Millena Lopes
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Foram dez horas de sessão, em pleno recesso parlamentar. Motivada por áudios que denunciam um suposto esquema de distribuição de propina no Governo do DF, a CPI da Saúde se reuniu ontem para ouvir a presidente do Sindsaúde, Marli Rodrigues, e o vice-governador Renato Santana. A sindicalista apresentou documentos e um áudio em que o ex-subsecretário de Saúde, Marco Júnior, detalharia um suposto esquema de propina na Secretaria de Saúde.
Para ele, a primeira-dama Márcia Rollemberg tem super poderes na pasta e, a partir do desenho de um fluxograma, ele detalha como agiriam as pessoas ligadas a ela e ao governador Rodrigo Rollemberg. Servidor da Secretaria na época em que Fábio Gondim foi o titular da pasta, Marco Junior diz que Marcello Nóbrega, que hoje é subsecretário de Logística e Infraestrutura da Saúde, agiria a mando da mulher do governador na pasta.
O esquema descrito pelo ex-subsecretário traz nomes como o do chefe da Casa Civil, Sérgio Sampaio, que seria a “figura de confiança” do governador. Adiante, explica que, ligados a Sampaio teriam outras pessoas: Sady Carnot Falcão Filho, ex-diretor executivo do Fundo Nacional de Saúde; o diretor do Hospital da Criança, Renilson Rehem; e Armando Raggio, diretor da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (Fepecs).
Os tentáculos alcançariam até o Ministério da Saúde, de acordo com o que foi apresentado aos deputados distritais.
Na secretaria, Marcello Nóbrega e o ex-gestor do Fundo de Saude, Ricardo Cardoso, agiriam de acordo com as cartas dadas pelo representante no órgão federal. Haveria, conforme Junior, até um acordo para que Cardoso fosse indicado para o cargo vitalício de conselheiro do Tribunal de Contas do DF no ano que vem.
Até deputados
Dois deputados distritais foram citados como influentes dentro do esquema: Cristiano Araújo (PSD) e Robério Negreiros (PSDB), que rechaçaram as acusações que viriam, antes mesmo de Marli Rodrigues começar a depor na Câmara, ontem. Os dois, que são membros titulares do colegiado, se disseram tranquilos e que aguardarão as apurações.
Um “operador” dentro da pasta
De acordo com o fluxograma desenhado por Marco Junior, a primeira-dama teria um “operador” dentro da Secretaria de Saúde: Marcello Nóbrega, conforme foi dito, teria sido o motorista dela, informação que foi rechaçada pelo governo. Segundo a Secretaria de Saúde, ele é economista, tem qualificação e experiência para o cargo que ocupa (subsecretário de Logística e Infraestrutura da Saúde).
Primeira-dama seria forma de proteção
Márcia Rollemberg, conforme o áudio gravado por Marli Rodrigues e entregue à CPI, seria a “governadora”. E daria as cartas, principalmente na Secretaria de Saúde. “O governo é dela. Ela fez a gestão desse governo”, conta o subsecretário.
O fato de ela estar na linha de frente pode ter sido estratégia para limpar a barra do chefe do Executivo. “Se tu não pega a primeira-dama, tu não pega o governador, porque a proteção dele é essa”, arrisca.
O “delator”
Em vários momentos da gravação, Marco Junior reclama da omissão do ex-secretário e diz que ele acreditava demais nas pessoas.
O ex-subsecretário, assim como o jornalista Caio Barbieri, que aparece nos áudios fazendo questionamentos a Júnior, foi convocado para depor. Gondim, que aparece em outro áudio dizendo que há um “meio podre” na pasta, também deve ir à Câmara.
O atual secretário de Fazenda, José Antônio Fleury, Marcello Nóbrega e Ivan Castelli, que foi convidado para ser titular na Saúde, estão na lista de convocados.
À reportagem, Gondim disse que foi gravado sem autorização e que está tomando as “medidas judiciais cabíveis”. O conteúdo da gravação, ele argumenta, “não reflete meu pensamento atual”.
Saiba mais
No depoimento, Marli disse que o fluxograma desenhado pelo ex-subsecretário pode mudar a saúde pública de todo o País, por mostrar que o esquema chega à esfera federal.
“Quando chegamos no Ministério da Saúde, a história vazou e não pudemos mais continuar (com as investigações)”, explicou.
Marli e Santana serão confrontados
A sindicalista Marli Rodrigues foi categórica ao dizer aos distritais que o vice-governador se referia ao governador Rodrigo Rollemberg, quando relatou que “ele” teria autorizado a cobrança de 10% de propina em contratos da Secretaria da Fazenda.
Renato Santana, que depôs à tarde, rechaçou “veementemente” a afirmação de Marli, que saiu da Câmara sob proteção policial.
“Ele (Renato Santana) disse que o governador tinha autorizado. Ele (Rollemberg) autorizou”, afirmou Marli. Depois de ironizar as pessoas que afirmam que ele estaria tramando contra o governador, dizendo que “muita gente anda assistindo House of Cards (série política da Netflix)”, Santana afirmou que não se encontrou “com Marli para conspirar” e disse que, ao receber um relato sobre um episódio na Secretaria da Fazenda, não estava acusando ninguém. “Recebi um relato de um grupo de quatro empresários. Em seguida, compartilhei com o governador”, afirmou.
Divergências
Em função das divergências, o deputado Wasny de Roure (PT) apresentou requerimento para uma acareação. E foi aprovado por dois votos favoráveis (o dele e o do deputado Wellington Luiz, presidente do colegiado), um contra (deputado Roosevelt Vilela) e três abstenções (Robério Negreiros, Cristiano Araújo e Bispo Renato).
O petista questionou o fato de Santana ter sido omisso em não informar às autoridades sobre o suposto pagamento de propina.
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