Na manhã seguinte ao pronunciamento que chocou o país, o despreparado presidente colocou o povo em risco ao dizer que “ficar em casa é atitude de covarde”
Na saída do Palácio da Alvorada nesta quarta-feira (25), Jair Bolsonaro sinalizou que vai cumprir as palavras do pronunciamento radical feito na noite anterior e afirmou que vai mudar a estratégia de combate ao coronavírus, dizendo que vai falar para o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, para adotar o chamado “isolamento vertical”, que atinge apenas idosos e grupos de risco.
A estratégia é criticada por organismos de saúde internacionais e chegou a ser adotada no Reino Unido, que voltou atrás e agora faz o isolamento social.
“Ouvi Donald Trump nos EUA, está na mesma linha que a minha. Ao que tudo indica ele vai reabrir a partir de hoje os postos de trabalho”, disse Bolsonaro, citando uma suposta estratégia do presidente dos EUA, que seria tomada a partir de hoje, de acabar com o isolamento social no país.
O presidente brasileiro disse que falará com Mandetta ainda hoje. “A orientação vai ser o isolamento vertical”.
“O que precisa ser feito: botar esse povo para trabalhar, preservar os idosos. Aqueles que têm problemas de saúde. Mais nada além disso”, disse Bolsonaro.
Cenário caótico
Para defender sua tese, Bolsonaro projetou um cenário mais caótico com a crise financeira futura, que será decorrente da pandemia do coronavírus.
“Nós temos 38 milhões de autônomos no Brasil. Uma parte considerável desses não tão ganhando seu ganha-pão. O que tinha na geladeira já acabou. Vamos lá para CLT, as empresas não estão produzindo nada, zero. Não tem como pagar seu pessoal, pessoal CLT, não tem como pagar. Se a economia colapsar, não vai ter dinheiro para pagar servidor público. O caos está aí. Se tivermos problemas como podemos ter no Brasil, como saques a supermercados, o vírus vai continuar entre nós também. Vamos ficar com o caos e o vírus”, disse.
Bolsonaro criticou prefeitos e governadores – citando nominalmente João Dório (PSDB), de São Paulo, e Wilson Witzel (PSC), do Rio – por criarem “histeria e pânico” para que possam surgir como “salvadores da pátria”.
O presidente ainda criticou aqueles que, segundo ele, priorizam a vida em detrimento à economia. “Aqueles que falam: ah, economia é menos importante que a vida. Cara-pálida: não dissocie uma coisa de outra. Sem dinheiro, o próprio campo vai deixar de produzir. Vamos viver do quê?”, indagou.
Cloroquina
Segundo Bolsonaro, a maneira de enfrentar a pandemia de coronavírus é por meio do uso da cloroquina – medicamento que ainda não tem resultados conclusivos no combate à doença. “Temos ai a cloroquina, tenho relatos de pessoas que estão sendo 100% eficientes”.
Bolsonaro ainda minimizou a própria responsabilidade diante dos idosos e grupos de risco, que não devem ser expostos à Covid-19 por serem mais propensos à morrerem em decorrência da doença.
“O povo tem deixar de deixar tudo nas costas do poder público. O responsável pela minha mãe são seus meia dúzia de filhos”, disse o presidente, ressaltando ainda que o pronunciamento desta quarta-feira (24) não foi escrito pelo filho, Carlos Bolsonaro. “Eu que fiz o discurso”.
Por Revista Fórum