Tão longe e tão perto.
Marx, não diferente do que pretendo, começa a destinar sua ironia logo pelo título de sua obra. Ironia tal, que nasce do comparar entre o primeiro Napoleão, que também havia dado um golpe de Estado, em nove de novembro de 1799, para tornar-se Cônsul da França, com o seu sobrinho. Acontece, que o calendário que o país havia adotado após a revolução de 1789 correspondia tal data como o dia 18 do mês de Brumário. Assim, Marx compara que o golpe dado por Napoleão III era apenas uma cópia ou, simplesmente um plágio daquele que foi dado antes por seu tio.
Ainda sobre essa obra, analisando e formulando sobre aqueles fatos que haviam acabado de acontecer, Marx repara que: “os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”. Ou seja, ele quis mostrar que apesar do povo ser o protagonista da história humana, as pessoas (a sociedade), só é capaz de agir nos limites que a realidade impõe. Então, a chave para escrever a atual história, não esta só no Congresso, como também, na luta que a sociedade (o povo deve fazer).
Por outro lado, as ações individuais que a “mídia” tanto infla, propaga e alardeia sobre Cunha não são diferentes do que Marx denunciava sobre as expansões individuais de Luis Bonaparte III em sua obra. Essas, por sua vez, não ocupam papel central na minha visão como na de Marx. Para ele e, para esse que aqui escreve, o motor da história segue sendo a luta entre as classes sociais, responsável por produzir as transformações mais importantes. E é nela, que a Classe Trabalhadora do Brasil tem que se agarrar como força poderosa de reação contra o Golpe do Impeachment, até porque não é o Deputado Cunha que tem força para emplacar isso.
Numa conta rápida, ele é tão somente um deputado que nem terá voto no plenário após o resultado da Comissão Especial, agora, por sua vez, quantos votos terão a Bancada da Bala, a Bancada do Latifúndio, a Bancada Conservadora (resquício da Ditadura), a Bancada dos Monopolistas Financeiros e a Bancada Fundamentalista? Lembro aqui, que pelo nosso lado só existe a Bancada Progressista e, ela, por sua vez, terá que buscar apoio da Bancada da Governabilidade e dos Políticos Sério.
Ainda sobre as comparações, como na obra, Marx diz que: de um lado, estão sempre os dominadores e do outro, sempre os dominados. Os primeiros são os que detêm os “meios de produção” (terra, propriedade privada, os meios de produção e etc.), esses, hoje tem um lado muito claro. Já os segundos são aqueles que só possuem a própria força de trabalho e, esses, estão ainda candidamente abrindo os olhos, o lado desses, é o de Defesa da Democracia. Não se enganem, já que pelo nosso lado não há o poder financeiro, o que nos resta é fazer política por coerção de massas.
Já por outro sentido, paradoxalmente e por caminhos antagônicos a Burguesia esta no centro da questão. Na obra de Marx, a Revolução Burguesa marcou a mudança de posição da burguesia no grande jogo quando os mesmos enfrentam o parasitismo da nobreza, cominando na derrubar a monarquia. A burguesia foi se transformando aos poucos, em toda a Europa e depois no resto do mundo, na nova classe dominante. Assim como resultado, deixou de ser revolucionária e se tornou conservadora, preocupada agora, em manter a ordem vigente.
Depois dessa ascensão da burguesia, o proletariado ocupou esse espaço vago como classe revolucionária da história. No Brasil, depois das lutas contra o Golpe Militar e pela Redemocratização do país, isso em 1989, um operário quase ganha as eleições, tal fato, ascendeu o sinal vermelho da burguesia nacional. Ela sem saber o que fazer para resolver essa ameaça aos seus interesses chega como única alternativa, destinar uma enorme energia de apoio a um candidato quem nem era o deles, para depois frita-lo mais à frente.
Destinados a não ficar mais refém desse susto, os mesmos criaram um pacto com um candidato viável. Assim eles hegemonizaram seus os outros dois governos e pegaram a economia nacional para si e seus interesses tão parasitários quanto os da monarquia que eles haviam derrubado anteriormente. E em resposta a isso, a Classe Trabalhadora se destinou numa enorme e gigante jornada de enfrentamento, quem não sem lembra das lutas contra o NeoLiberalismo na década de 1990?
Até que em 2002, um cara barbudo, retirante nordestino que não foi convidado para o banquete deles, se torna a representação dos acúmulos mais genuíno dessa histórica de grandes batalhas. Esse cara aí, através do povo, resolve entra na sala deles e rouba sua caneta. Esse homem de coragem é o Lula.
A verdade é que eles não conseguem aceitar que estamos governando o país de lá pra cá. A tentativa de Impeachment é nada mais, nada menos, do que nos tirar dessa sala, mesmo que Dilma ocupe-a sobre o crivo eleitoral da maioria da população.
Finalizo essa comparação dizendo que Marx no18 Brumário de Luis Bonaparte, focou em demonstrar que a atitude do sobrinho de Napoleão tinha sido apenas um resultado natural, quase previsível, dos rumos que a história da França estava tomando desde a revolução de 1789. E que não há nada de diferente, na questão do Eduardo Cunha aceitar e dar seguimento ao processo de Impeachment, isso, por sua vez, é tão somente dar seguimento ao ciclo natural dos avanços desesperados de nos expulsar da sala de reunião ocupada pelo povo através do operário, barbudo e retirante nordestino. Eles acham que esse espaço de poder é deles, tão somente deles.
Nós não temos os aparelhos de comunicação, não temos os tribunais e nem outros espaços de poder, o único e tão somente o únco espaço de poder que a classe trabalhadora ocupou, hoje é o que querem tirar, na marra e no golpe.
Assim como Luis Bonaparte III, derrotado na Guerra Franco-Prussiana por erros estratégicos e desvios egocentricos e patológicos, Eduardo Cunha será derrotado nas batalhas contra o Impeachment e pela cassação dele, isso, pelos mesmos motivos. Já a Guerra Pela Democracia, essa será ganha pelo povo, quem viver verá!
Pedro Del Castro
Filósofo e marxista, consultor político, militante do PT e ex-assessor da CUT-DF. Atualmente é assessor da Fundação Cultural Palmares.