A crise ambiental é, sem dúvida alguma, o maior impasse do capitalismo em sua crise mundial, que se iniciou em 2008, mas ao cruzar de sete anos, começa a aparentar que assume a forma da existência do próprio capital.
Através da escassez de energia, água potável, terras cultiváveis e de todo tipo de recursos naturais renováveis, além das questões das mudanças climáticas e os impactos imprevisíveis da acelerada extinção de grande número de animais e de vegetais responsáveis pela manutenção de elos tão preciosos da cadeia alimentar, chegaremos à constatação de que a humanidade, mais uma vez, caminha para um futuro de desalento estrutural.
E em resposta a isso, sabendo da incapacidade de superação, mas pelo menos buscando alcançar alguma espécie de encaminhamento objetivo para minimamente conseguir dar passos significativos de enfrentamento a esse quadro tão grave e desalentador, os governantes das principais economias globais se reuniram mais uma vez.
A 21ª Conferência do Clima (COP 21) será realizada em dezembro de 2015, em Paris, e terá como principal objetivo costurar um novo acordo entre os países para diminuir a emissão de gases de efeito estufa, diminuindo o aquecimento global e em consequência limitar o aumento da temperatura global em 2ºC até 2100.
Se de um lado a COP 15 se declarou incapazes de constituir um fundo com irrisórios 100 bilhões de dólares para combater os efeitos mais emergentes das catastróficas mudanças climáticas previstas pelo IPCC (Painel Intergovernamental do Clima), isso, por pressões do grande monopólio empresarial mundial. Por outro, as teses para a COP 21 chegam sem tanta interferência do monopólio econômico, até porque, a sinalização é tão quanto pior, mas que agora segue no sentido da política imperialista, que buscará fechar um documento comum que respalde ações intervencionistas, ferindo a soberania nacional da maioria dos países pelas grandes potencias mundiais.
Acontece que ao redor do mundo grandes empresas capitalistas alardeiam políticas de sustentabilidade, ocultando que, em última instância, a incontornável necessidade de expansão permanente da produção e consumo de mercadorias reduz seu discurso ambientalista à mera propaganda. Inúmeras instituições científicas internacionais repetem incansavelmente que a simples manutenção dos atuais padrões de produção e consumo pode culminar em algumas décadas com a liquidação das condições ambientais necessárias, adequadas à preservação da vida, em especial da vida humana no planeta.
A predação do meio ambiente também reflete a divisão internacional do trabalho, com a exportação para o terceiro mundo das indústrias intensivas em consumo energético e de materiais, bem como emissoras de grandes volumes de poluentes.
Esse processo possibilita uma compatibilização da agenda ambiental com a dinâmica do desenvolvimento do capitalismo nos países centrais, cujo crescimento econômico é cada vez mais alicerçado na tecnologia da informação, nos serviços financeiros e na pesquisa científica, com a consequente desmaterialização da produção. Aos países periféricos ou emergentes, cabe à produção industrial pesada e altamente poluente. Essa dinâmica revela a total incompatibilidade entre qualquer agenda ambiental séria e o ciclo de desenvolvimento capitalista nos países periféricos.
O Brasil, na contramão de toda essa lógica, não só por ter (assim como a África) um dos mais completos, complexos e intocáveis biomas do globo, é também o país com o maior celeiro hídrico e alcançou a marca de sétima economia do mundo, então como consequência, na última década, assumiu o papel protagonista na questão ambiental e da defesa da vida no planeta. O Brasil, ancorado numa consistente e firme política que hierarquiza primeiramente os anseios responsáveis da vida humana, é sem dúvida alguma, o país que enfrentará com a autoridade necessária os desvios degenerados dos grupos econômicos e da política intervencionista imperialista global. Ou seja, o Brasil é o grande guardião da humanidade no planeta.
Pedro Del Castro
Filósofo e marxista, consultor político, militante do PT e ex-assessor da CUT-DF. Atualmente é assessor da Fundação Cultural Palmares