Ao todo, são 115 projetos de pesquisadores da universidade. Parceria com Finatec e GDF vai investir R$ 30 milhões; instituição busca fontes alternativas para complementar recurso.
A Universidade de Brasília (UnB) selecionou 115 projetos de combate ao novo coronavírus sugeridos por pesquisadores da instituição. Entre as propostas, estão a confecção de máscaras e luvas com um produto capaz de destruir vírus, além do desenvolvimento de protótipos de aparelhos respiratórios (saiba mais abaixo).
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A seleção das propostas ocorreu entre os dias 31 de março e 3 de abril. Os projetos estão avaliados em R$ 70 milhões.
Deste total, R$ 30 milhões serão custeados com recursos da UnB em parceria com a Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec) e a Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF). A instituição busca alternativas para complementar o valor (saiba mais abaixo).
Os projetos foram selecionados por ordem de prioridade, que considerou critérios como:
- Viabilidade
- Impactos
- Resultados previstos
- Articulação entre pesquisa, inovação e extensão
Os projetos
Professor Floriano Pastore, do Instituto de Química da UnB, mostra luvas e máscaras atoalhadas e umedecidas — Foto: Arquivo pessoal
Em primeiro lugar na lista, está o projeto para o desenvolvimento de máscaras e luvas de proteção capazes de matar o vírus. O segredo, seria um material umedecido com uma solução – um tipo de detergente – usado nos utensílios, explicam os pesquisadores.
“Os materiais têm duas camadas, a primeira é atoalhada e está envolvida em um líquido com substância detergente, que ao entrar em contato com o vírus, o destrói”.
O idealizador deste projeto é o coordenador da Divisão de Química Tecnológica, Floriano Pastore. Ele contou ao G1 que já usa um protótipo dos materiais (foto acima).
A ideia é que a população possa fazer do próprio kit de proteção em casa, com tecido como toalha fina, sem depender do fornecimento pelo governo.
“Por exemplo, ao pegar no botão do elevador, uma luva comum, de borracha, não mata o vírus. Ela, na verdade, pode até transportar ele para outro lugar. Agora, se estiver com um tecido umedecido em uma solução específica, ele é atraído e destruído.”
O pesquisador explica que o coronavírus é muito letal, no entanto, muito frágil. “Ele não tem qualquer atividade quando em contato com água e sabão”, aponta.
O líquido para umedecer o tecido também poderia ser produzido em casa, para ser depositado no material frequentemente, com recipiente de spray, por exemplo. O objetivo da pesquisa é divulgar uma “receita” em até três semanas.
Segundo Pastore, nas máscaras, a pesquisa visa buscar uma solução ideal que não prejudique a respiração de quem usar.
Aparelhos respiratórios
Entre os temas mais discutidos na última semana sobre as estruturas de combate ao coronavírus na rede pública de saúde é a quantidade de equipamentos que auxiliam no tratamento de síndromes respiratórias – uma característica de quem apresenta complicações devido à Covid-19. A UnB vai produzir protótipos de ventiladores mecânicos.
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O projeto é coordenado pelo professor Daniel Mauricio Muñoz Arboleda, de Engenharia Eletrônica. Segundo ele, o objetivo é criar um protótipo que pode ser reproduzido de forma mais fácil no DF.
“Em um eventual colapso é importante ter iniciativas que visam produzir, com baixo custo e hardware aberto, para que seja replicado em qualquer lugar do país.”
A pesquisa já conta com um protótipo, que usou peças feitas em impressora 3D. Segundo Arboleda, o equipamento está sendo aprimorado. A expectativa é de que um modelo possa ser apresentado em até um mês.
Equipamentos de proteção nos hospitais
Entre as principais demandas do Sistema Único de Saúde (SUS) estão os Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s), usados pelos profissionais de saúde. O projeto coordenado pelo professor Pedro Henrique de Oliveira Neto, do Núcleo de Física Atômica e Fluidos da UnB, pretende criar um equipamento que descontamina as máscaras, para que possam ser reutilizadas.
“As máscaras precisarão ser usadas não só pelos profissionais de saúde, mas por todo mundo do hospital, do porteiro ao administrador. O estoque vai baixar bastante.”
Segundo o pesquisador, o equipamento utiliza uma espécie de “painel de iluminação” com lâmpadas do tipo UV-C, que são germicidas, no processo de descontaminação. “A ideia é que o equipamento seja acompanhado de um protocolo, para que seja usado nos hospitais’, .
“Entre duas a três semanas esperamos que o protocolo seja testado em um hospital”, afirma.
Medicamentos e monitoramento
Álcool em gel produzidos pela Farmácia Escola da Universidade de Brasília — Foto: UnB/Divulgação
Consta ainda entre os projetos prioritários da universidade duas propostas que visam avaliar a eficácia de medicamentos no tratamento contra a Covid-19. Eles analisarão o uso de hidroxicloroquina e cloroquina, que estão em fase de pesquisas no país.
Veja outras propostas entre as principais que serão desenvolvidas pela UnB:
- Produção de álcool em gel para famílias do Entorno do DF
- Centro de treinamento para o manejo no cuidado do COVID-19 e outras doenças
- Plataforma para gerenciamento de atividades em cenário de crise apoiada por comunidade de prática para o Covid-19
Investimento
O orçamento da UnB pode custear cerca de 42% dos projetos. De acordo com a instituição, uma das alternativas para completar o orçamento é uma chamada pública prevista para esta semana pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que vai destinar R$ 70 milhões a projetos. Para garantir o recurso, as propostas ainda teriam de ser aprovadas na seleção.
A universidade busca também junto à iniciativa privada outras formas de complementar o recurso e encaminhar todos os 115 projetos.
Doações
Máscara do tipo face shield, DF — Foto: Moacir Evangelista/Sistema Fibra
A Universidade de Brasília já realizou diversas doações de materiais à rede pública de saúde, visando o combate ao coronavírus. Entre elas, a entrega de máscaras de proteção, feitas de acrílico e produção de álcool em gel.
A universidade também doou à Secretaria de Saúde cinco máquinas capazes de ajudar a diagnosticar o coronavírus em pacientes. Os aparelhos já foram entregues ao Laboratório Central de Saúde Pública do Distrito Federal (LACEN-DF), que concentra as amostras analisadas na rede pública.
G1