Edson Pistori
Na teoria política há uma vasta discussão acerca da questão dos fins e dos meios para se conquistar, exercer e manter o poder numa sociedade.
Embora as reflexões dos autores clássicos da política sigam atuais, válidas e aplicáveis, por outro lado ainda é incipiente a elaboração teórica quanto aos impactos que as tecnologias digitais terão sobre a política e o poder.
Enquanto a questão dos fins do poder (programa político), em última instância, permanece sob o domínio da filosofia e das ciências. Na outra ponta, no tocante aos meios para o exercício da atividade política vemos nascer um novo campo decisivo relacionados às tecnologias da informação e comunicação.
Isso porque, na sociedade pós-industrial, a esfera virtual cresceu exponencialmente, multiplicando as interações entre os indivíduos, alterando as relações de produção e organização, e por sua vez, abrindo espaço para novos padrões de sociabilidade e de ação política.
Nesse contexto, pode-se dizer que passamos por uma fase de transição em que convivem organizações políticas estruturadas em bases analógicas e outras que estão surgindo no formato digital.
Em geral, as organizações ou forças políticas analógicas são mais lentas, pois demoram mais tempo para coletar dados da realidade, processar e reagir as situações, além de terem mais dificuldades em lidar com ambientes instáveis dada a sua capacidade limitada para difundir informações e disputar influência no “ambiente virtual”.
Em certo sentido, vem daí a sensação percebida por parte dos militantes dos partidos de esquerda, em especial do PT, de que estamos sempre atrasados frente às movimentações dos nossos atuais adversários.
No entanto, a transformação digital de uma organização política não advém apenas da tecnologia, mas fundamentalmente da mudança na “arquitetura mental” dos dirigentes, no desenvolvimento de novas habilidades dos militantes e na reconfiguração das formas de atuação.
Se na década de 80 os núcleos de base do partido foram uma novidade que alavancaram a estruturação do PT, agora os “hubs” de ativistas e influenciadores petistas devem assumir a linha de frente.
Não se trata de criar mais contas em redes sociais, montar listas de transmissão no WhatsApp ou fazer mais reuniões por vídeo-conferência. Nem mesmo de substituir os comícios por lives ou passeatas por tuitaços.
Precisamos reconhecer que é irreversível o caminho da automação e da inteligência artificial, que muitos trabalhos desaparecerão, tornando-se obsoletos, assim como outros surgirão.
Outro exemplo é adoção do teletrabalho, que por conta da pandemia, embalou e deve alcançar uma parcela maior de trabalhadores.
Um partido digital deve ser capaz de lidar com essas realidades, ao mesmo tempo, se tornar um instrumento de organização dos trabalhadores nesses novos ambientes, hackeando as lógicas de exploração.
Nossos ativistas e dirigentes precisam ser versados no manejo de ferramentas de tecnologia da informação e comunicação, e não apenas simples “spanners”, que difundem mensagens de marketing político.
A constituição de uma força política digital é um imperativo para o nosso tempo.
Já passou da hora do partido viabilizar um potente Data Center, de organizar um banco de dados robusto: o Data Trabalhadores.
É urgente desenvolvermos mecanismos de colaboração virtual, de estruturarmos uma central de mídias sociais e de promovermos massivos treinamentos aos nossos militantes para serem influenciadores digitais eficazes em diversas áreas, de termos a nossa própria escola de Hackears.
Algorítimos, robôs e softwares são e continuarão sendo ferramentas cada vez mais indispensáveis para a ação política e quanto mais demorarmos a dominá-los, mais distante estaremos da conquista do poder e mais longo será o inverno.