A mando do chefe do Palácio do Buriti, agentes da antiga Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis), acompanhados pela Política Militar, realizaram operação demolitória nesta sexta-feira (31) na Vila do Boa, em São Sebastião-DF. A operação teve início por volta das dez horas da manhã.
A missão dada aos fiscais era a de tratorar as casas das famílias que vivem na área. Não bastasse o terror de verem as construções sendo demolidas, inclusive com pessoas dentro de casa, moradores assistiram aterrorizados aos policiais militares usarem da força contra aqueles e aquelas que questionavam a operação e tentavam de algum modo defender suas moradias, sua dignidade.
“Eles chegaram com os tratores derrubando tudo. Não pouparam nem mesmo a casa de uma mulher que estava com uma criança lá dentro, não se importaram com a situação e ainda disseram que ela não morava lá e que iam derrubar de qualquer jeito, mesmo sem notificação. Todos nós aqui sabemos que ela morava lá, sim. É de uma profunda desumanidade o que esse governo está fazendo com a gente”, denuncia uma moradora que preferiu não se identificar.
“As pessoas aqui só querem ter o direito à moradia. Agora, eu queria muito que esse governador tivesse a coragem de vir aqui olhar olho no olho de cada um de nós para dizer que não podemos ficar aqui. Logo ele, que na campanha prometeu regularizar toda essa área e agora manda derrubar nossos barracos?”, questionou Luciano, parente de um dos moradores que teve a casa demolida e os móveis largados na beira da pista.
Várias agressões gratuitas foram cometidas contra a população. Um policial atacou uma moradora covardemente pelas costas e desferiu golpes de cassetete contra ela. Com muita violência, o mesmo policial ainda chutou a mão da mulher, que teve o dedo quebrado. Além disso, ela recebeu ameaças por parte do agente.
“Foi de uma violência tremenda. O policial me agrediu, me deu uma pancada nas costas e quebrou o meu dedo. Eu não estava fazendo nada de errado, apenas defendendo a minha casa. Ele ainda me ameaçou e disse que se eu não me calasse iria me bater ainda mais”, relata a moradora, a qual após toda agressão se dirigiu para dentro de casa, mas foi arrancada pelos policiais e levada algemada para a delegacia.
Também acompanhava a situação um servidor da Secretaria de Educação, que também foi agredido fisicamente e levado para a delegacia por suposto desacato. O servidor apenas registrava com o celular toda a ação da polícia, mas foi surpreendido pelos policiais.
Como forma de resistência, a comunidade fez uma barricada na pista que liga a Vila do Boa ao centro de São Sebastião. Sem oferecer qualquer espaço para o diálogo, a polícia imediatamente começou a usar gás de pimenta contra os comunitários para forçá-los a liberar a estrada, atingindo até mesmo pessoas que acompanhavam o desenrrolar da ação para registrar as possíveis violações aos direitos das famílias, como foi o caso do assessor parlamentar Francisco Neri, morador da cidade e colaborador do mandato da deputada federal Erika Kokay (PT-DF).
“A ação violenta da polícia foi muito rápida. Eu apenas acompanhava de perto a operação quando fui atingido por um jato de gás de pimenta nos olhos. Não lamento por mim, mas pelas pessoas que ali estavam. Eu gostaria de saber qual é o crime dessas pessoas. Será que defender o direito à moradia é crime neste país? Só se for na concepção desse governo que aí está. Para nós não é crime, é dignidade. Lamento muito pela atuação vergonhosa e covarde de alguns agentes da polícia militar de terem atacado as pessoas dessa forma, sem estabelecer qualquer diálogo, preferindo usar a força para agredir gratuitamente a população”.
Com muita falta de ar e praticamente desmaiado, Neri foi levado às pressas por um morador para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA).
Por meio de vídeo, a deputada Erika Kokay repudiou a ação do GDF e cobrou providências do Executivo para apresentar respostas sobre o processo de regularização da Vila do Boa.
“Estamos indignados com tamanha truculência deste governo. O governador precisa tomar providências para assegurar a regularização da área. Ao invés de responder com gás de pimenta e truculência contra o povo, Ibaneis deve dá respostas objetivas sobre a demanda por moradia na região. Há que ser ter coerência, já que ele disse que iria olhar para a necessidade de moradia do povo”.
Para que não caia no esquecimento da população, especialmente daqueles que elegeram Ibaneis, é bom lembrar que o governador ganhou a eleição com o discurso de que iria reconstruir com recursos do próprio bolso as casas da população pobre que tivessem sido destruídas pela então Agefis, conforme vídeo e matéria do jornal Correio Braziliense, de 02/10/2018.
Contradição à parte, com essa ação de derrubada em São Sebastião e que tem previsão para ser retomada nas próximas semanas, Ibaneis age de forma irresponsável ao passar por cima da palavra dada aos moradores da cidade e de todo o DF. Além disso, destrói casas e sonhos dos mais humildes, negando-lhes assim a conquista do direito básico à moradia e à dignidade. Que ninguém se engane com o Enganeis.
Confira a fala da deputada com a denúncia de truculência:
Com informações da Assessoria Parlamentar
+ There are no comments
Add yours