Deltan Dallagnol manipulou opinião pública ao mudar data da acusação sobre sítio para tirar foco de escândalo Temer-Joesley e acobertar pecados de colegas procuradores
O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, integrante da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, afirmou em mensagens trocadas com sua equipe que a denúncia contra Lula no caso do sítio de Atibaia (SP) poderia distrair a atenção da opinião do público do escândalo envolvendo o empresário Joesley Batista, o ex-presidente Michel Temer e integrantes da categoria, procuradores do Ministério Público Federal (MPF). A revelação está em novo episódio da Vaza Jato publicado hoje (14) pelo The Intercept Brasil, em reportagem de Rafael Neves.
De acordo com a reportagem, o processo do sítio estava pronto para ser apresentado em 17 de maio de 2017. Foi nesse dia que jornal O Globo divulgou gravação de conversa entre Joesley e Temer feita pelo próprio empresário, dono da JBS. O áudio mostrava Temer dando suposto aval a Joesley para que mantivesse pagamento de propina ao ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB) de modo a comprar seu silêncio.
A notícia-bomba parou Brasília. Mas ganhou destaque a hipótese levantada por Temer de que a gravação teria sido editada – a gravação foi entregue pelo empresário ao procurador-geral Rodrigo Janot, dando início a um processo de delação do dono da JBS. Deltan Dallagnol, então, adiou a divulgação da acusação contra Lula, prevista para o dia seguinte. E quando a hipótese de manipulação por parte do Ministério Público estava em alta, Dallagnol soltou a nova ofensiva contra o ex-presidente cinco dias depois, em 22 de maio.
Os procuradores estavam preocupados com a imagem da Lava Jato, uma vez que a denúncia de Joesley punha em xeque a credibilidade de um membor do MPF. Isso porque o ex-procurador Marcello Miller, braço-direito de Rodrigo Janot havia recebido “honorário” de R$ 700 mil da JBS, por meio do escritório de advocacia Trench Rossi Watanabe, para orientar o acordo de leniência da empresa na delação.
O procurador Athayde Costa considerava que o Ministério Público estava “perdendo a guerra da comunicação” no caso da JBS. Concordando, Dallagnol angustiava-se com o silêncio de Janot, que não havia se manifestado publicamente desde a revelação de O Globo. Um trecho do diálogo entre os dois no Telegram mostra que Dallagnol tentou orientar o procurador-geral da República sobre como abafar a crise.
Acompanhe a sequência de mensagens publicadas pelo Intercept a leia aqui a reportagem completa.
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