Por MTD – Movimento de Trabalhadores e Trabalhadoras por Direitos
Ao trabalhador que corre atrás do pão. É humilhação demais que não cabe nesse refrão” (Convoque seu buda – Criolo)
A formação da classe trabalhadora no Brasil é intrínseca ao modo de produção escravista colonial brasileiro, marcado pela dominação, exploração e racismo. Cabe citar também o colonialismo que se manifesta no modelo econômico dependente, nas formas políticas de dominação da classe e no campo da cultura.
Todos esses elementos contribuem para a construção de uma ética degradante do trabalho manual pela classe dominante, sustentada pelas relações racistas que estabelecem o trabalho precário para os sujeitos escravizados naquele período. No entanto, como podemos notar atualmente, tal lógica ainda persiste.
As mudanças no mundo do trabalho nos últimos períodos não surgem na atualidade, elas são estruturais. A economia patinando, o desemprego em alta e a crescente informalidade são características de um processo histórico. A questão é: a precarização possui ciclos de aprofundamento nas crises do sistema capitalista e, atualmente, essa crise é mais forte, considerando que a precarização do trabalho é legitimada pelo Estado.
A reforma trabalhista e a lei da terceirização são os maiores símbolos do golpe contra a democracia brasileira em 2016. A legalização do trabalho intermitente, a terceirização irrestrita e o parcelamento das férias visam jogar todo peso da crise econômica nas costas dos trabalhadores e trabalhadoras. Na prática, a terceirização impõe a redução do custo de trabalho com a piora generalizada das condições e das relações de trabalho.
O Governo Bolsonaro, que defende a radicalização do receituário neoliberal da gestão Temer, apresentou ao Congresso Nacional a “Carteira Verde e Amarela” visando precarizar ainda mais as relações trabalhistas, principalmente em relação à juventude.
As novas condições colocadas no mundo do trabalho colocam o desafio para a esquerda de repensar as formas organizativas e os novos sujeitos da classe trabalhadora.
Os trabalhadores no atual momento histórico estão colocados em trabalhos informais e altamente precarizados, principalmente no ramo de serviços. Analisar com uma lupa quem são esses trabalhadores é urgente e, nesse sentido, a questão negra não resolvida desde a abolição ganha relevância. A população negra representa 54,9% da força de trabalho, 64,2% dos desocupados, 66,1% dos subutilizados e 45,3 % dos postos com menos remuneração.
A nova classe trabalhadora que está no mercado informal e precário se ocupa nos aplicativos de serviços. Esses sujeitos desempregados, com dificuldade para se inserir no mercado de trabalho, diante da crise econômica e alta taxa de desemprego, são majoritariamente negros. A luta por melhores condições de trabalho e salário é uma luta de caráter antirracista.
Os problemas e soluções da classe trabalhadora brasileira passam pelo debate dos desafios da população negra, são condições inerentes para construirmos força social na nova classe trabalhadora.
A massa trabalhadora negra está em sua grande maioria dentro das periferias dos centros urbanos. O crescimento dos slams e saraus de poesia nesses territórios apontam que a cultura e a arte são formas de dialogar com esses sujeitos. A periferia é o atual chão de fábrica dos anos 80, retomar o trabalho de base, ouvindo as indignações e anseios das pessoas é a grande tarefa da esquerda. Mãos à obra, companheiros e companheiras!
MTD – Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos
Fonte: Brasil de Fato