elas estão localizadas no Brasil, Estados Unidos, Europa, Japão, Coreia do Sul, Austrália, Índia, Nigéria e África do Sul.
Entre essas companhias, 32 devem faturar mais em 2020 do que nos quatro anos anteriores. São mais 109 bilhões de dólares que devem ser acumulados nos cofres privados neste ano, só de excedentes.
Das marcas listadas, estão as americanas Microsoft e Google. As empresas de tecnologia distribuíram na pandemia, respectivamente, 21 bilhões de dólares e 15 bilhões de dólares aos seus acionistas.
A relação inclui a montadora japonesa Toyota, a empresa química alemã Badische Anilin & Soda Fabrik (BASF), e até empresas que desenvolvem vacinas com dinheiro público: Johnson & Johnson, Merck e Pfizer, as três estadunidenses. Essas marcas registraram distribuição de cifras bilionárias aos seus acionistas.
Empresas que tiveram prejuízos também distribuíram altos valores aos seus acionistas, como as petrolíferas Exxon Mobil (EUA), Total (França), Shell (Países Baixos), Petrobras (Brasil), Chevron (EUA) e BP (Inglaterra). Juntas, elas tiveram um prejuízo líquinho de 61,7 bilhões de dólares, de janeiro a julho de 2020, mas ainda assim conseguiram distribuir 31 bilhões de dólares aos seus acionistas no mesmo período.
A Nigéria está à beira de um colapso econômico, mas a sua maior empresa de petróleo, Seplat Petroleum, distribuiu 132% dos seus lucros a acionistas nos primeiros seis meses de 2020, diz a Oxfam.
“A distribuição excessiva de lucros e dividendos a acionistas é uma má notícia para a eliminação da desigualdade, já que ela beneficia principalmente pessoas que já são ricas, não é usada para pagar melhores salários a trabalhadores comuns e canaliza incentivos de curto prazo para CEOs”, escreve a instituição, no relatório.
A instituição diz ainda que esses índices exacerbam a desigualdade de gênero, já que a maioria das ações e dos cargos lucrativos dessas empresas está nas mãos de homens. Apenas 2,8% dos CEOs das empresas listadas na Global Fortune são mulheres (são 14, em números reais); nenhuma delas está nas empresas listadas do Brasil, África do Sul, França ou Alemanha.
Empresas faturam, mas não ajudam a superar crise sanitária
Apesar dos cofres cheios, as empresas contribuem pouco para apoiar as lutas dos governos contra a Covid-19, segundo a Oxfam. As empresas mais ricas do mundo doaram apenas 0,3% da sua receita operacional para colaborar com os custos financeiros da crise, considerando a média de 2019.
Se elencadas apenas as 32 empresas que mais lucram na pandemia, a Oxfam estima que poderiam ser geradas receitas de 104 bilhões de dólares em 2020 para fazer frente à Covid-19, que já matou cerca de 900 mil pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Essa soma poderia cobrir todos os custos de diagnósticos dos pacientes e da produção de vacinas, além de garantir 33 bilhões de dólares a mais para desenvolver uma força de trabalho de profissionais da saúde.
Jeff Bezos, magnata da Amazon, lucrou tanto em 2020 que poderia pagar um bônus único de 105 mil dólares para cada um dos seus 876 mil funcionários. Ainda assim, diz a Oxfam, ele continuaria a ser tão rico como era no início da pandemia.
Para a instituição, em vez de depender de contribuições voluntárias, os governos deveriam adotar mecanismos mais eficazes para obter recursos de combate à Covid-19. Um caminho seria taxar as fortunas das grandes empresas.
“Considerando os lucros crescentes que algumas empresas estão auferindo enquanto muitas outras se afundam no abismo econômico, tributar os superlucros de grandes empresas seria uma maneira eficaz de garantir um verdadeiro sacrifício compartilhado”, afirma o relatório.