O educador da Escola Centro-Oeste de Formação Sindical – Apolônio de Carvalho, Cesar Augusto, lembrou a 4ª revolução industrial, que traz renovação massiva de tecnologia/mercado e tem causado mudanças sem dimensão no mundo do trabalho. Neste processo, a classe trabalhadora vem sofrendo sérios prejuízos.
“As relações de trabalho estão mudando frente ao ultraliberalismo e, muitas vezes, deixamos de fazer debates importantes para enfrentar essa conjuntura. Temos que fazer debates e mais debates sobre isso; temos que nos preparar enquanto organização sindical, com a construção de um processo formativo da classe trabalhadora”, disse.
Para Cesar Augusto, o “grande desafio é consolidar a concepção política enquanto CUT”, pavimentada na liberdade e autonomia; na democracia; organizada pelas bases; unitária na ação; de massa; e autossustentável.
Já o presidente da CUT Brasília, Rodrigo Britto, avalia que o processo de formação de forma isolada não é suficiente para fazer a transformação social. “Temos que atuar, enquanto dirigentes e organizações sindicais, com o tripé composto pela formação, comunicação e trabalho de base. Esse tripé é essencial e é algo que tem necessidade de ser fortalecido”, orientou.
Ele ainda alerta que é necessário “extrapolar as atividades sindicais”. “A conjuntura nos cobra ousadia e coragem para dialogar com todas e todos, seja no baile funk, na igreja, nos bares, nos lares… em todos os lugares. Temos que sair da zona de acomodação e, muitas vezes, de medo, e fazer esse diálogo”, convoca Britto.
O dirigente lembra que a classe trabalhadora do Brasil está se preparando para uma greve geral, que deve ser realizada em maio deste ano. O movimento paredista traz consigo seis eixos: valorização do serviço público como garantia da cidadania plena; soberania nacional e combate à privatização; reforma agrária e garantia das terras indígenas e quilombolas; o direito ao emprego e à renda; a defesa dos direitos, incluindo o direito à aposentadoria; e a defesa da democracia e dos direitos humanos.
“Temos que trazer a necessidade de luta de todos esses pontos para a realidade da classe trabalhadora. Todos os eixos da greve geral são de interesse de todas as trabalhadoras e trabalhadores. E é isso que a gente tem que explicar para cada um e cada uma. Se não for por este caminho, não conseguiremos construir a greve geral”, avalia Rodrigo Britto.
Formação, comunicação e trabalho de base
“O sindicato é uma forma de organizar a classe trabalhadora. Ninguém sozinho consegue mover montanhas”, avalia a secretária de Formação da CUT Brasília, Nilza Cristina. Ela conta que, mesmo com todo o ataque financeiro sobre o movimento sindical, o governo não tem conseguido brecar as mobilizações.
“Hoje, com todos os retrocessos que vieram, a gente tem uma nova lógica no mundo do trabalho. Em 2016, com a PEC 95, do congelamento dos gastos; em 2017 com a reforma trabalhista; a tentativa da reforma da Previdência em 2018, e ela volta muito fortemente agora. Nem isso vai enfraquecer a luta, porque cada trabalhador e cada trabalhadora, com essa volta às bases, com esse diálogo franco, tem entendido a necessidade de se organizar e de lutar”, reforça a sindicalista.
Para a secretária de Formação do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF), Luciana Custódio, ainda estamos distantes do ideal. Ao socializar as experiências de formação de sua entidade sindical, Luciana alertou que a qualificação tem sido preterida na construção das estratégias sindicais e que isso reflete drasticamente na base. Segundo ela, esse é o momento do movimento sindical avaliar se a dificuldade de mobilização observada nas ruas, e a resistência encontrada na construção do sentimento de pertencimento entre os trabalhadores, são frutos da nossa postura enquanto dirigente.
“Os sindicatos não querem investir em formação e, quando o fazem, não envolvem a classe trabalhadora. A informação não chega à ponta. A gente vive nos espaços de qualificação falando para nós mesmos. Precisamos ampliar isso”, avaliou.
Para Luciana, nesse momento pós-golpe, ultrareacionário, é preciso qualificar os dirigentes para fazer a disputa nos locais de trabalho. Diante das diversas dificuldades impostas pela atual conjuntura, a sindicalista apresenta a frase do educador Paulo Freire: “Num país como o Brasil, manter a esperança viva já é, em si, um ato revolucionário”.
Como solução, a educadora sugere que os sindicatos que tenham condições de promover formação, ampliem isso e envolvam outros sindicatos, para que esses também se qualifiquem. “Com solidariedade de classe, a formação cumprirá o seu papel e fortalecerá as nossas trincheiras”, disse.
Pelo direito à aposentadoria
Como não poderia ficar de fora de qualquer discussão atual, a proposta de reforma da Previdência do presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro também foi tema do 4º Congresso de Formação da CUT Brasília. Quem tratou da matéria foi o assessor jurídico do PT no Senado, Marcos Rogério, que falou da necessidade de apropriação do debate contra a medida que retira vários direitos, inclusive o da aposentadoria. Segundo ele, se por um lado a mídia faz um trabalho massivo de convencimento de que a proposta é necessária e benéfica, em contraponto, precisamos qualificar nossos dirigentes com argumentos para desconstruir essa mentira nas bases sindicais.
“Todas as vezes que conversamos com um trabalhador e explicamos o prejuízo da reforma, fazemos os cálculos e mostramos o que ele tem a perder, imediatamente ele rejeita a proposta de reforma da Previdência. Diz que não aceita e que está disposto a lutar para que ela não seja aprovada. É isso que está faltando. A disposição de estarmos nos postos de trabalho esclarecendo as dúvidas dos trabalhadores e desconstruindo a aprovação popular a essa nefasta medida”, garante o assessor.
Ele ainda reforça que o sistema de Seguridade Social é uma grande conquista da Constituição de 1988. Não foi nos dado, foi construído através de muita luta. “Ao se falar de reforma da Previdência, o que está em risco não são só as aposentadorias, mas todos os direitos dos trabalhadores terem uma vida digna do momento que nasce ao que morre”, alertou.
Segundo Rogério, todo governo faz ajustes na Previdência, pois a expectativa de vida aumenta na medida em que melhora a qualidade de vida da população. “O que não podemos permitir é que, com a desculpa de uma necessidade de ajuste, haja a destruição do sistema previdenciário. Pois o que está sendo proposto é o avesso de melhoria”, esclarece o assessor.
4ª Conferência Nacional de Formação
A 4ª Conferência Nacional de Formação da CUT será realizada de 27 a 31 de maio, em Belo Horizonte (MG). Precedida de conferências estaduais, o objetivo da atividade é debater a nova política nacional de formação da CUT frente aos desafios, para fortalecer o projeto político-organizativo cutista.
Para a etapa nacional, o Distrito Federal levará as 11 delegadas e delegados que foram eleitos ao final da conferência estadual.
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