Em Brasília, ato político reuniu militantes e lideranças de diversas partes do Brasil e do mundo
Para quem vive no campo e dele depende, a coragem é o motor da luta social que dá seguimento à vida. É ela que sustenta a esperança e a militância cotidiana das mulheres, que, diante disso, não dão espaço para o medo. É isso que garantem as mais de 3.500 participantes que estão reunidas no 1º Encontro Nacional das Mulheres sem Terra, Brasília (DF). E, na noite deste sábado (7), foi com essa mesma coragem que elas saudaram, em um ato político, as comemorações do 8 de Março e intensificaram o grito em torno da unificação das forças feministas.
“Estamos aqui fortalecendo, a cada dia, a nossa fúria para defender a democracia, a reforma agrária e o nosso país. Nós aqui somos mulheres que rompemos cercas, que rompemos o medo nas madrugadas, mas que temos coragem de quebrar as cercas do latifúndio para romper com as cercas do capital”, bradou Maria de Jesus, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), diante de uma plateia eletrizada.
O coro da camponesa foi reforçado também pela ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), presença marcante no evento, que tem envergadura histórica por ser o primeiro grande encontro de mulheres do MST no país.
“Vivemos sob uma democracia ameaçada. É óbvio que se cria, no Brasil, um clima de medo, mas eu quero recorrer àquela poesia do escritor mineiro João Guimarães Rosa que dizia que viver era muito perigoso, mas que o que a vida quer da gente é coragem, por isso enfrentar sem medo essa situação que nós vivemos hoje é crucial”, disse a ex-presidente, sob aplausos energéticos.
Dilma chamou atenção para o casamento entre o avanço da agenda neoliberal e o autoritarismo no país, que ameaça especialmente os direitos das mulheres. “Nós temos de ter clareza de que o neoliberalismo e o neofascismo são irmãos siameses. Não existe um sem o outro, e é isso que é o caráter mais perverso deste autoritarismo que afeta todas nós”, pontuou, chamando a atenção para os desdobramentos do problema, como a asfixia imposta às políticas públicas.
Ela defendeu ainda que a cartilha do governo Bolsonaro precisa encontrar uma oposição cada dia mais robusta e multilateral. “Temos que buscar as forças de todos os movimentos sociais, e aí eu acho que a mulher tem um papel fundamental, principalmente com a luta feminista”, disse, ao defender a união de todas na defesa do patrimônio nacional e dos direitos sociais.
Gleisi Hoffmann, presidenta do PT, durante ato no I Encontro Nacional de Mulheres do MST / Matheus Alves
Seguindo a mesma linha, a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, pediu atenção para a articulação conjunta entre aqueles que travam a batalha nas ruas e os que fazem a luta institucional. “Hoje nós estamos em uma das situações mais perversas que vemos no país, que é o extremo do neoliberalismo na economia junto com um governo de extrema direita, fascista. Nós nunca precisamos tanto dos movimentos sociais, dos partidos de esquerda e nunca a sociedade precisou tanto de nós pra lutar por ela”.
A mandatária afirmou que as mulheres de diferentes instituições e segmentos populares buscam inspiração no MST para tecer as batalhas do dia a dia: “Mesmo na adversidade, nossa luta vai ser firme e vai ser corajosa, como nós aprendemos com o movimento, de não baixar a cabeça, de resistir quando precisa, mas de avançar também”.
Além de representantes partidárias, o ato desta noite reuniu um sem-número de parceiras das mulheres do MST. Entre elas, deputadas, lideranças religiosas, militantes de movimentos populares e diferentes organizações locais e nacionais.
Pela voz da militante francesa Monique Murga, braços internacionais também se somaram ao ato para lembrar o internacionalismo da luta popular, que dá ao feminismo um alcance global. “Cada direito perdido por uma mulher em algum lugar do mundo é uma perda no mundo inteiro, mas cada direito conquistado por algum mulher no mundo é uma vitória para todas as mulheres do mundo”, cravou Murga.
Mística do Coletivo de Juventude do MST / Ju Adriano
Para as militantes mais jovens, a mística que resultou do somatório das distintas vozes reunidas no ato serve de motor para revigorar e incentivar a luta que o movimento de mulheres tem pela frente. “Com certeza vamos sair daqui com mais força e energia pra derrotar este governo que está aí”, disse a vice-presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Elida Elena.
Fonte: Brasil de Fato