Por Cláudia Farinha *
O Distrito Federal já registra só nos primeiros dias deste ano, seis casos de assassinatos de mulheres, sendo, cinco feminicídios – que é o crime de homicídio de mulheres pelo simples fato de serem mulheres – e um transfeminicídio – que se caracteriza como uma intenção sistemática e disseminada de eliminar pessoas trans, por motivo de ódio e nojo às mesmas. Portanto, são casos em que os alvos considerados como vítimas de homofobia.
Sim, em 2020, seis pessoas já foram alvo do machismo e da violência masculina, fato assombroso, que vem impactando a opinião pública e que, sabemos, tem seus sustentáculos na cultura patriarcal, que é a dominação masculina.
Vamos a estes casos:
– No dia 06 de janeiro deste ano, tivemos o primeiro caso de feminicídio. Foi a jovem Larissa, de 23 anos, assassinada por esganadura e golpes na cabeça. O corpo dela foi encontrado nu no altar de uma igreja evangélica, em Candangolândia, bairro de Brasília. O autor do crime: Um jovem de 20 anos, casado que mantinha um relacionamento com a vítima.
– Dias depois, em 14 de janeiro, três mulheres foram vítimas fatais do machismo. Pela manhã, Gabrielly, 18 anos, morreu com um tiro na cabeça, desferido pelo namorado dela, Leonardo. No fim da tarde, Edna, de 40 anos, foi esfaqueada na porta de casa pelo ex-namorado. E, no início da noite, Ruth Paulina, de 42 anos, foi esfaqueada na cozinha da casa do pai dela, pelo marido.
– Na sequência, Ana Clara Lima, transsexual conhecida como Júlia, morreu esfaqueada. O autor do crime é conhecido como “Coruja”.
– No dia 21 de janeiro, Fátima Bispo, de 31 anos, foi encontrada morta em seu apartamento, para onde houvera se mudado, depois da separação. Atevaldo, seu ex-marido, cometeu suicídio, o que leva à conclusão de ser o culpado do assassinato da ex.
O que essas mulheres tinham em comum? Quais eram seus sonhos para o novo ano? Não tive contanto físico com nenhuma delas, mas posso afirmar que todas tiveram seus sonhos interrompidos, deixando famílias órfãs de seus sorrisos e de suas presenças, sendo vítimas de violência. TODAS!
O pior de tudo é que esse tempo maldito para as mulheres, não vai parar por aqui. Para nosso desalento, uma fila imensa de mulheres e transsexuais continua sendo alvo da violência que vem ocorrendo, nos últimos tempos, contra todas nós, sem que praticamente nada seja feito para frear a marcha maldita dos horrores e assassinatos que estão a ceifar nossas vidas.
Sim, dói saber que muitas de nós ainda seremos vítimas. Mas eu acredito com todo o meu ser, que o feminismo está mexendo com este patriarcado cruel. Já percebemos que a força desta cultura já começa a se dissolver, ainda que bem devagar. Decerto que, muitas mulheres ainda não compreendem a necessidade do feminismo. Por isso, entendo que a nossa luta é necessária. Que precisamos cada vez mais unirmos forças contra a violência que nos mata todos os dias. Não podemos ignorar as estatísticas que só crescem!
Chega! Larissa, Gabrielly, Edna, Ruth, Fátima e Ana Clara, nos perdoem por não termos conseguido, ainda acabar com essa cultura machista, insana e abominável!
Jamais esqueceremos das mulheres que foram estupradas, assediadas em transportes coletivos e mortas pelo latifúndio, o aborto ilegal, por serem mulheres trans. Acreditem! Não iremos esquecer! Mesmo que o Estado brasileiro se mantenha de costas para nossas demandas, continuaremos firmes na luta, por justiça, igualdade e direitos.
Sinto muito por esse começo de 2020. Todas vocês eram muitos jovens! Cheias de alegrias, belezas, vontades, planos e sonhos! De nossa parte, continuaremos aqui, lutando para que os sonhos de outras mulheres não sejam mais interrompidos pela força tangível do patriarcado.
Resistiremos, porque somos mulheres que acreditamos que nada permanecerá eternamente. E saibam vocês, que, nesta luta, já contamos com bons aliados e aliadas!
• Cláudia Farinha é Bacharela em Direito, agricultora familiar, feminista, militante do PT/DF e da reforma agrária.
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