Embargo, boicote e fraude: como a direita age para destruir a Venezuela

O embargo estadunidense é uma peça decisiva na crise econômica que flagela o país sul-americano dono das maiores jazidas de petróleo do mundo

O endurecimento do embargo imposto pelos Estados Unidos à Venezuela amplia as nefastas consequências da perseguição empreendida pela superpotência ao país sul-americano — outrora sua “despensa de petróleo particular”. Para desestabilizar um governo que não é dócil a seus interesses, os EUA inviabilizam a vida de 32 milhões de venezuelanos.

É dos EUA a pressão que resulta, em diversas partes do mundo, em movimentos hostis à Venezuela — como a recusa do governo britânico em repatriar US$ 14 bilhões em reservas de ouro pertencentes ao país, atualmente depositadas no Banco da Inglaterra.

O embargo estadunidense é uma peça decisiva na crise econômica que flagela o país dono das maiores jazidas de petróleo do mundo — 300 bilhões de barris, ou 20% das reservas provadas de todo o planeta e que, até a ascensão de Hugo Chaves, em 1998, estavam inteiramente aos dispor da superpotência. Mas não é o único movimento hostil à autodeterminação venezuelana.

Direita doméstica faz sua parte
A ação dos EUA tem parceria para aprofundar os problemas econômicos e o desabastecimento na Venezuela. A direita doméstica também faz sua parte com afinco, sabotando a entrada de produtos, desviando gêneros alimentícios para o contrabando e estimulando um mercado clandestino com preços fora do controle.

A primeira grande ofensiva econômica da direita venezuelana contra o governo popular de Hugo Chávez foi o chamado paro petrolero, a suspensão das atividades da PDVSA, a estatal do petróleo da Venezuela cuja direção, à época, ainda estava nas mãos de representantes das oligarquias do país.

A paralisação do refino de petróleo pela PDVSA, em 2002, resultou numa quebra de 18% do Produto Interno Bruto venezuelano. “As consequências foram a inflação, carestia de produtos básicos, desemprego e aumento do risco país”, recorda o sociólogo Marcelo Zero, assessor da Bancada do PT no Senado na área de Relações Internacionais.

“No país com a maior reserva de petróleo do mundo, houve até falta de gasolina”, cita Zero. Para o sociólogo, a situação da Venezuela atual é muito próxima da existente no período 2002-2003. Além da violência política expressa nas chamadas guarimbas — manifestações sangrentas financiadas pela direita venezuelana — está novamente em curso um processo econômico que visa produzir carestia, desabastecimento e inflação. Lembra a sabotagem contra o governo de Salvador Allende, no Chile, nos anos 70.

Guerra econômica
A crise na Venezuela, aponta Marcelo Zero, é em parte explicada por dificuldades reais. Sob cerco praticamente, desde seu início, os governos bolivarianos não tiveram meios de diversificar a economia venezuelana de modo a torná-la menos dependente das exportações do petróleo. A grande queda dos preços desse produto, a partir de 2012, criou dificuldades reais para o país.

“Mas há também muitos aspectos artificialmente induzidos na crise econômica venezuelana. Há uma guerra econômica em curso”. Cinco elementos vêm sendo manipulados para sabotar o país: o desabastecimento programado de bens essenciais, a inflação induzida, o boicote a bens de primeira necessidade, o embargo comercial disfarçado e o bloqueio financeiro internacional.

Fraude cambial
ntre 2004 e 2014, as importações de alimentos na Venezuela cresceram 259%, saltando de US$ 2,1 bilhões para US$ 7,7 bilhões. A importação de medicamentos foi ampliada em 309% no mesmo período, de US$ 608 milhões para US$ 2,4 bilhões.

O desabastecimento, porém, vem sendo artificialmente inflado por empresários oriundos das oligarquias e outros setores anti-chavistas. Para privar o país de alimentos, produtos de higiene, remédios e outros artigos, eles recorrem a um tipo de fraude cambial/aduaneira — e ainda conseguem enviar grandes quantias para o exterior.

A moeda venezuelana, o Bolívar é cotada a 10 centavos de dólar no câmbio oficial. No câmbio paralelo, o céu é o limite.

Pois esses empresários compram dólares do governo, na cotação oficial, para pagar por importações de alimentos e outros produtos e simplesmente trazem para o país apenas uma parte do que supostamente comprariam no exterior. O restante dos dólares fica depositado em outros países.

Contrabando
O contrabando também ajuda a privar a Venezuela de gêneros essenciais: 35% dos alimentos comprados por importadores são desviados para outros países, especialmente para a Colômbia. Outra parte desses produtos vai direto para o mercado clandestino venezuelano, a preços exorbitantes.

“A falta de produtos no mercado e as longas filas resultam do desvio do dinheiro para as importações”, aponta Marcelo Zero. Enquanto isso, os depósitos em dólares de empresas privadas venezuelanas no exterior cresceram 233% apenas nos últimos cinco anos.

Consequências do embargo
Quando assumiu a presidência dos EUA, em 2016, Donald Trump tratou de endurecer o embargo à Venezuela. Em setembro daquele ano, o bloqueio financeiro impediu, por exemplo, a importação de 300 mil doses de insulina, que ficaram retidas no exterior ante a recusa do banco estadunidense Citibank em receber fundos enviados pela Venezuela para pagar pelo carregamento.

O mesmo ocorreu com um grande suprimento de Primaquina, medicamento usado no tratamento da malária, comprado pelo governo venezuelano na Colômbia e que o laboratório estadunidense BSN Medical se recusou a entregar, com apoio do governo colombiano. O governo Maduro, porém, conseguiu comprar a Primaquina na Índia.

Golpe no abastecimento
Também em 2016, bancos estrangeiros congelaram os pagamentos feitos pela Venezuela a fornecedores de alimentos, atrasando em três meses o transporte de 600 contêineres de gêneros para o país. A manobra foi um golpe contra o trabalho dos Comitês Locais de Abastecimento e Produção, organismo governamental responsável por minorar os efeitos da escassez e da consequente inflação no país.

Somente o apoio de países amigos permitiu a triangulação de pagamentos para garantir o embarque de alimentos para a Venezuela.

Outro exemplo: desde novembro de 2018, US$ 1,65 bilhão da Venezuela, destinados à compra de alimentos e medicamentos, estão sequestrados pela empresa de serviços financeiros Euroclear, obedecendo às sanções do Departamento do Tesouro dos EUA.

Isolamento
Até o esporte venezuelano vem sendo prejudicado pelo embargo determinado pelos Estados Unidos: bancos internacionais têm se recusado a autorizar pagamentos feitos pelo governo Maduro referentes a passagens, alojamento e outras despesas de atletas que treinam no exterior.

Em consequência do embargo, empresas aéreas como Air Canada, Tiara Air, Alitalia, Gol, Lufthansa, Latam Airlines, Aero México, United Airlines, Avianca, Delta Airlines, Aerolíneas Argentinas deixaram de operar no país. Essa debandada contribui para encarecer o preço da passagem nos voos que chegam e saem do país.

Golpe nas reservas
A Venezuela detém a maior reserva de ouro da América Latina. São 361 toneladas, correspondendo a 68% dos ativos totais do país — o Brasil, por exemplo possui 67,2 toneladas de ouro.

Para impedir que a Venezuela use esses recursos, em novembro de 2018 o governo dos EUA Trump proibiu que pessoas físicas e jurídicas estadunidenses comprem ouro do país latino-americano.

A maior parte do ouro da Venezuela estava depositada em bancos estrangeiros, até que, em 1980, o então presidente Hugo Chavez determinou sua repatriação. Mas 14 toneladas de barras de ouro venezuelanas permaneceram depositadas no Banco da Inglaterra.

São essas reservas que o governo do Reino Unido tem se recusado a devolver. O autointitulado “presidente interino da Venezuela”, Juan Guaidó, também já apelou às autoridades britânicas que não permita ao governo legítimo venezuelano acesso ao ouro guardado no Banco da Inglaterra. A instituição “exige” que o governo de Nicolás Maduro “explique como irá usar o metal precioso”.

Por PT no Senado

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