Presidente eleito, ao considerar metodologia do IBGE uma “farsa”, errou ao incluir beneficiários do Bolsa Família e do seguro-desemprego como empregados
Em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, na Rádio Brasil Atual, o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, apontou os erros cometidos pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) em sua fala sobre a metodologia utilizada pelo IBGE na produção de dados sobre o desemprego no Brasil. Para Clemente, a preocupação deveria estar na garantia de investimentos para o desenvolvimento das pesquisas.
Nesta segunda-feira (5), durante entrevista concedida ao apresentador José Luiz Datena, da TV Bandeirantes, Bolsonaro, classificou a metodologia adotada para medir o desemprego como uma “farsa”. Ele afirmou que a pesquisa indicaria os beneficiários do Bolsa Família e do seguro-desemprego, além dos cidadãos que não procuram ocupação há mais de um ano como empregados.
“Tudo que ele falou não é verdade”, aponta Clemente. “A metodologia não considera uma pessoa que recebe o seguro-desemprego como empregada, pelo contrário. Uma pessoa que recebe Bolsa-Família pode inclusive receber o benefício e estar em outra ocupação, vendendo bolo na rua, por exemplo. Se ela recebe Bolsa-Família e não está trabalhando, procura emprego, então está desempregada. A metodologia pesquisa e classifica situações ocupacionais e de desemprego com uma precisão bastante sofisticada para a complexidade do mercado de trabalho brasileiro. Essas situações que o presidente eleito indicou, nenhuma delas é verdade na metodologia.”
“O IBGE sofre, inclusive, com a falta de recursos para poder fazer suas pesquisas de forma contínua e integrada às metodologias internacionais, para que possam ser internacionalmente comparadas. E as nossas metodologias são relativamente modernas, dada a carência de recursos que o IBGE sofre”, defende o diretor técnico.
O órgão respondeu às críticas do mandatário com uma nota na qual diz que, além de adotarem critérios “mais avançados do mundo”, estão alinhados às recomendações dos organismos de cooperação internacional como a Organização Internacional do Trabalho (OIT). O Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE (AssIBGE) também ressaltou a qualidade do seu quadro técnico e declarou estar a serviço da sociedade brasileira e não ser dependente da “vontade de qualquer governo”.
“Nossa missão é ‘retratar o Brasil com informações necessárias ao conhecimento de sua realidade e ao exercício da cidadania.’ Continuaremos a fazê-lo com a dedicação de sempre, mesmo que isso não agrade aos governantes. Os políticos passam, a credibilidade do IBGE fica”, diz o texto da entidade.
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