Para a ex-presidenta do INSS, Elisete Iwai, o projeto de previdência do governo Bolsonaro ignora completamente a realidade das trabalhadoras brasileiras
A proposta do governo Bolsonaro para a previdência, apesar de ainda estar em formulação, já sinaliza consequências terríveis para todos os trabalhadores, mas é ainda mais cruel para a vida das mulheres. O governo pretende adotar o modelo de capitalização e impor como idade mínima 65 anos para a aposentadoria de homens e mulheres.
Para a ex-presidenta do INSS durante o governo Dilma, Elisete Iwai, esse projeto de previdência é “nefasto para os trabalhadores e trabalhadoras que recebem os menores salários pois eles terão muita dificuldade de se aposentar” devido ao modelo de capitalização que funciona como uma espécie de poupança onde os próprios empregados ficam com a responsabilidade da contribuição.
No caso das mulheres é ainda pior, pois “sabemos que as mulheres, no geral, mesmo fazendo o mesmo trabalho que o homem tem salários menores, e esse modelo de previdência vai perpetuar a desigualdade, porque a mulher vai receber uma média do que ela contribuiu então ela vai contribuir com menos porque ela recebe menos, assim, a aposentadoria será menor”.
Segundo o IBGE, o salário médio pago as mulheres em 2017 foi 77,5% do recebido pelos homens no Brasil.
O modelo de previdência tem o mesmo regime de capitalização adotado no Chile na década de 80 e que após três décadas causou um estrago tão grande que atualmente os aposentados recebem valores extremamente baixos, como metade de um salário mínimo do país.
“Nesse modelo as empresas deixam de contribuir e o que esse trabalhador contribui é colocado numa espécie de poupança que os bancos vão gerir e em consequência vão ganhar com isso. Esse modelo privilegia o sistema financeiro”, afirma Elisete.
Estabelecer a idade mínima de aposentadoria de 65 anos para homens e mulheres é ignorar completamente a realidade da trabalhadora brasileira. Elisete explica que “a mulher já possui a responsabilidade do trabalho domiciliar e do cuidado dos filhos, aumentar a idade para se aposentar é o mesmo que dizer que ela tem que trabalhar mais porque está trabalhando pouco, o que seria uma grande piada de mau gosto”.
“A reforma proposta por Bolsonaro ignora todo o trabalho que a mulher tem fora do ambiente profissional, ela atua tanto no mercado de trabalho quanto no ambiente domiciliar, igualar a idade é dizer que, a partir de agora, homens e mulheres vão ter as mesmas responsabilidades e as mesmas atividades, só que isso não é verdade, as mulheres serão duplamente penalizadas com esse modelo de previdência”.
“O sistema previdenciário atual reconhece minimamente, quando estipula uma idade menor que dos homens para mulheres se aposentarem, o trabalho sobre-humano que elas exercem. Acabando isso mulheres viverão em uma situação de barbárie” finaliza Elisete.
Segundo um levantamento do PNAD, mulheres trabalham 8 horas a mais por semana do que os homens, ou seja, quando se aposentarem elas terão trabalhado 5,4 anos a mais.
Por Jéssica Rodrigues, para a Secretaria Nacional de Mulheres do PT
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