Um dos jornais mais influentes do mundo, o “The New York Times” publicou nesta segunda-feira (6) o editorial “A Medalha de Ouro do Brasil para Corrupção”, em que questiona a firmeza do compromisso do presidente golpista Michel Temer com o combate à corrupção. O artigo começa fazendo referência à ficha suja de ministros do governo – entre os quais, sete são investigados por corrupção e pede que ele se posicione contra o fim da imunidade parlamentar para ministros e congressistas acusados de corrupção.
“As nomeações reforçaram as suspeitas de que o afastamento temporário da presidente Dilma Rousseff no mês passado, por acusações de maquiar ilegalmente as contas do governo, teve uma segunda intenção: afastar a investigação (de corrupção)”, escreve o jornal.
O texto lembra as renúncias do ex-ministro do Planejamento, Romero Jucá, e posteriormente do ex-ministro da Transparência, Fabiano Silveira, que indicaram em conversa telefônica estar tramando para atravancar o avanço da Operação Lava Jato. E afirma “Isso forçou Temer a se comprometer na semana passa com a não interferência do poder executivo nas investigações da Petrobras, que já apanhou mais de 40 figuras políticas. Levando em conta os homens que cercam Temer, fica difícil acreditar nessa promessa”, conclui.
Leia editorial na íntegra:
No mês passado, o Presidente interino Michel Temer demonstrou pouco discernimento ao apontar um gabinete formado exclusivamente por homens brancos em seu primeiro dia no poder. É compreensível que isso tenha causado descontentamento em um país tão etnicamente diverso quanto o Brasil.
A indignação foi complementada pelo fato de que sete dos novos ministros estavam envolvidos em um escândalo de corrupção e em uma investigação que abalou a política brasileira. As nomeações reforçaram a suspeita de que o afastamento temporário da Presidente Dilma Rousseff no mês passado por suposto uso de manobras fiscais ilegais visando equilíbrio orçamentário tinha segundas intenções: encerrar as investigações. No início deste ano, Dilma disse que, a longo prazo, seria saudável para o país permitir a continuidade das investigações sobre propinas na Petrobras.
Duas semanas depois da posse do governo interino, Romero Jucá, Ministro do Planejamento de Temer, pediu demissão após um jornal publicar telefonemas gravados em que o ex-ministro parecia apoiar a saída de Dilma como parte de um acordo entre legisladores para “proteger a todos” os envolvidos no escândalo. Essa era a única forma, disse Jucá, de garantir que o Brasil “volte à calma”. No fim do mês passado, o Ministro da Transparência Fabiano Silveira, responsável pelo combate à corrupção, foi forçado a se demitir após outro constrangedor vazamento de uma conversa gravada secretamente.
Isso forçou Temer a se comprometer na semana passa com a não interferência do poder executivo nas investigações da Petrobras, que já apanhou mais de 40 figuras políticas. Levando em conta os homens que cercam Temer, fica difícil acreditar nessa promessa. Para ganhar a confiança dos brasileiros (grande parte dos manifestantes consideram a suspensão de Dilma um golpe), o presidente interino e seu gabinete precisam tomar medidas concretas contra a corrupção.
De acordo com a lei brasileira, altos funcionários do governo, incluindo legisladores, desfrutam de foro privilegiado na maioria dos casos. A cultura de impunidade e corrupção institucionalizada foi claramente facilitada por essa proteção excessiva. Foi descoberto por investigadores que os contratos da Petrobras quase sempre incluíam uma taxa fixa para propinas e que o dinheiro dos subornos era desviado para partidos políticos. A Petrobras reconheceu no ano passado que pelo menos US$ 1,7 bilhão de suas receitas tinha sido usado em subornos.
“Esquemas de corrupção sistêmica são danosos porque impactam a confiança na regra da lei e na democracia”, escreveu Sérgio Moro, o juiz que lidera as investigações da Petrobras, em um artigo na revista Americas Quarterly no mês passado. E acrescentou, “os crimes que são revelados e comprovados, respeitando o rito processual, devem ser punidos”.
O Brasil não é o único país na região atormentado pela corrupção. Um escândalo na Bolívia prejudicou a imagem do Presidente Evo Morales. A Colômbia começou uma campanha anticorrupção em resposta à descoberta de propinas em contratos de estado. Guatemala e Honduras encontram-se sob forte pressão internacional e aceitaram a entrada de uma força tarefa composta por especialistas estrangeiros para ajudar os promotores locais na realização de investigações de maior visibilidade.
Não se sabe o esforço que Temer está disposto a fazer para eliminar a corrupção. Se estiver de fato empenhado, e quiser acabar com as suspeitas sobre as segundas intenções do afastamento de Dilma, seria prudente propor uma lei que retire a imunidade de legisladores e ministros em caso de corrupção.
Da Redação da Agência PT
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