Afetada pela crise econômica mundial, a economia brasileira passa por momento crítico. O governo parece agora reconhecer o erro cometido ao tentar estimular a economia mediante a “farra” de subsídios, desonerações e isenções fiscais e, mesmo sob forte restrição fiscal, deve agora buscar retomar o crescimento. Os primeiros passos são dar fim a sobrevalorização do Real, eliminar as isenções fiscais e promover o ajuste nas tarifas.
A retomada do ritmo de crescimento, contudo, deverá ocorrer num ambiente político conturbado, com a oposição fortalecida buscando “sangrar” o governo federal, expressão do senador paulista Aloysio Nunes. O fato é que os protestos de 15/3 mobilizaram muita gente, notadamente nas capitais em que o candidato de oposição teve votação majoritária, como São Paulo, com 200 mil pessoas – segundo cálculo do Datafolha -, Porto Alegre, Curitiba, Vitória, Goiânia e Brasília, entre 30 mil e 50 mil. Já nos estados onde a presidente foi vitoriosa, o público foi bem menor: 15 mil no Rio e em Belo Horizonte, 10 mil em Salvador e Fortaleza e 5 mil em Recife. Capitais como São Luís, Teresina, João Pessoa e Aracaju reuniram menos de 2 mil manifestantes.
Embora os protestos tenham sido, sobretudo, de eleitores de oposição – evidenciado pela ausência de cartazes exigindo a apuração da corrupção no metrô de São Paulo, bem como denunciando como “estelionato eleitoral” a omissão, na campanha, do racionamento de água em São Paulo – é inegável que boa parte dos que votaram na presidente estão insatisfeitos.
Na democracia é assim, eleitores de oposição exercem seu direito de protestar, da mesma forma que eleitores de Lula foram às ruas contra o governo de FHC. Ao governo, cabe sair da paralisia e trabalhar pela recuperação da economia, sem, contudo, mexer nas conquistas sociais. É o que, de fato, o povo e o país esperam.
Júlio Miragaya
Vice-Presidente do Conselho Federal de Economia
Publicado originalmente no Jornal de Brasília – 19..03.2015 – Página 18 – OPINIÃO
