A pescadora Lilane Rosa Coelho saiu segunda-feira (12), às 6h40 da manhã do sul da Bahia, em Canavieiras, e chegou na capital federal na tarde desta terça-feira (13). Mais de 30 horas de viagem não fez acabar com a determinação e disposição de luta que Lilane trouxe no olhar. Ela não pestanejou ao dizer o porquê veio à Brasília. “Vim para o protesto das margaridas reivindicar nossos direitos”, afirmou.
Lilane conta que a vida de pescador no Brasil tá cada dia mais difícil e que é preciso garantir minimamente políticas públicas para manter viva a categoria. “A gente não está mais recebendo Seguro-Defeso e isso está fazendo com que as necessidades do nosso povo só aumente”, disse Lilane se referindo ao benefício destinado aos profissionais que ficam impossibilitadas de trabalhar no período de defeso, meses em que a pesca para fins comerciais é proibida devido a reprodução dos peixes.
A agricultora familiar, Francisca da Silva, que veio de Alto da Parnaiba, no Maranhão, contou que há quatro anos está construindo a Marcha das Margaridas no seu município com esperança de um mundo melhor para as trabalhadoras. Segundo ela, a violência contra a mulher e o feminicidio são realidades que só aumentam no país, principalmente com as mulheres do campo e “não é só isso” diz ela.
“A reforma agrária e as políticas para as camponesas estão paradas com este governo e estamos aqui para denunciar estes ataques contra quem produz alimentos saudáveis para a população”, afirmou Francisca se referindo aos dados da extinta Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead) que mostram que 70% dos alimentos que chegam nas mesas do povo brasileiro são da agricultura familiar.
“Viemos em busca de melhorias para nosso povo, que só quer saúde, educação, trabalho e casa dignas. As margaridas vão florir Brasília e semear a esperança de milhares de mulheres que não puderam estar aqui”, finalizou Francisca.
Dentro e fora do Pavilhão do Parque da cidade está lotado de barracas e de colchões. As milhares de margaridas estão dormindo no mesmo espaço das atividades da Marcha. Num canto as mulheres ensaiam batucadas e músicas, fazem faixas, distribuem bonés e camisetas de várias entidades.
A jovem camponesa de 21 anos que veio de Alagoa da Roça em Pernambuco, Gabriela Fernandes, disse que veio se juntar a estas mulheres guerreiras para construir um mundo melhor. Gabriela disse que a principal preocupação dela é com o êxodo rural e que é preciso políticas públicas para que a juventude permaneça no campo.
“Muitos filhos e filhas dos agricultores familiares sem expectativas de melhoras no campo acham que nas cidades farão um futuro melhor e não é isso. O futuro melhor será no campo, continuando a vida de seus familiares e produzindo alimentos para a classe trabalhadora”, disse Gabriela. Segundo ela, as mulheres rurais que estão em Brasília também lutam por políticas públicas que deem estrutura política e econômica para que a juventude camponesa permaneça no campo.
A agricultora urbana de Pernambuco, Marinalva da Costa, estava assistindo aos debates direto de seu colchão no centro do pavilhão. Ela contou que trabalha e produz numa horta urbana para as 430 famílias da região onde mora.
“Foram dois dias de viagem para lutar por uma vida melhor e aqui a gente encontra outras companheiras de luta que vieram com o mesmo objetivo. Cada encontro nos dá mais força para continuar lutando contra a opressão, a discriminação e o preconceito”, disse Marinalva que completou: “agora vai melhorar, é muita mulher junta para lutar por direitos e dignidade”.
Nesta quarta-feira (14) as mulheres do campo, da cidade, das águas e das Florestas irão participar da 6º Marcha das Margaridas em Brasília a partir das 06h da manhã. Depois o ato de encerramento da marcha, em frente ao Congresso Nacional, as mulheres vão se preparar para deixar a cidade e seguir rumo às suas cidades com muita história e esperança.
Fonte: CUT Nacional, por Erica Aragão
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