Em 60 dias, Executivo flexibilizou a posse de armas, tentou promover doutrinação em escolas, apresentou projeto anticrime condenado pela OAB e desmoralizou diplomacia brasileira
A flexibilização das armas se insere no contexto do Projeto de Lei Anticrime, apresentado pelo juiz Sergio Moro. A proposta é condenada por advogados e operadores do direito, já que seu efeito deve ser o aumento da violência e do encarceramento.
Enquanto se passaram os primeiros 60 dias de Bolsonaro, seus ministros protagonizaram episódios que poderiam ser cômicos, se não representassem uma realidade preocupante ou trágica.
A ministra da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, por exemplo, brindou os amantes da comédia e dos memes de redes sociais com preciosa pérola logo ao tomar posse, quando disse: “É uma nova era no Brasil: menino veste azul e menina veste rosa”, afirmou a ministra.
Mas não se trata de comédia. As declarações dos membros do governo brasileiro não causam perplexidade apenas pela retórica, mas pelos efeitos concretos que podem acarretar, como alimentar a intolerância já altíssima, por exemplo.
No Brasil de hoje, um deputado federal eleito, Jean Wyllys (Psol), optou por deixar o país por justificado medo de perder a própria vida, como perdeu a vereadora Marielle Franco, do Psol, barbaramente assassinada em março de 2018, um caso ainda não explicado pelas autoridades.
Relações exteriores e educação
Nas relações exteriores, as coisas não são diferentes. Depois de acenar com o afastamento da China, prometer transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém e ameaçar detonar o Mercosul, o Brasil do ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo entra de cabeça na estratégia dos Estados Unidos de minar, se possível à força, o governo de Nicolás Maduro na Venezuela.
Não se sabe se a promessa a Israel ou a ameaça ao Mercosul se cumprirão, já que esse governo se notabiliza por frequentemente voltar atrás de promessas e ameaças.
Quanto à Venezuela, o Brasil de Araújo e Bolsonaro tenta cumprir as determinações explicitadas por um presidente acostumado a bater continência aos norte-americanos, participando do “esforço de ajuda humanitária” ao povo venezuelano.
Araújo recebeu o autoproclamado presidente venezuelano Juan Guaidó na noite dessa quinta-feira (28), em Brasília, para um jantar. Antes, nesta mesma quinta, o chefe do Itamaraty prometeu manter “apoio irreversível e incondicional à libertação” da Venezuela.
A postura diplomática do Brasil tem provocado perplexidade entre diplomatas e analistas. “É algo inédito. Não existe na história do Brasil nada parecido. Não existe nada parecido em nenhum país do mundo”, disse, por exemplo, o embaixador e ex-secretário geral do Itamaraty Samuel Pinheiro Guimarães à RBA há um mês.
A perplexidade chegou ao ponto de o prêmio Nobel de Economia em 2013, Robert Shiller, afirmar em Davos: “Ele (Bolsonaro) me dá medo. O Brasil é um grande país e merece algo melhor”.
E na Educação, outra pasta que qualquer democracia séria do mundo trata como estratégica, no atual governo virou motivo de piada. Comandado pelo colombiano naturalizado brasileiro Ricardo Velez Rodriguez, o ministério foi o protagonista do último vai-e-vem do governo.
Depois de “pedir” às escolas, por meio de carta do MEC, que obrigassem as crianças a cantar o Hino Nacional e repetissem o slogan da campanha “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, o que provocou indignação e reação de professores, escolas públicas e privadas no país inteiro, Vélez Rodriguez voltou atrás. “Eu percebi o erro e tirei essa frase”, disse o ministro à imprensa.
Mas, como no caso dos outros ministérios, as consequências provocadas por um governo que prega a “ escola sem partido” podem ser insuperáveis em décadas.
Por Rede Brasil Atual
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