É insustentável o desenvolvimento sem uma política, em um país como o Brasil, sem estimular o consumo, a demanda na ponta
A experiência neoliberal não vai resolver os problemas econômicos do Brasil. Tem sido uma tragédia na América Latina, uma tragédia histórica. Então, quando a gente olha os dados desse PIB, eles mostram que o que cresceu acima de 1,1% foi o consumo das famílias, 1,8%, muito pelos R$ 47 bilhões do FGTS, que foram colocados, sendo que menos do que isso foi liberado no ano passado. Mas, é um patrimônio do trabalhador, uma poupança para usar no momento em que ele ficar desempregado ou pra construir sua casa própria, que era fundo da Caixa Econômica Federal e do BNDES, que foi transformado em consumo. Então, é uma bolha que não se sustenta e o Temer já tinha feito isso lá atrás.
Também um pouco do PIS e a cessão onerosa do petróleo, que deu R$ 38 bilhões para a Petrobras e R$ 30 bilhões para estados e municípios. Então, você teve aí um estímulo, um keynesianismo envergonhado que não resolveu. Então, o que nos precisamos analisar é o caminho pra gente sair dessa situação. Nós temos que desmitificar essa ideia da política fiscal.
Eu não vejo alternativa consistente, se você não rever essa política do teto de gastos. O Estado tem que estimular, porque o setor privado não vai fazer. Alguém ainda acha que vai fazer? Você tirar o BNDES, você acha que o setor privado vai financiar ao médio e ao longo prazo? Se você desmontar o Banco do Brasil e a Caixa, você acha que eles vão substituir no crédito agrícola e na habitação popular? Não vão. Na infraestrutura? No setor público?
Então, a primeira coisa, eles vão ter que rever porque é insustentável o desenvolvimento sem uma política, em um país como o Brasil, sem estimular o consumo, a demanda na ponta. Porque é isso que vai gerar investimento, que vai gerar negócio, que vai gerar saída. E se o PIB cresce, melhora a relação dívida/PIB. Não tem como resolver o problema fiscal sem crescimento econômico. Essa é a experiência histórica.
E a outra coisa que nós temos que fazer pra superar essa crise é proteger os pobres. Você não pode ter uma fila no bolsa família de 3,5 milhões de pessoas. Isso é criminoso. É só a gente andar pela cidade e ver como a pobreza está chegando em uma situação dramática. A fila do INSS não pode ter 2,3 milhões de pessoa. Você está atrasando benefícios básicos, auxílio maternidade, auxílio saúde, são coisas fundamentais no momento de dificuldade.
Aloizio Mercadante é ex-ministro da Educação
*Transcrição livre do programa Mercadante Debate, de 03 de março de 2020, na TV 247