Por Guilherme Mello*
A maior urgência do Brasil hoje é retomar a criação de empregos, devolvendo a esperança para boa parte da população
Os últimos dados divulgados pelo IBGE sobre o mercado de trabalho revelam a situação de desesperança que o golpe nos legou: quase treze milhões de pessoas desempregadas e aproximadamente um quarto da população brasileira (24,5% da força de trabalho) subutilizada, ou seja, sem emprego ou trabalhando menos do que gostaria e poderia trabalhar. Para piorar, mais de 4 milhões de brasileiros (as) simplesmente deixaram de procurar emprego e saíram das medidas de força de trabalho, adentrando no que é chamado de situação de desalento. Ao todo, quase 65 milhões de pessoas simplesmente se encontram fora da força de trabalho.
Não é apenas o número de desempregados e desalentados que choca. A crescente precarização do mercado de trabalho, que será crescente com a reforma trabalhista do governo Temer/ PSDB, reduziu em mais de 1% a quantidade de trabalhadores com vínculo formal nos últimos doze meses, aumentando o volume de empregados informais e precários. O cenário do emprego no Brasil é dramático e desalentador, o que ajuda a explicar o aumento da pobreza, da fome, da violência e o drama vivido em setores como saúde e educação pública, pressionados pela crescente demanda de pessoas que simplesmente não tem condições de arcar com o custo do setor privado. Além disso, a crise fiscal e o crescente déficit na previdência social também estão diretamente relacionados com o quadro de desemprego, já que arrecadação de impostos e contribuições para a seguridade social são diretamente impactadas pelo alto desemprego e baixa atividade econômica.
Diante deste quadro, a maior urgência do Brasil hoje é retomar a criação de empregos, devolvendo a esperança para boa parte da população que hoje se encontra sem perspectivas e totalmente desalentada. O primeiro compromisso do próximo governo deve ser o da retomada da atividade econômica, dos empregos e da renda, criando as condições não apenas para a melhoria da situação social, mas também para o rearranjo dos resultados fiscais, possibilitando assim maior capacidade do Estado de retomar seu nível de investimentos. Uma vez que a roda da economia voltar a girar, todos os problemas econômicos e sociais ganham uma perspectiva melhor de resolução.
No entanto, não será cortando investimento, retirando direitos dos trabalhadores e atacando a previdência dos que ganham menos que trilharemos o caminho da volta do crescimento. Ao contrário, neste momento de profunda crise política, econômica e social, é mais importante do que nunca que o Estado retome seu papel de articulador social, promovendo os investimentos que irão gerar os empregos necessários e viabilizar a retomada da atividade, ofertando crédito para aqueles que mais precisam (seja para pagar suas dívidas, seja para retomar o consumo) e garantindo que todo brasileiro tenha uma renda digna, para não cair na pobreza, fome e miséria.
É plenamente compreensível que, diante do atual quadro econômico e político, muitos brasileiros (as) tenham deixado de sonhar como faziam nos anos dos governos Lula. Naquela época, chegamos a ser considerados um dos povos mais felizes do mundo, repletos de esperança diante dos inequívocos avanços nas condições de vida de toda a população. Com o golpe, a alegria e a desesperança tomaram conta de boa parte de nossa população, que no entanto não esqueceu o que significa sonhar e ser feliz. Não a toa, o presidente Lula lidera disparado as intenções de voto para a campanha eleitoral de 2018, uma prova inequívoca de que o povo tem memória, e que aqueles que uma vez experimentaram da felicidade e da esperança, não se esqueceram de quem os ajudou a chegar lá.
Nestas eleições, mais do que um projeto de país, está em jogo a própria dignidade, felicidade e esperança do povo brasileiro. Está em jogo a nossa tão maltratada democracia, que é golpeada diariamente pelos poderosos dos três poderes, em sua ânsia de evitar que o povo brasileiro volte a ter voz e volte a ter em suas mãos seu próprio destino. Mais que tudo, está em jogo seu emprego, sua renda e o futuro de sua família e de seus filhos. O Brasil já provou que pode crescer, gerando empregos, diminuindo a desigualdade, melhorando as condições de vida da população e produzindo oportunidades para todos. Para fazer o Brasil ser feliz de novo, para vencer a desesperança e o desalento, basta que nos lembremos de quem nos fez sonhar e de quem hoje nos faz sofrer.
Por Guilherme Mello, economista e membro da comissão do Plano Lula de Governo
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