Equipe econômica do governo não apresentou sequer uma proposta que inclua a cobrança dos mais de R$450 bilhões dos devedores do INSS e um fim às fraudes
As propostas da equipe econômica do governo de extrema direita de Jair Bolsonaro (PSL-RJ) para a Reforma da Previdência ainda não são claras. A única coisa que já dá para perceber pelo que foi vazado para a imprensa é que todas prejudicam trabalhadores e trabalhadoras e beneficiam o grande capital.
Há estudos para aumentar a idade mínima de aposentadoria para homens e mulheres, implementar o perverso modelo chileno de capitalização da Previdência e diminuir os valores dos benefícios a aposentados e pensionistas, além de mudanças de regras para aposentadoria de servidores públicos e militares.
No entanto, nem o ministro da Economia, Paulo Guedes, nem os economistas neoliberais – que vêm apresentando suas propostas por meio da imprensa – estão levando em consideração o resultado da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Previdência que, em 2017, demonstrou que a Previdência é superavitária, e que é preciso ‘cobrar’ as dívidas dos maiores devedores do sistema, além de rever as desonerações e estancar a sangria feita por empresas que retêm as parcelas do INSS aos trabalhadores e não as repassam aos cofres públicos, entre outras fraudes.
O relatório da CPI, presidida pelo senador Paulo Paim (PT-RS), concluiu que em apenas quatro anos trabalhadores e trabalhadoras contribuíram com R$ 125 bilhões para a Previdência, mas esse montante descontado dos salários pelas empresas não foi repassado aos cofres públicos. O relatório apontou ainda que, além das fraudes, os devedores da Previdência acumulam um débito de R$ 450 bilhões.
O professor aposentado de economia na área de políticas públicas da Universidade Federal de Uberlândia (MG), Heládio José Campos Leme, concorda com o parecer final da CPI. Para ele, há um conluio entre os empresários, a grande mídia e o governo para passar para a opinião pública a ideia de que a reforma é necessária e a população é que deve pagar a conta.
“Eles trabalham com uma falsa visão e ocultam os números, não considerando o orçamento como um todo. O maior peso do déficit das contas do governo são as despesas financeiras do Estado que representam 50% dos gastos públicos. É a dívida pública que alimenta os rentistas. Essa dívida ninguém comenta, é como se fosse sagrada”, critica o professor.
A CPI também constatou que, nos últimos 20 anos, devido a desvios, sonegações e dívidas, deixaram de entrar nos cofres da Previdência mais de R$ 3 trilhões. Esse valor atualizado passaria dos R$ 6 trilhões.
Portanto, para equilibrar as contas da Previdência é necessário, não a reforma, e sim, uma melhor gestão e fiscalização, evitando, com isso, a sonegação, a corrupção e as desonerações e desvinculações da receita.
Valores sonegados
Segundo a técnica da subseção Dieese/ CUT, Adriana Marcolino, os R$ 125 bilhões sonegados pelos empresários em quatro anos daria para pagar a 8,9 milhões de beneficiários da Previdência um salário mínimo durante um ano, incluindo o 13º salário.
Já os R$ 450 bilhões de débito das empresas devedoras do INSS poderiam pagar um salário mínimo a quase 34,7 milhões de pessoas – ou seja, pagaria por um ano todos os cerca de 22 milhões de aposentados e pensionistas que ganham um salário mínimo e ainda sobraria dinheiro.
Resistência
O combate à sonegação está na pauta da CUT e demais centrais sindicais que realizarão uma plenária nacional em defesa da aposentadoria e da Previdência no dia 20 de fevereiro, quando será deliberado um plano de lutas unitário.
Segundo o professor Heládio José Campos Leme, o processo mais lesivo para os cofres da Previdência foi a Reforma Trabalhista do ilegítimo Michel Temer (MDB-SP) que precarizou as relações de trabalho, aumentou a informalidade, impedindo os trabalhadores e trabalhadores de contribuírem com a Previdência.
“Eles aprovaram uma mudança trabalhista dramática e é claro que a arrecadação cai. É uma morte anunciada na medida em que diminui a fiscalização, os postos de trabalho, a contratação e, agora, com o fim do Ministério do Trabalho, o futuro é sombrio”, alerta o professor.
Para Heládio José Campos Leme, que também é cientista político, o modelo neoliberal da economia do atual governo quer que o Estado civilizado não seja provedor do cidadão. “O Estado é o responsável pelas crianças, pelos idosos, aposentados, as grávidas. A população não pode ficar sem assistência como querem esses neoliberais”.
Na avaliação do professor, há um conluio, quase uma orientação velada do empresariado para não pagar o que deve à Previdência. “Estão todos falando a mesma língua: as instituições financeiras, a mídia e os empresários esperando ver o que acontece”, diz Heládio.
O professor ainda faz um alerta: “O trabalhador tem de combater a Reforma da Previdência para ter um futuro”.
Por CUT
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