Ataques ao jornalista Glenn Greenwald durante entrevista ao programa Roda Viva foram um exemplo “deplorável do momento perigoso que o Brasil atravessa”, avalia o senador Jaques Wagner (PT-BA)
Os ataques de representantes da grande imprensa ao jornalista Glenn Greenwald durante entrevista ao programa Roda Viva foram um exemplo “deplorável do momento perigoso que o Brasil atravessa”, avalia o senador Jaques Wagner (PT-BA).
Ele lamentou que o mesmo jornalismo que já se “locupletou com vazamentos seletivos” da Lava Jato tenha preferido colocar em xeque premissas tão caras à profissão, como o sigilo da fonte, em lugar de ajudar a esclarecer os bastidores da operação, revelados pela apuração liderada por Greenwald no site noticioso The Intercept Brasil.
Não divulgar a origem de uma informação, a preservação do sigilo da fonte, é uma garantia ao exercício do jornalismo conferido pela Constituição Federal (artigo 5º, inciso XIV).
Algozes da imprensa
Na noite da última segunda-feira (2), Greenwald foi o entrevistado do programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo sobre a série de reportagens chamada de “Vaza Jato” — a denúncia dos intestinos da operação Lava Jato descoberta a partir de mensagens trocadas pelo aplicativo Telegram por integrantes da força tarefa, com a participação do julgador dos processos, o então juiz Sergio Moro.
Durante a transmissão, o programa esteve entre os dez assuntos mais comentados na rede social Twitter (os chamados trending topics), com destaque para a indignação de grande parte do público com o tratamento dispensado a Greenwald pelos entrevistadores — jornalistas de O Globo, Valor, Portal Metrópoles, Jota e Correio Braziliense — e até mesmo pela âncora do Roda Viva.
Vazamentos seletivos
“Aqueles que deveriam se orgulhar de uma realização jornalística brilhante acabam se colocando como algozes do trabalho da imprensa, provavelmente pelo seu comprometimento com coisas erradas feitas durante esse processo. É realmente deplorável”, lamentou Wagner.
Na 18ª reportagem da série “Vaza Jato”, publicada em 29 de agosto, o Intercept mostra o papel desempenhado pela imprensa comercial na intimidação de investigados pela Lava Jato para coagi-los a recorrer às delações premiadas.
Nas conversas pelo Telegram, os integrantes da operação falavam abertamente que tinham “controle da mídia de perto“ e da proteção a veículos envolvidos nas irregularidades que apuravam. Os entrevistadores do Roda Viva expressaram mais interesse em desqualificar as informações, por serem provenientes de uma fonte mantida em sigilo, do que em debater o conteúdo das reportagens do Intercept.
Auto sabotagem
Para o senador Jean Paul Prates (PT-RN), quando a grande imprensa escolhe explicitamente um lado da história ela está não só fragilizando a democracia, mas também praticando a auto sabotagem, prejudicando a credibilidade e até mesmo a sobrevivência desses empreendimentos.
Prates cita a crise enfrentada por vários desses veículos — muitos deles já absorvidos por bancos, igrejas evangélicas ou grandes grupos, como os de planos de saúde — como exemplo do equívoco dessa estratégia.
Sobrevivência ameaçada
“As grandes empresas jornalísticas estão sendo atacadas como negócio”. O senador lembra a recente edição da Medida Provisória 892, que alterou a Lei das Sociedades Anônimas acabando com a obrigatoriedade da publicação de balanços de empresas e outros atos societários em jornais e diários oficiais.
“Essa MP fere de morte vários desses grandes veículos e ela não foi publicada apenas com o interesse de desburocratizar”, ressalta Prates. A ironia, aponta o senador, é que serão justamente os parlamentares do campo progressista, tão atacado pelo partidarismo da grande imprensa, que tentarão alterar a MP 892 para torna-la menos draconiana.
+ There are no comments
Add yours