Um dos maiores símbolos da luta pela preservação do Meio Ambiente no Brasil foi assassinado no dia 22 de dezembro de 1988. Seu legado ainda ecoa e inspira.
“Meu sonho é ver toda esta floresta conservada, porque nós sabemos que ela pode garantir o futuro de todas as pessoas que vivem nela”, dizia Chico Mendes nos tempos em que lutava pela preservação da Amazônia. 30 anos depois de seu assassinato por conta da aguerrida militância, que se completam neste dia 22 de dezembro, suas ideias servem de inspiração a lutadores de todo o mundo.
Chico Mendes morreu, mas sua memória e seus ideias permanecem presentes. Ele se tornou patrono de órgão de proteção do meio ambiente, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), além de um prêmio do Ministério do Meio Ambiente, criado em 2002 com o objetivo de valorizar e incentivar iniciativas de proteção que contribuam para a promoção do desenvolvimento sustentável da região amazônica brasileira.
“Se um mensageiro descesse do céu e garantisse que minha morte ajudaria a fortalecer nossa luta, ela até valeria a pena. Mas a experiência nos ensina o contrário. Não é com grandes funerais e manifestações de apoio que iremos salvar a Amazônia. Eu quero viver”, escreveu mendes em uma carta de 1988.
Infelizmente, ele estava certo sobre a possibilidade de seu assassinato, mas ao menos ela de fato serviu para atrair a atenção de todo o mundo para a preservação da floresta e as ameças sofridas pela militância que atua em sua defesa.
Confira um pouco da história de vida e de luta de Chico mendes:
1944 – Chico Mendes nasceu no dia 15 de dezembro, no seringal Porto Rico, próximo à fronteira do Acre com a Bolívia, em Xapuri, estado do Acre. Filho de seringueiro passou sua infância e juventude ao lado do pai, cortando seringa. A vida no seringal moldou no jovem seringueiro um sentimento de revolta contra a injustiça. A atividade econômica de extração da borracha, na Amazônia, foi sempre pautada por relações de grande exploração.
1960 – Diferentemente dos outros seringueiros, aos 16 anos, Chico aprendeu a ler e escrever. Conviveu com Euclides Fernandes Távora, refugiado político que morava próximo de sua família, fato que teve uma grande influência na sua vida.
1975 – Chico fez parte da diretoria do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Brasileia, o primeiro criado no Acre, presidido pelo combativo líder Wilson Pinheiro. A situação do Acre era crítica na década de
1970 – A política para a Amazônia implantada pelo regime militar gerou grandes conflitos fundiários. A substituição da borracha pela pecuária levou à especulação fundiária e ao desmatamento de grandes extensões de terras impedindo a permanência nos seringueiros na floresta.
1976 – Sob a liderança de Wilson Pinheiro, os seringueiros inventaram os “empates às derrubadas”: eles reuniam suas famílias, iam para as áreas ameaçadas de desmatamento, desmontavam os acampamentos dos peões e paravam os motosserras. Em decorrência desse movimento de resistência, em 1980 Wilson Pinheiro foi assassinado dentro da sede do Sindicato, em Brasileia.
1980 – Chico Mendes ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores e tornou-se uma de suas principais lideranças no Acre. Participou de vários comícios ao lado de Lula na região. No mesmo ano, foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional a pedido de fazendeiros da região.
1982 – Foi candidato a deputado estadual pelo PT, mas não conseguiu se eleger.
1983 – Chico Mendes assumiu a direção do Sindicato de Xapuri, do qual tornou-se presidente até sua morte.
1985 – Liderou o 1º Encontro Nacional de Seringueiros, durante o qual foi criado o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), que se tornou a principal referência da categoria. Sob sua liderança, a luta pela preservação do modo de vida na floresta adquiriu grande repercussão nacional e internacional. Do encontro saiu a proposta de criar uma “União dos Povos da Floresta”, que buscava unir os interesses de indígenas, seringueiros, castanheiros, pequenos pescadores, quebradeiras de coco e populações ribeirinhas, por meio da criação de reservas extrativistas.
1987 – O documentário “Eu quero Viver”, produzido pelo cinegrafista inglês Adrian Cowell, que filmou o Encontro Nacional e decidiu acompanhar o dia a dia do trabalho do Chico para proteger a floresta e os direitos dos trabalhadores, ajudou a dara a Chico Mendes projeção internacional. Entre 1987 e 1988 ele ganhou o Global 500, prêmio da ONU, na Inglaterra, e a Medalha de Meio Ambiente, da Better World Society, nos Estados Unidos, além ser entrevistado pelos principais jornais do mundo. Jornalistas e pesquisadores o visitaram nos seringais e difundiram suas ideias pelo planeta.
1988 – Em 22 de dezembro, em uma emboscada nos fundos de sua casa, ele foi assassinado a mando de Darly Alves, grileiro de terras com história de violência em vários lugares do Brasil. A forte reação e pressão da opinião pública levaram à condenação dos criminosos em 1990, fato inédito na justiça rural no Brasil.
1990 – As primeiras Reservas Extrativistas foram criadas em março, dando perspectiva aos filhos dos seringueiros e extrativistas. Elas representam a primeira iniciativa de conciliação entre proteção do meio ambiente e justiça social, antecipando o conceito de desenvolvimento sustentável que surgiu com a Rio 92. O Decreto 98.897 definiu as Reservas Extrativistas como “espaços territoriais destinados à exploração autossustentável e conservação dos recursos naturais renováveis por população extrativista”.
Da redação da Agência PT de notícias
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