(O verão de Janeiro em luta e o acordar para a primavera)
Poderia começar esse artigo com outros tipos de adjetivações, mas preferi escolher a palavra “interessante”, pois nela se aglutina eixos de algo importante, de merecedora atenção, de algo que não é entediante e nem monótono. De algo cativante, que inspira simpatia, ou seja, merecedor de atenção, algo que intriga.
Acontece, que desde a reunião ocorrida na primeira semana do verão de Janeiro, no Auditório Adelino Cassis, situado na sede da Central Única do Trabalhadores de Brasília, cujo o intuito era debater conjuntura, encaminhamentos e enfrentamentos para as campanhas salariais do primeiro trimestre, parece que o conteúdo da panela ferveu e a tampa explodiu.
Dois dias depois, veio um ato unificado, antes já havia um acampamento na frente do Palácio do Buriti dos trabalhadores da Educação e Saúde que estavam a exigir seus pagamentos atrasados. No final de semana, a CUT produz um informativo e vai as feiras e praças de várias cidades para alertar a população dos problemas que vivem aquelas categorias. O resultado foi surpreendente no ponto da população em solidariedade aos trabalhadores.
Em prosseguimento a CUT realiza um ato unificado dos Bancários, Vigilantes e Ecetistas (trabalhadores do correio) e, logo após, vão até a Praça do Relógio em Taguatinga para fazer uma espécie de esclarecimento a população sobre a situação dos servidores da educação, saúde e terceirizados.
Sem avanços nas conversas com o Governo do Distrito Federal, mais ações acontecem, só que agora no Gama, Ceilândia e Planaltina, isso se somado a resistência no Acampamento da Classe Trabalhadora e a greve dos trabalhadores da limpeza urbana.
Artistas se solidarizam com a luta, o Sindicato dos Servidores do DETRAN entra com um mandado de segurança para que o GDF garanta o recebimento de férias, os trabalhadores do asseio e conservação do Sindserviço definem greve geral e no decorrer dos dias que seguem, fazem vários atos e manifestações. Rodoviários e trabalhadores do campo se somam em solidariedade aos servidores da educação e também fazem ato político. Já os rodoviários começam a fazer paralisações e os vigilantes decretam greve geral, logo após isso, os trabalhadores da limpeza urbana param as suas atividades.
E assim, ainda no verão de Janeiro, tão regado pelo calor, sol fervente e muita luta, chega a esperada primavera. Não a primavera como uma das quatro estações do ano, mas como o período mais bonito, o período das flores, nesse caso, as flores da bonita vitória.
Já bastaria como resultado as vitórias dos trabalhadores terceirizados no asseio e conservação, a dos vigilantes e a degenerada planilha do GDF de recebimento dos atrasados para os trabalhadores da educação e saúde, mas isso, por si só, não justifica a adjetivação de primavera.
A primavera vai acontecer, no momento em que a classe trabalhadora em suas datas bases, ou outras categorias em solidariedade descobrem a necessidade de se organizar e, em luta, para além de afetar as forças produtivas com suas manifestações e paralizações, descobrem o que é a solidariedade de classe e a importância de envolver a sociedade nesse processo.
A primavera, é uma direção política que não participou do processo de redemocratização e de retomada dos sindicatos dos interventores, que só conhece por documentários e livros de formação a luta da tão nova classe operaria no Brasil e que viu as grandes lutas contra o FMI e o Neoliberalismo sendo feitas pelos seus pais, tios e tias, mas, que hoje, numa conjuntura sem tantas adversidades como as outras, é capaz de dar continuidade a um processo histórico iniciado desde quando os trabalhadores descobriram que são capazes de criar o seu próprio destino.
Pedro Del Castro é filósofo e marxista, consultor político, assessor do CDES-DF, militante do PT e ex-assessor da CUT DF.