Nos primeiros meses de governo revolucionário cubano, quando tudo de bom que deu impulso à luta dos “barbudos de Sierra Maestra” pôde começar a se expressar desde o governo, Che Guevara teria respondido a pergunta de uma jornalista sobre “o que é a revolução” afirmando: “quando o extraordinário vira cotidiano, é a revolução”.
Desde a ativação do golpe de novo tipo no Brasil, depois da reeleição da companheira Dilma, e com muito mais intensidade depois da tomada golpista do governo, tantos absurdos tem acontecido ou se assanhado nos campos econômico, político, cultural, ambiental e social que é possível inverter a resposta do Che para explicar que “quando o absurdo vira cotidiano, é o golpe”.
Tempos áridos na conjuntura e, aqui no Distrito Federal, também no clima: seca prolongada, recorde histórico de temperatura, mês mais quente em 5 décadas…
Nestas últimas semanas, o clima estava tão difícil que alguns “absurdos” começaram a acontecer também neste âmbito: apareceram os mosquitos, mas nada de chuva; um ou outro daqueles “bichinhos de chuva” já perdia asas pela casa, mas nada de chuva; uma manhã – juro – teve até cheiro de terra molhada, mas nada de chuva. Quando se noticiou, há uns dias, que os fragmentos deixados por séculos de passeios do Cometa Halley pelo sistema solar seriam avistados da terra como “chuva de meteoritos”, a piada veio na hora: “Chove até pedra do céu, só não chove chuva!”. Mas ela viria… afinal, é a natureza!
E a chuva voltou: apressada para se harmonizar com o resto dos elementos que pareciam se adiantar a ela. Então, as plantas já pegam o impulso das primeiras águas, umas explodem ainda mais em flor, outras põem mais vistosos seus frutos em maturação, e a bicharada saudando tudo em cantoria.
E nós? Nós também voltaremos! Voltaremos a governar e mudar o Brasil! Há pouco mais de um ano de governo golpista, a popularidade do “presidente do golpe” beira zero. Deram o golpe para impor reformas, leis e medidas que nunca passariam nas urnas – esse monstro que atormenta as elites desde 2002. Mais que isso: mostra que as elites não têm proposta nem rumo. É assim com quem defende o que não tem perspectiva, uma forma de organizar a sociedade, um sistema de produção e distribuição em crise final. Eles não têm projeto de Nação: um dos elementos fundantes dela, a terra (patrimônio nacional), eles entregam ao imperialismo; do outro elemento fundante, o povo, eles roubam os direitos, a possibilidade de desenvolvimento de seu potencial e, portanto, o próprio futuro.
De modo que, assim como a chuva é uma necessidade da natureza, nós somos uma necessidade do progresso da História. Só que Natureza e História, por maiores que possam ser suas semelhanças, são regidas por leis diversas. Daí a necessidade de cumprirmos nosso “papel de indivíduo” (e de sujeito coletivo organizado) na História.
Temos 13 anos de experiência de governo nacional, 37 anos de construção do PT propriamente dito, e muitos mais de acúmulo na luta de classes brasileira e mundial. O centenário da Revolução Russa nos lembra disso, como maior referência de ousadia da classe trabalhadora por superar tudo que oprime e reprime a humanidade. Temos o maior líder popular da história, o compa Lula, que aos 72 anos recém-completos, segue mobilizando a esperança do povo Brasil a fora. Temos o mais rico, poderoso, plural e capilarizado partido de esquerda e de massas já construído, enraizado na consciência social das massas. Quando Lula diz que “o PT é único no mundo”, concordamos muito provavelmente sem entender à fundo: não há “crítica à esquerda” (ou “mais atual”, ou “mais aprimorada”, seja lá o que for) ao PT que não esteja dentro do próprio PT ou no campo democrático e popular do qual ele é o eixo.
De modo que cada um de nós, como militantes (“base” ou “direção”), construtores do instrumento vivo de luta do povo brasileiro, devemos nos empenhar em tirar as conclusões dos erros e acertos da caminhada. Construir e saber ser construídos (ser sujeito e objeto da luta, dizia J.Posadas) a cada Caravana L ula pelo Brasil, na aplicação das resoluções do VI Congresso do PT, na construção da Frente Brasil Popular, nas conversas com a população para a plataforma Brasil que o Povo Quer, na coleta de cada assinatura do Anula Reforma Trabalhista, da CUT, a cada convite a simpatizante para oPTar por dar caráter organizado a seu petismo, em cada atividade de nossos movimentos e instâncias partidárias, como no caso da nossa historicamente aguerrida zonal do PT Paranoá. Afinal, se somos necessários para o avanço da História, temos que estar à altura dessa necessidade.
E, agora, peço licença porque voltou a chover, e eu vou imitar os elementos da natureza: pegar esse impulso e energia das primeiras águas que voltam a cair aqui no Planalto Central.
Marcelo Didonet, posadista, presidente do PT Zonal Paranoá (DF)
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