Por Olivia Carolino Pires e Luiz Felipe Albuquerque*
No próximo dia 21 de fevereiro será celebrado o Dia dos Livros Vermelhos. A iniciativa, proposta pela LeftWord Books (editora de livros da Índia), Indian Union of Left Publishers (União Indiana de Editoras de Esquerda) e pela Assembleia Internacional dos Povos (AIP) – articulação internacional de organizações políticas de esquerda, tem como objetivo contribuir na luta contra o surgimento da ameaça neofascista em todo o mundo.
A ideia da data é aproveitar o mesmo dia em que foi publicado o livro Manifesto do Partido Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels, em 1848.
A realidade brasileira dialoga bem com essa iniciativa. O governo de Jair Bolsonaro vem insuflando ataques à livros de esquerda, livrarias, escritores e editores dessa corrente ideológica.
Além disso, lutam por iniciativas como “Escola Sem Partido” e perseguem o pensamento crítico com as formulações de Olavo de Carvalho, como o “marxismo cultural”. No entanto, a resistência da esquerda, entre professores, artistas, cientistas e jovens são demonstrações de indignação para enfrentar os neofascistas e defender o pensamento crítico.
O livrinho vermelho, escrito há 172 anos por Marx e Engels, foi redigido na forma de manifesto para dar voz a um sujeito político que entrou pela primeira vez na história organizado como classe social em 1848: o proletariado.
Florestan Fernandes, em Nós e o Marxismo, destaca que “a perspectiva do Manifesto do Partido Comunista é a que melhor permite explicar sociologicamente a formação e o desenvolvimento dos proletários como classe e a que melhor coloca objetivamente as tarefas políticas da classe trabalhadora na luta de classes”.
Você já ouviu falar na expressão “a história de todas as sociedades até agora tem sido a história das lutas de classe”? Essa frase do Manifesto do Partido Comunista consolida uma noção de processo histórico movido por contradições, muito conveniente para analisarmos a realidade atual.
Nem sempre a sociedade foi assim, do jeito que está, e nem sempre será. O capitalismo é uma forma histórica e transitória de organização social. A sociedade está em permanente tensão, disputa e luta ininterrupta “ora disfarçada, ora aberta, que termina sempre com a transformação revolucionária da sociedade inteira”, como destacaram os velhos comunistas na metade do século XIX.
“Tudo que é sólido desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e as pessoas são finalmente forçadas a encarar com serenidade sua posição social e suas relações recíprocas”. É dessa forma que Marx e Engels mostram no livro que o capitalismo não pode existir sem revolucionar constantemente os meios e as relações de produção.
A afirmação de mais de um século e meio parece nos deixar perplexos nos dias de hoje, diante de tantas transformações que o capitalismo produz na forma de viver, de se relacionar, produzir e consumir.
Nós do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social queremos jogar luz sobre um aspecto importante do Manifesto Comunista: a síntese entre a dimensão nacional da luta proletária e o internacionalismo.
Marx e Engels sustentam que “a luta do proletariado contra a burguesia – não pelo seu conteúdo, mas pela forma – é em primeira instância nacional. O proletariado de cada país tem que derrotar, antes de tudo, sua própria burguesia”.
Ao mesmo tempo, afirmam que “os trabalhadores não têm pátria. Não se lhes pode tomar uma coisa que não possuem”. Não há antagonismo numa luta de caráter nacional protagonizada pelo povo com a dimensão internacionalista dessa luta.
Essa ideia é cara às lutas por libertação nacional no Sul Global, que ressignificaram a solidariedade com os povos e o internacionalismo. A Organização de Solidariedade com os Povos da Ásia, África e América Latina (OSPAAAL) é um exemplo e se tornou uma referência desse processo.
“Os proletários não têm nada a perder além de seus próprios grilhões. Têm um mundo a conquistar. Proletários de todos os países, uni-vos!”
O dia de celebração da publicação do Manifesto de 1848 conclama uma mensagem de justiça, esperança e união a todos os que lutam pela transformação da sociedade.
Um espectro ronda esse carnaval. Na festa popular brasileira libere suas fantasias de um mundo sem exploração e opressão. Permita-se imaginar uma chuva de livros vermelhos caindo do céu em meio aos confetes e serpentinas. Se isso não acontecer neste 21 de fevereiro, seja você o portador dessas ideias!
* Olivia Carolino Pires e Luiz Felipe Albuquerque são pesquisadores do Instituto Tricontinental de Pesquisa.
Fonte: Brasil de Fato