Há mais de 40 anos, o paulistano Michael Löwy vive na França. Foi em solo europeu que consagrou-se como um dos intelectuais marxistas mais conhecidos e respeitados no mundo. Ao longo das décadas, Löwy, hoje aos 81 anos, tornou-se uma referência nos debates da esquerda não apenas brasileira, como também latino-americana.
Na virada para a primeira década dos anos 2000, um novo tema passou a figurar atrelado ao seu nome. O sociólogo tornou-se mundialmente conhecido pelos estudos da perspectiva ecossocialista, defendendo a urgência do debate ecológico pelo campo marxista.
Michael Löwy atendeu a reportagem do Brasil de Fato para falar sobre o novo lançamento da Editora Expressão Popular, o livro Notícias de Lugar Nenhum. A introdução da obra é assinada por ele.
Durante a conversa, o pensador marxista também se propôs a analisar temas do cenário político-social brasileiro e global.
O avanço da extrema direita no Brasil, as semelhanças com os governos fascistas europeus no século 20, o desmonte da política ambiental no governo de Jair Bolsonaro e a resistência política foram alguns dos temas elucidados por Löwy. Frente a um cenário classificado por ele como “ressurgimento de formas neofascistas ou semifascistas”, o sociólogo afirma que a esperança está na juventude.
Brasil de Fato: O que há de comum entre o avanço da direita na Europa e na América Latina?
Michael Löwy: A globalização liberal e a crise econômica, que ela provocou a partir de 2008, criaram um contexto que foi favorável a esse ascenso espetacular não só da direita clássica neoliberal, mas também da extrema direita semifascista, com rasgos racistas, autoritários em muitos países do mundo. Isso vai do Japão à Índia, boa parte da Europa, Estados Unidos e Brasil.
Não tenho uma explicação do porquê isso está acontecendo. Tenho vários elementos: a crise do neoliberalismo é um aspecto, o enfraquecimento da esquerda é outro. Mas, para mim, ainda é um enigma o porquê de, justamente nesses últimos anos, a gente estar assistindo a esse fenômeno, que não é exatamente a volta dos anos 1930, porque a história nunca se repete, mas é o ressurgimento de formas neofascistas ou semifascistas.
Brasil de Fato: Sobre esperança, o senhor vê alguma saída? Qual seria?
Michael Löwy: A saída para mim são as lutas e a resistência. Aqui na América Latina, em primeira linha, estão os indígenas e os camponeses. Outro elemento que nos dá esperança é a juventude. A juventude que, no mundo inteiro, está se mobilizando em 20 de setembro para uma grande greve geral internacional sobre a questão da mudança climática, contra os governos que não estão tomando nenhuma providência.
Sabemos que a juventude é o futuro. Se a juventude está se mobilizando, está lutando, tomando consciência e levantando a parada de ordem “Mudemos o sistema e não o clima”, então existe esperança.
Confira a entrevista na íntegra.
Por Brasil de Fato
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