Sistema falho leva criança a desmaiar de fome em escola no DF

Um aluno de 8 anos desmaiou de fome, nesta semana, enquanto assistia à aula na Escola Classe 8 do Cruzeiro. A criança mora no Paranoá Parque, um empreendimento do Minha Casa, Minha Vida. Como não há escola pública no local, as 250 crianças do condomínio percorrem 30 quilômetros, todos os dias, para ter acesso à educação.

Outras duas escolas de Cruzeiro atendem às crianças do Paranoá Parque; porém as matrículas só foram conseguidas após pressão dos moradores. De acordo com eles, a escola que foi prometida pelo GDF ainda não saiu do papel. “Há apenas duas creches no local e salas de aula improvisadas em um galpão”, disseram.

Antes da repercussão nacional do caso, a Secretaria de Educação (SEE) havia dito, em nota, que “lamentava” o caso do estudante. Em comunicado, a SEE afirmou que não havia possibilidade de dar almoço aos estudantes porque não há ensino integral nessa unidade – em vez disso, a escola oferta um lanche no meio da tarde.

Porém, o GDF recuou. Na tarde desta sexta-feira (17), uma equipe de nutricionistas foi enviada à escola para verificar a estrutura da instituição. A SEE informou que vai “avaliar” a possibilidade de oferecer almoço na unidade.

Mesmo assim, casos como o do estudante da Escola Classe 8 do Cruzeiro podem se tornar frequentes. Essa necessidade de deslocar crianças de um lado para outro ocorre pela falta de escolas em diversas regiões do Distrito Federal. Além do Paranoá, cidades como Estrutural e Varjão penam com a falta de escolas. Sem falar que em todas as regiões faltam vagas para a educacão infantil.

Paralelamente, não há professores e orientadores educacionais em número suficiente na rede pública de ensino do DF e a não nomeação de profissionais aprovados nos últimos concursos públicos inviabiliza qualquer projeto de educação pública de qualidade. Dados revelam que o sistema público de ensino apresenta uma necessidade de aproximadamente três mil nomeações. Mesmo diante disto, o GDF não nomeia os aprovados nos concursos de 2013, 2014 e 2016.

A política adotada pelo governo Rollemberg – o conhecido “choque de gestão” – implica fazer valer o Estado mínimo. Isso se vê na prática com a redução de professores, médicos, policiais; na ausência do poder público em questões básicas – o que aumenta sobremaneira as dificuldades, principalmente para a população mais carente.

Sistema falho

Em entrevista a um portal de comunicação, a diretora do Sinpro-DF e da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Rosilene Corrêa, disse que o desmaio do aluno é preocupante porque “vai além dos portões da escola” e “se agrava com o fato de muitos destes alunos serem transportados de uma cidade a outra para terem acesso à escola”.

De acordo com Rosilene, o sistema educacional do país é falho e não garante a qualidade de merenda escolar aos alunos. “Houve redução nos valores destinados à merenda e muitas crianças vão à escola na expectativa de chegar a hora do lanche. Em idade nenhuma é recomendável ficar cinco horas só com biscoito e suco, principalmente para uma criança que está em fase de desenvolvimento e em processo de aprendizado, fatores que exigem dela uma concentração e um grande consumo de sua capacidade intelectual.”

Para a dirigente, as más condições oferecidas durante a fase escolar da criança podem ter consequências severas. “Isto compromete o aspecto pedagógico da criança e ela acaba condenada a ter problemas em seu crescimento intelectual e físico”, conclui.

Fome

De acordo com a equipe da Escola Classe 8 do Cruzeiro, a reclamação de fome é comum entre os estudantes. As aulas acontecem à tarde mas, por causa da distância e do número de paradas, muitas crianças saem de casa às 11h, e passam o horário de almoço no transporte escolar do governo.

Como as famílias têm renda baixa, muitos desses estudantes saem sem almoçar. Boa parte das crianças nem tem o que comer em casa, e vão à escola contando com a merenda. O lanche citado pela SEE – à base de biscoito e suco, na maioria das vezes – é fornecido por volta das 15h30, no recreio das aulas da tarde.

Fonte: Sinpro/DF

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