Em artigo, deputado federal e vice-presidente nacional do PT defende que o PT precisa ouvir e levar em conta o que pensa a sua base
A resolução adotada pelo Diretório Nacional do PT, no último dia 20 de janeiro de 2017, sobre as eleições das mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, se revelou apta a fornecer uma justa orientação para o amplo debate que se originou desde então sobre esse tema.
Ao contrário do que apregoaram alguns mais apressados em impor suas posições, o DN não obrigou a bancada a adotar essa ou aquela deliberação. O PT indicou, isso sim, de forma, a meu ver acertada, o centro tático a orientar a nossa ação política na atual quadra conjuntural sintetizada nas consignas “ Fora Temer”, “ Diretas Já” e “Nenhum Direito a Menos”.
Orientou ainda no sentido da defesa das conquistas alcançadas pelo povo brasileiro nos últimos anos, pela mobilização institucional e social contra o conjunto de medidas supressoras de direitos adotadas e anunciadas pelo governo golpista como a PEC da reforma da previdência, a reforma trabalhista dentre outras.
A resolução conclamou ainda pela maior unidade possível no campo da oposição ao governo usurpador.
Fixadas essas orientações, o DN conferiu às bancadas autonomia para deliberarem pela unanimidade ou pela maioria de seus integrantes.
Desde então, esse debate passou a ocupar a atenção de boa parte de nossa militância, de dirigentes, de parlamentares e até mesmo de não filiados ao PT e da mídia em geral.
Chegado o momento das bancadas se posicionarem, entendo, que de tudo o que já foi dito até agora algumas assertivas me parecem mais acertadas e procedentes.
A primeira delas é que não se trata de um tema que o PT tenha tratado no decorrer de sua trajetória no parlamento brasileiro como uma questão de princípio, o que torna, absolutamente enviesada qualquer abordagem maniqueísta, que somente se justificaria pelo condenável afã de utilizar-se de um debate legítimo como instrumento para a disputa política interna, nessa quadra pré VI Congresso do PT ou no âmbito da esquerda em geral.
Restou evidenciado que as bancadas (Senado e Câmara) precisam considerar que suas decisões impactarão não somente na dinâmica do parlamento, mas no potencial mobilizador do conjunto das forças que se articulam para resistir às medidas antipovo do governo ilegítimo. A sincronia fina entre a luta institucional e a luta social nunca se fez tão necessária como nesse momento.
O PT precisa ouvir e levar em conta o que pensa a sua base. A retomada de um projeto de esquerda contrahegemônico, passa necessariamente por uma profunda reinserção do PT com os movimentos sociais e nas lutas concretas e imediatas do povo brasileiro. Um partido dirigente e de massa, democrático e plural, sem sectarismos ou esquerdismos, mas, capaz de posicionar-se em conexão com a dinâmica social em curso no país, cujo fortalecimento permitirá que a resistência firme se converta, no avançar da luta, em nova hegemonia com um programa renovado e um novo bloco histórico de sustentação política.
Neste contexto, entendo que a deliberação das bancadas deverá corresponder ao sentimento da militância, dos movimentos sociais e das forças progressistas da sociedade brasileira que amplamente se manifestam por candidaturas do bloco de esquerda ou até mesmo por uma candidatura própria do PT, com uma agenda que se contraponha às plataformas das candidaturas governistas, compartilhando com essa mesma militância, a responsabilidade de compensarmos eventuais espaços de poder que deixaremos de ocupar no parlamento, com redobrada disposição para a mobilização, para a luta e para o enfrentamento democrático da agenda conservadora que se quer impor ao país.
Como contribuição para a plataforma de atuação das novas mesas das casas do Congresso, sugerimos o compromisso com o resgate da democracia e da soberania popular, com a convocação imediata de eleições diretas na hipótese de vacância da presidência neste biênio em curso; amplo debate com a sociedade sobre a situação da previdência social, para construção de um projeto sustentável de previdência pública que respeite os direitos adquiridos, a dignidade da pessoa humana e repartição de eventuais desequilíbrios atuariais com os que mais podem, na proporção da capacidade contributiva de cada um; reforma política; respeito aos direitos trabalhistas e amplo acolhimento aos movimentos sociais no âmbito do congresso brasileiro.
No parlamento e nas ruas, uma só voz uma só luta. Todos pelo Brasil.
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