Por Marcelo Neves, jurista e professor da Universidade de Brasília
Cristovam Buarque gosta de se apresentar como um político comprometido com a educação pública. No passado, sempre tentou se mostrar como uma figura progressista. Mas para além do discurso, o que Cristovam realmente fez? E como ele será lembrado pelos moradores do Distrito Federal?
Cristovam é senador pelo DF há 16 anos. Elegeu-se pela primeira vez pelo PT, em 2002. E, depois de deixar o partido, filiando-se ao PDT, foi reeleito ao Senado com apoio do PT, em 2010.
Nesse período, qual foi a grande proposta ou projeto defendido pelo senador em benefício do povo do Distrito Federal? Para além de seu discurso bonito, mas falso, de defesa da educação, quais foram as grandes questões nacionais ou locais em que se envolveu?
Na realidade, Cristovam ficou conhecido por ter traído seu passado e apoiado o golpe parlamentar contra a presidenta Dilma Roussef. Em 2016, ele apoiou explicitamente a articulação política de Michel Temer para ocupar de forma ilegítima a Presidência da República.
Mas ele não parou por aí. Não satisfeito em apoiar o golpe, Cristovam apoiou todas as medidas do Governo Temer contra o povo mais pobre do Brasil e do DF.
No Senado, ele votou a favor da EC n° 95, que congelou por 20 anos os investimentos em educação e saúde. E com isso ele mostrou que seu compromisso com a educação sempre foi apenas um slogan eleitoral, que ele não hesitaria em descartar em nome de seus interesses políticos.
Graças a essa emenda, as universidades públicas brasileiras cortaram verbas para assistência estudantil, bolsas de estudo e serviços de manutenção. Milhares de estudantes foram atingidos por esses cortes. Indígenas, negros e estudantes vindos da escola pública estão com cada vez mais dificuldades de continuar seus estudos. Justamente aqueles que mais precisam do apoio do Estado para a educação.
Cristovam também apoiou a Reforma Trabalhista e a terceirização irrestrita, propostas pelo Governo Temer. Graças a essa reforma, os trabalhadores brasileiros tiveram o seu trabalho ainda mais precarizado. E os números mostram que o voto do senador ajudou a aumentar ainda mais a desigualdade salarial no mercado de trabalho brasileiro.
Hoje, Cristovam apoia Geraldo Alckmin para a presidência. Mas negociou e flertou com apoiadores de Jair Bolsonaro no DF. Assim, ele deu já sinais suficientes de que não tem qualquer compromisso com um projeto includente e progressista para o nosso futuro.
Cristovam fez sua carreira política com um bonito discurso de defesa à educação. Mas na prática mostrou que não tem qualquer compromisso com isso. Nem com a educação, nem com os mais pobres nem com a democracia.
Ele apoiou o golpe. Apoiou o corte de investimentos em educação e apoiou a retirada de direitos básicos dos que mais precisam. E com isso mostrou que só tem compromisso com a manutenção de um mandato a serviço de si mesmo.
Cristovam não devia mais enganar os eleitores do DF que querem um senador comprometido com a defesa dos mais pobres e da inclusão social.
Artigo publicado originalmente no site 247
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