Não obstante os avanços ocorridos nos últimos 12 anos, o Brasil ainda é um dos países com maior desigualdade social do planeta. A melhoria de vida dos mais pobres, que deveria ser saudada por todos os brasileiros, é vista com contrariedade por muitos, especialmente a elite.
Nossos 515 anos de história são marcados pela perseguição aos mais pobres, aos excluídos: roubo das terras e extermínio dos indígenas, escravização dos negros, negação dos direitos trabalhistas aos operários, reclusão dos favelados, etc. Infelizmente temos dois Brasis, onde a “turma do andar de baixo” luta por direitos (trabalho, moradia, saneamento, saúde e educação públicas e de qualidade) e a “turma do andar de cima” briga para sustentar privilégios.
São os que resistem a qualquer alteração nas alíquotas do imposto de renda, tornando nosso modelo tributário uma excrecência, com tributos incidindo sobre a produção e o consumo, e não sobre a renda e a riqueza; desejam o dólar “barato” para poderem viajar frequentemente para o exterior, mesmo que isso implique em acentuados rombos em nossas contas externas; gozam de isenções de IPVA em jatinhos e iates; rebelam-se contra correção das tabelas de IPTU; repudiam as cotas sociais e raciais nas universidades públicas; invadem descaradamente áreas públicas (vide nossa orla); sonegam impostos e desqualificam programas sociais enquanto defendem com unhas e dentes as isenções, desonerações e subsídios para as grandes empresas.
Na lista de cerca de 8 mil brasileiros com contas irregulares no HSBC da Suíça, detentores de US$ 7 bilhões sonegados, certamente estão respeitados senhores de nossa elite, inclusive alguns que protestaram contra a corrupção na Avenida Paulista.
Tendo “modelos” de sociedades mais solidárias, com alta coesão social, como as escandinavas, nossa elite prefere se referenciar na norte-americana, caracterizada pelo individualismo e o egoísmo, sob o lema: “Farinha pouca, meu pirão primeiro”.
Júlio Miragaya
Vice-Presidente do Conselho Federal de Economia
Publicado originalmente no Jornal de Brasília – 26.03.2015 – Página 19 – OPINIÃO