Em entrevista exclusiva o deputado distrital e secretário-geral do PT/DF, Ricardo Vale, fala sobre a importância histórica do Partido dos Trabalhadores para o Brasil e sobre a necessidade de organização para enfrentrar o próximo período de crise política. Além disso Ricardo também falou sobre a atual gestão do GDF.
1 – Deputado, como o senhor avalia a importância do PT na continuidade de um projeto que defende os menos favorecidos na sociedade?
O Partido dos Trabalhadores é indispensável para os menos favorecidos no Brasil. Sem ele, a classe operária de nosso país perderia o melhor instrumento de conquistas que surgiu nos últimos 500 anos.
O PT é o único partido do Brasil que tem uma base social consolidada, que dialoga com a classe trabalhadora de igual pra igual. Mesmo depois de tantos ataques ao partido, durante esses anos que o PT está à frente do governo federal, ainda conseguimos permanecer no comando do país e continuamos a mudar a vida de quem mais precisa do Estado.
2 – A conjuntura política está, cada dia mais, complicada para o PT. Onde foi que o partido errou?
O partido errou quando começou a fazer o que os outros partidos de centro esquerda e da direita sempre fizeram, ou seja, manter as políticas de alianças na base do “toma lá, dá cá”. O PT reproduziu o sistema de poder baseado em apoios de empresas e empreiteiras que sempre financiaram o sistema político brasileiro.
A elite e os poderosos do Brasil perceberam que com esse apoio financeiro e a penetração social que o partido tem na sociedade, o PT não sairia do poder tão cedo. Eles não iam deixar isso barato, porque nunca nos aceitaram, não engolem que um operário tenha sido eleito e que depois tenha emplacado, na Presidência da República, uma mulher. Por isso, agora, denunciam o PT como se ele fosse o único partido a ter se utilizado da aproximação com o capital financeiro para se perpetuar no poder.
Acontece, que a sociedade não perdoa o PT por ter se igualado a esses partidos da direita. Mesmo que a gente tenha promovido 12 anos de mudanças estruturais na vida da população menos favorecida, eles não aceitam que o PT tenha sucumbido, simplesmente, porque o PT foi constituído para ser diferente.
3 – Ainda existe chance de o PT conquistar o espaço, que parece ter perdido, junto aos movimentos sociais, servidores públicos, artistas e trabalhadores em geral?
Claro que sim, o PT perdeu muito espaço, mas ainda é o único partido que dialoga e entende os principais problemas da classe trabalhadora. Veja aqui no DF, com a derrota do governo Agnelo, o governo social democrata de Rollemberg tentou de todas as formas, nos primeiros meses de mandato, retirar conquistas dos trabalhadores, aumentar impostos, e sacrificar os movimentos sociais, e qual foi o partido que junto com os sindicatos, com as diversas categorias de trabalhadores e movimentos sociais impediu isso? Foi o PT, claro! A Bancada do PT na CLDF teve uma atuação fundamental para a manutenção das conquistas dos trabalhadores. Os servidores públicos do DF sabem disso e podem começar a se arrepender de não ter apostado no governo do PT aqui.
4 – O senhor é secretário-geral do PT/DF. Como o partido está pensando sua atuação para o próximo período?
O PT tem se preparado, tem conversado, feito reuniões e muitos encontros para melhorar sua atuação na defesa de suas bandeiras históricas, acabamos de ter uma derrota muito dura no DF e corremos um sério risco de perder as eleições nacionalmente em 2014. Ainda estamos avaliando como retomar o fôlego depois de tantos ataques e diversas tentativas de criminalização do partido e de nossas lideranças. Neste momento o partido precisa agir de forma mais coesa, com sua direção, suas bancadas, sindicatos, movimentos sociais e alguns setores de esquerda que precisam estar juntos para combater essa onda conservadora, reacionária e de tentativa de retirar conquistas dos trabalhadores. Se agirmos em conjunto, dialogando com a sociedade, o povo entenderá o que está acontecendo no Brasil e aqui no DF.
5 – O senhor acha que o governador Rollemberg vai precisar da bancada do PT na CLDF?
O governador Rollemberg sabe que precisa da Dilma e do governo federal mas acha que não precisa do PT no Distrito Federal e nunca fez um gesto de aproximação com o partido no DF. Mesmo assim, pela responsabilidade que temos com o povo de Brasília, nossa bancada na Câmara Legislativa colaborou com seu governo em muitos momentos durante esses seis primeiros meses de governo. O governador não conseguiu ter uma maioria sólida de deputados na Câmara para aprovar projetos importantes para nossa cidade e nós, da bancada do PT, tivemos a responsabilidade de votar sem rancor, em nome da melhoria de vida do povo do DF.
O Governo de Brasília está muito próximo de fechar um bloco de apoio na CLDF. Ao que tudo indica esse bloco será composto pelas forças mais atrasadas desta cidade, neste caso, não restará opção para a bancada no PT/DF, a não ser intensificar a oposição ao governo. Estaremos juntos com os movimentos sociais e os sindicatos de trabalhadores na luta pela manutenção dos direitos conquistados e em busca de mais direitos. O governador Rollemberg chega ao ponto de se afastar de Reguffe e Cristovam, que foram fundamentais em sua eleição, para se aproximar desses setores mais conservadores da política no Distrito Federal.
6 – Como a bancada atuará nessa oposição ao governo e na reaglutinação social da base petista?
A bancada precisa intensificar sua atuação na Câmara Legislativa em sintonia com o partido, não podemos achar que somos fortes, sem nossa base social, sem nossa militância e sem o PT. Uma ação conjunta na fiscalização e cobranças de Rollemberg certamente vai resgatar a confiança e o respeito que sempre tivemos em nossa cidade. Não podemos deixar que o individualismo nas ações atrapalhe o interesse maior do PT, que é continuar mudando a vida do povo para melhor. Nada de personalismo neste momento! Somos um partido forte e juntos temos mais capacidade de diálogo com a população.
7 – O senhor acha que a população vai sentir falta da gestão do governo do PT aqui no DF? Por quê? Qual a diferença de fundo entre os dois projetos?
Gostaria que não sentisse. A população não quis mais o PT do governo, mesmo com o governo do PT tendo sido muito bom, em minha opinião. A gestão passada pegou o DF completamente destruído e foi arrumando a casa, colocando as coisas no lugar. Óbvio que ainda tinha muita coisa para fazer, mas o essencial, que era investir no ser humano, o governo do PT estava fazendo. As mudanças estruturais demoram a aparecer, mais existia uma prioridade pelo povo. Fizemos um investimento absurdo em saúde, em melhores condições e salários para os servidores públicos, em transporte, moradias e mobilidade urbana. Mesmo assim, o povo foi às urnas e disse não ao nosso projeto. A grande mídia trabalhou bem para não deixar a população perceber os avanços que trouxemos para o DF. Já o atual governo assumiu o GDF e nos primeiros meses mostrou à população como funcionará sua gestão. A lógica deles é do Estado Mínimo. Quanto menos direitos para os que mais precisam, mais acúmulo para os que sempre se beneficiaram com o Estado. O governador Rollemberg fez uma opção por governar ao lado de gestores ligados ao PSDB. Essa lógica perversa de governo do PSDB a gente já conhece e sabe onde vai dar. Penso que os moradores do Distrito Federal vão sofrer muito com as opções políticas feitas pelo atual governo. Mas, eu torço para que o governador entenda que o DF não pode retroceder nas conquistas!