“Não podemos servir de instrumento para algo que não nos diz respeito”, pondera o senador Jaques Wagner (PT-BA); “Está bem claro que o Brasil não tem nada a ganhar em um conflito com a Venezuela”, reforça o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).
A hostilidade do governo Bolsonaro à Venezuela está custando ao Brasil um parceiro comercial que, entre 2003 e 2017, importou US$ 49,06 bilhões em produtos brasileiros. Essas operações resultaram em um superávit de US$ 39,34 bilhões.
Essa é apenas uma das consequências da opção de Bolsonaro por submeter o País aos desígnios dos Estados Unidos — outro resultado, ainda mais assustador, é colocar o Brasil na iminência de uma guerra.
“Não podemos servir de instrumento para algo que não nos diz respeito”, pondera o senador Jaques Wagner (PT-BA), ex-ministro da Defesa do governo Dilma e hoje integrante da Comissão de Relações Exteriores do Senado.
“Está bem claro que o Brasil não tem nada a ganhar em um conflito com a Venezuela. Já os Estados Unidos [que estão insuflando a tensão nas nossas fronteiras] só têm vantagens, que é retomar o controle sobre o petróleo venezuelano”, diz o Senador Humberto Costa, líder da Bancada do PT no Senado.
Interesses do Brasil
Os senadores petistas ressaltam a importância de o Brasil observar sua longa tradição diplomática, respeitada no mundo inteiro, que é de prezar pela autodeterminação dos povos e atuar na busca da paz.
“Eu prefiro olhar para dentro e identificar os verdadeiros interesses do Brasil na relação com a Venezuela”, defende o senador. Ele lembra o expressivo saldo na balança comercial alcançado pelo País no comércio com os vizinhos, hoje praticamente zerado pela ideologização da diplomacia brasileira.
Geração de empregos
Em vez de entrar em uma guerra que não diz respeito ao Brasil, o País precisa normalizar sua relação comercial com a Venezuela. “Nós, brasileiros, já temos a nossa guerra social, a violência interna. Uma forma de mitigar isso é retomar a geração de empregos”, lembra Jaques Wagner.
A Venezuela praticamente só produz petróleo. Importa todo tipo de gêneros e poderia estar comprando esses produtos do Brasil. “Uma forma de mitigar nossa crise e gerar os empregos que precisamos”, aponta o senador baiano.
Desdém pela América do Sul
Desde que tomou posse, o governo Bolsonaro tem expressado profundo desdém pela política de integração da América do Sul, onde o Brasil se consolidava como um líder, para se colocar na condição de subalterno aos EUA.
Esse é um investimento equivocado, alerta Wagner. “Não podemos servir de instrumento para algo que não nos diz respeito”.
Diplomacia ideológica
O senador e ex-ministro da Defesa lamenta que o atual chanceler tenha escolhido fazer diplomacia ideológica. “Parece aquele soldado japonês que passou mais de 32 anos escondido na selva, sem saber que a II Guerra Mundial tinha acabado. O Muro de Berlim caiu há 30 anos e ainda tem gente tentando reviver a Guerra Fria entre nós?”, questiona Wagner.
A antipatia contra o “Mercosul ideológico”— modo pejorativo como a direita trata o investimento dos governos petistas na integração regional, como se o alinhamento automático a Tio Sam também não resultasse de uma opção política — já coloca em risco parcerias comerciais vantajosas ao Brasil.
Exportações de qualidade
Só entre 2007 e 2015, os parceiros do Mercosul (Bolívia e Venezuela incluídas) compraram mais de US$ 292 bilhões de produtos brasileiros.
Apenas entre 2017 e 2018, o Brasil exportou US$ 42,7 bilhões para os países do bloco, o que faz do Mercosul o terceiro maior comprador de produtos nacionais. No mesmo período, a China comprou US$ 311,9 bilhões — basicamente soja, aço e óleo cru. Os Estados Unidos compraram US$ 299,9 bilhões, quase tudo isso em petróleo.
O Brasil exportava de tudo para a Venezuela, desde alimentos até produtos industrializados de alto valor agregado, lembra Marcelo Zero.
A venda de produtos industrializados—que contribui para a geração de empregos mais qualificados, com carteira assinada e com melhor remuneração no Brasil—é o que predomina na pauta de exportações para a Venezuela e para os países do Mercosul em geral.
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