Não é de hoje o apoio indiscriminado da mídia aos golpes dados no povo brasileiro. Na verdade, desde que os meios de comunicação tomaram forma massificada, a aliança com as classes dominantes se estreitou. Com isso, o sistema de comunicação se distanciou da função de serviço de interesse público e se aproximou das pautas que validam e legitimam o sistema capitalista.
A mídia foi peça fundamental para a concretização do golpe de 64 e continua sendo agora, no golpe de 2016. Ela também se mostra como a principal articuladora para a aprovação de projetos como a reforma trabalhista, a entrega do petróleo brasileiro às multinacionais, a criminalização de movimentos sociais. O sistema de comunicação brasileiro – engessado como privado, sem representatividade e alheio ao interesse público – é capaz até de tornar alguém culpado sem qualquer tipo de prova, e inocente quem tem a ficha suja. A “comunicação, hoje, constrói a realidade”, como definiu Pedrinho Guareschi, em O Direito Humano à Comunicação.
“O combate aos abusos flagrantes da mídia deve ser feito com a luta pela democratização dos meios de comunicação e a conscientização de que a comunicação é um direito humano fundamental”
Como todo sistema capitalista, para sustentar essa máquina de produção chamada mídia, é necessário o trabalhador explorado. E isso quer dizer que a maioria daqueles estudantes de jornalismo, que sonhavam em garantir o direito das pessoas à informação verdadeira, de interesse público, sem distorções ou interesses externos, se verão sufocados por uma narrativa opressora e sem escrúpulos dos veículos de comunicação que se submeterem. E assim, o profissional pode se tornar algoz de si mesmo, uma vez que defenderá (por imposição de uma linha editorial) projetos e propostas que prejudicam a si e toda classe trabalhadora. É o caso da reforma trabalhista, por exemplo. Vendida como “benéfica e necessária” em diversas matérias publicadas em veículos de abrangência nacional, a proposta do governo ilegítimo de Michel Temer coloca no olho do furacão a categoria de jornalistas, já que legaliza a pejotização, os salários reduzidos, as jornadas exaustivas e uma série de questões que já assombravam esses trabalhadores. A reforma é um retrocesso generalizado, considerado internacionalmente como um ataque aos direitos trabalhistas.
“Muitas vezes, o ataque acaba sendo àquele jornalista explorado, submetido a uma condição imposta por um cenário neoliberal que não oferece muitas saídas. E aí é trabalhador contra trabalhador”
A mídia também tentou deslegitimar a história e a importância do presidente Lula para o Brasil. Sem sucesso. Perseguido historicamente pelos veículos de comunicação de direita, Lula acabou sendo preso injustamente, sem qualquer tipo de prova, julgado não só por um Judiciário partidarizado, mas principalmente pela mídia-abutre criminosa. Mas acabou carregado pelos braços de uma multidão que o apoiava no momento em que discursou sobre os motivos de se entregar à Polícia Federal, e continua sendo o líder nas pesquisas de intenção de voto para presidente da República. A revolta do povo ao desserviço é flagrante. Uma reação a ação nefasta. Justificável, compreensível e necessária. Porém, muitas vezes, o ataque acaba sendo àquele jornalista explorado, submetido a uma condição imposta por um cenário neoliberal que não oferece muitas saídas. E aí é trabalhador contra trabalhador.
“Descentralizar o poder da mídia é também deslegitimar o sistema capitalista vigente e tentar colocar fim à lógica cruel do explorador versus explorado”
É preciso que nós, dirigentes sindicais, integrantes de movimentos sociais, militantes de esquerda, façamos o debate com nossas bases, nossos companheiros e a população em geral sobre como, de fato, combater a mídia-abutre. E, definitivamente, não é atacando a parte frágil dessa estrutura: o jornalista explorado. O combate aos abusos flagrantes da mídia deve ser feito com a luta pela democratização dos meios de comunicação e a conscientização de que a comunicação é um direito humano fundamental. A partir do momento que tivermos um sistema de comunicação descentralizado, representativo e plural, onde as pessoas não só tenham condições de se expressar livremente, mas também de serem produtoras dessa informação, haverá de fato informação, sem deformação. Ainda desconhecida pela maioria da sociedade, a democratização da comunicação deve ser pauta permanente de luta das nossas entidades sindicais. Afinal, descentralizar o poder da mídia é também deslegitimar o sistema capitalista vigente e tentar colocar fim à lógica cruel do explorador versus explorado. E nessa tarefa, faz-se imprescindível que o próprio profissional de comunicação, figura-chave para a mudança desse cenário, seja protagonista dessa luta e fortaleça o debate junto aos demais setores da sociedade. *Rodrigo Rodrigues é professor de História da rede pública de ensino do DF e secretário-geral da CUT Brasília
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