Presidente do PT/DF, Roberto Policarpo, fala sobre a derrota eleitoral sofrida em 2014, sobre a oposição ao governo de Rollemberg e faz uma análise de conjuntura sobre a atual situação política.
1 – Presidente, o PT/DF sofreu uma grande derrota nas eleições de 2014, com a saída do candidato Agnelo Queiroz, da disputa eleitoral, ainda no 1º turno. Qual a avaliação do partido sobre a derrota?
O PT/DF reuniu-se em março e fez profundas avaliações sobre a dura derrota que sofremos nas ultimas eleições. Todas as forças políticas do PT contribuíram com o debate, que culminou em uma plenária com centenas de filiados para um balanço eleitoral e político. Temos o entendimento que erros foram cometidos durante os quatro anos da gestão Agnelo. Agora, a derrota também se deu pela existência de uma conjuntura nacional adversa, marcada pelo crescimento da hostilidade ideológica e política contra o PT. Realizamos uma gestão muito fragmentada, tanto do ponto de vista político, quanto do ponto de vista ideológico e social. Não conseguimos alcançar um corte de classe que favorecesse a implementação de um autêntico modo petista de governar. Nossas opções ficaram muito aquém do que a população espera de um governo do PT. Nos penitenciamos por não termos adotado uma postura mais firme de questionamento dos rumos do Governo, cuja ampla coalizão abrigava Partidos e interesses dos mais diversos, muitas vezes conflitantes com nossa história e convicções programáticas. Em que pese à força do Partido na composição do Governo, não agimos com unidade partidária suficiente para buscar coletivamente imprimir nossas marcas. Também é preciso levar em conta a postura do governador Agnelo que, no afã de manter a ampla coalizão, relativizou a relação política com o PT/DF, autonomizando cada vez mais o Governo e suas decisões.
2 – Mas, a gestão do PT no GDF deixou muitos legados positivos ao Distrito Federal. Em sua opinião quais são as principais contribuições deixadas para a população?
Nós não podemos esquecer que assumimos o governo com uma herança grave provocada pela crise advinda da Operação Caixa de Pandora, que desorganizou todas as áreas do GDF. Nossa gestão encontrou um governo literalmente destroçado. Erradamente talvez, não trabalhamos na desconstrução política e administrativa de nossos antecessores preferindo enfrentar toda sorte de desafios até começarmos a executar diversas políticas públicas no DF. Nesta conjuntura adversa, reconhecemos e exalte os avanços produzidos em diferentes áreas do governo, especialmente áreas que estavam na gestão de quadros políticos petistas. A parceria com o governo federal e a experiência dos gestores do PT que estavam no governo fez com que trabalhássemos com um olhar social diferenciado para o povo do DF. Reformulamos completamente os dispositivos de acesso da população à casa própria e à escrituração de seus terrenos; criamos, pela primeira vez no DF, um amplo programa de construção de creches públicas para atender mães carentes que não conseguiam trabalhar com dignidade; alteramos completamente o Sistema de Mobilidade Urbana, com reformulação completa dos transportes coletivos, que passou a contar com ônibus novos, BRT e a implantação de ciclovias e ciclofaixas por todo o DF. Além disso, eu destacaria os avanços nas ações adotadas pelo GDF no combate à corrupção e o aumento do controle por parte da sociedade civil. Diversos mecanismos foram adotados, como por exemplo: a ouvidoria geral e a secretaria de transparência. Não podemos esquecer que foi nessa gestão que o DF teve o maior número de servidores públicos concursados e nomeados na Educação, Saúde e Segurança Pública. Também foi nessa gestão que garantimos o passe livre para os estudantes do DF, alcançando 165 mil pessoas beneficiadas. O PT reconhece e lamenta os erros da gestão Agnelo, particularmente os ocorridos no último período do governo decorrentes da crise financeira, mas nosso legado à população do Distrito Federal é inegável e tenho certeza que será mais e mais lembrado, principalmente quando o atual governo começa a mostrar seus fracassos e incompetências.
3 – Qual a sua avaliação sobre os seis primeiros meses do Rodrigo Rollemberg à frente do GDF?
Até agora o Governo vive uma farsa, sintoma de uma tragédia anunciada. Já em seus primeiros momentos, transformou as dificuldades de pagamento, no final de ano, de parcelas dos servidores e terceirizados do GDF em um MITO da crise financeira, mentindo e omitindo descaradamente acerca da real situação das contas públicas, com amplo apoio e mobilização de mídia. Como dizem seus próprios aliados e eleitores, isso tem servido, até recentemente, para encobrir a incompetência e inapetência política em todos os níveis de Gestão. Na verdade, Rollemberg perdeu seus seis primeiros meses agindo como se o DF ainda fosse governado pelo PT. Todos os dias o próprio governador ou alguém do seu governo fala do ex-governador Agnelo. Sei que uma gestão, quando assume, demora um tempo para se adaptar e conhecer a máquina pública – nós também passamos por isso e tínhamos uma herança maldita do governo Arruda – mas já está na hora dessa nova gestão do GDF começar a assumir seus erros e dar respostas para os problemas que o DF enfrenta na saúde, educação, transporte público e na gestão dos servidores públicos, antes que o fracasso lhe suba à cabeça.
4 – Que será o posicionamento do PT/DF com relação ao GDF?
Temos clareza que este é um governo de pouca nitidez e firmeza política e ideológica, sujeito a malabarismos e cambalhotas que facilmente podem levá-lo a abraçar o que há de pior do receituário neoliberal da direita no Brasil: a mesma cantilena das privatizações, enxugamento do Estado que, aos que têm memória, tantos prejuízos causaram à nossa cidade. Contudo, ao contrário da forma insana, raivosa e vingativa com que Rollemberg tem nos tratado, não nos interessa aplicar a Lei de Talião. Temos consciência que a fase de adversidades, locais e nacionais, que enfrentamos será ultrapassada e que nada poderá apagar nossa história de compromisso com os trabalhadores e o povo do DF. Isso nos credencia a adotar a firme postura de oposição já aprovada pelo Partido, acompanhando de maneira crítica e permanente o conjunto das ações do Governo, tendo sempre em mente a defesa dos interesses dos trabalhadores e da cidadania.
5 – A legenda tem passado por uma crise política em nível nacional? O senhor acha que este é o pior momento na história do PT?
O PT é um partido que já nasceu no enfretamento a períodos duros da história. Nós fomos forjados na luta. Sei que este é um momento muito crítico para o Partido dos Trabalhadores e para o governo, mas não acho que seja o pior momento que já passamos. Os militantes enfrentaram a ditadura militar e estiveram presentes durante todo o período de construção democrática do país. Nós participamos de disputas eleitorais pesadíssimas e enfrentamos com altivez o chamado período do “mensalão”, dentre tantas outras adversidades. A militância do PT é forte e aguerrida. Não foge de uma boa luta.
6 – Como avalia a conjuntura nacional?
Saímos de uma disputa eleitoral vitoriosa, onde a maioria dos brasileiros optou pela continuidade do governo do PT. Mas parece que os derrotados no processo eleitoral não sabem o que é uma decisão soberana do povo. Talvez seja porque eles não entendem o povo, não tenham convivência com ele. É difícil aceitar uma decisão popular e democrática quando não se tem uma vivência desses princípios. O PSDB precisa aceitar que perdeu as eleições e parar de disputar o posto da Presidência da República.
É claro que o mundo vive uma grave crise econômica. Aqui no Brasil nós conseguimos segurar esse colapso do sistema durante muito tempo, mas a crise também chegou aqui. Não podemos negar isso! Mas, a Presidenta Dilma e o governo federal já têm tomado várias medidas para que possamos sair o mais rápido possível dessa crise. Não é fácil lidar com os interesses econômicos de um país tão grande e diverso como o Brasil. São muitos interesses empresariais em jogo, são muitos interesses individuais que se confundem com interesses coletivos. Eu tenho certeza que temos uma diferença no enfrentamento dessa crise: o PT e o governo petista coloca a melhoria da vida do trabalhador brasileiro em primeiro lugar ao adotar as medidas econômicas que vão nos fazer sair da crise. Está aí uma coisa que a população precisa entender!
7 – Como o PT/DF está se organizando para ajudar o partido nacionalmente?
Temos feito reuniões estratégicas. A Executiva do PT local está se encontrando constantemente para avaliar a conjuntura nacional e se organizar para enfrentarmos esse próximo período, que tende a ser de muitos confrontos políticos e ideológicos. Estamos em sintonia com o PT nacional e temos conversado cotidianamente com o Rui Falcão, presidente do PT. Não vamos engolir essa movimentação para um possível golpe no governo da Presidenta Dilma. Nós estamos atentos e preparados para ir às ruas defender os trabalhadores e seus interesses. Não temos medo da luta, fomos forjados nela. Temos uma história para defender e faremos isso sem hesitar.
Brasília, 13 de julho de 2015
ROBERTO POLICARPO
Presidente Regional do PT-DF