Por uma democracia que acolha as mulheres

Misiara Oliveira (*)
Nós mulheres somos a maioria da população e do eleitorado no Brasil, no Rio Grande do Sul e em inúmeras cidades. Apesar desta maioria, estamos sub representadas nos espaços de poder político. Além disso, nossas cidades estão longe de serem territórios acolhedores e garantidores dos direitos básicos de cidadania para o povo e em especial para nós. No Brasil, certamente há um caminho longo a ser trilhado até que a Democracia seja plenamente representativa para as mulheres.

Ao contrário, desde o golpe de 2016, com a derrubada da única mulher eleita para a Presidência da República, a cada dia vivemos em territórios cada vez mais hostis, sejam eles públicos ou privados.

Misiara Oliveira (Arquivo pessoal)

A crescente cultura de intolerância e violência, alimentada por Bolsonaro e seus apoiadores, se movimenta, como bem disse o Presidente Lula, contra pobres, negros, LGBTTIs e contra as mulheres. Não seria demais dizer que vivemos uma guerra, fruto da misoginia e do machismo. Os índices de violência contra as mulheres e sua face mais cruel que é o feminicídio bateram marcas assustadoras.

Segundo dados do Fórum de Segurança Pública, em 2019 foram registrados um caso de violência contra a mulher a cada dois minutos no país. Já o Monitor de Violência no Brasil, após análise de dados de 26 Estados, mais o Distrito Federal, apurou o crescimento de 7,3% dos casos de feminicídio (crimes de ódio motivados pelo fato de ser mulher).

O novo sujeito fascista e de extrema direita no Brasil também é misógino, não gosta de mulheres, muito menos com direitos. Para eles a submissão é a regra.

As eleições presidenciais de 2018 nos arremessaram para dentro do Conto da Aia, de Margaret Atwood. Vivemos sob um governo comandado por corruptos e hipócritas, que investem em narrativas fundamentalistas, reacionárias, baseadas na submissão, no controle e normalização dos corpos e na destruição da educação, da cultura e da ciência. Afinal, é mais fácil submeter quem não possui instrumentos para o exercício pleno das liberdades.

Submeter, subjugar, colocar as mulheres, o povo e o país de joelhos. Estes são objetivos que unificam um conjunto de setores e interesses que hoje ocupam o poder central no país.

Nesse cenário, as ações da ministra Damares passam longe de ser apenas uma cortina de fumaça. Ela é a expressão deste objetivo ideológico que é perseguido todos os dias, de forma direta ou simbólica, contribuindo para coesionar a base social do governo, semeando quem sabe, a sustentação de um almejado futuro regime.

Frente a tantos ataques, podemos afirmar que “Resistência” é a palavra que se impõe. Uma palavra feminina e feminista para o Brasil de 2020.

A mesma Resistência que forjou esta nação, desde a luta contra todos os tipos de escravidão – de Dandara à Benedita da Silva; contra todas as tiranias e ditaduras – de Olga Benário à Dilma Rousseff e pelo direito ao voto e à tribuna – de Bertha Lutz à Marielle Franco.

É na Resistência que semeamos um outro tipo de Democracia, que seja representativa das maiorias e minorias sociais excluídas e enfrente as desigualdades históricas que perpetuam hierarquias de gênero, raça e classe no país.

Te convido para participar desse março de lutas, iniciando pelo dia 8 – Dia Internacional da Mulher. Vamos juntas construir uma Resistência que produza uma Democracia que acolha as mulheres!

#SilenciadasNuncaMais

#ForaBolsonaro!

(*) Feminista, integrante da Executiva Nacional do PT.

Fonte: Sul 21

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