A VONTADE DO POVO

Alguns analistas políticos têm afirmado que nessa eleição eclodiu uma suposta onda anti-PT. De fato, observou-se, em alguns círculos, um ódio visceral ao PT. Mas trata-se de um sentimento generalizado? Os números mostram que não: a) Dilma foi a mais votada no 1º turno, com 43,3 milhões de votos e ampliou a votação para 54,5 milhões no 2º turno; b) candidatos do PT a governos estaduais venceram em Minas Gerais, Bahia, Ceará, Piauí e Acre; c) o PT elegeu a maior bancada para a Câmara dos Deputados e terá a 2ª maior bancada no Senado e d) o PT, com 17%, segundo o Datafolha, tem quase o dobro da preferência de todos os demais partidos somados.

Penso que não há nenhum sentimento anti-PT no povo, que sabe muito bem que, nos governos Lula/Dilma, o Brasil cresceu gerando emprego e distribuindo renda, ao passo que, no governo FHC, desempregou e concentrou a renda.

O que há de fato é uma cruzada anti-PT, concentrada na elite e em larga parcela da classe média, numa tentativa de “demonizá-lo”, onda conservadora recorrente no Brasil, como o udenismo lacerdista e as marchas pró golpe militar em 1964. De forma egoísta e intolerante, não aceitam a ascensão social dos mais pobres e os programas sociais implementados pelos governos do PT têm sido um dos instrumentos de tal ascensão. O Brasil não está dividido. Sempre esteve, e sempre estará enquanto prevalecer a extrema desigualdade.

Esse sentimento anti-PT é fortemente alimentado pelos “barões da mídia”, que batem na tecla da corrupção, como se ela tivesse sido inventada pelos governos do PT. Casos de corrupção certamente ocorreram no governo Dilma, mas foram ou estão sendo investigados. Por que razão, contudo, os “barões da mídia” não cobram também investigação e punição para o Mensalão Tucano de Minas ou o pagamento de propina a dirigentes do PSDB nas obras do metrô de São Paulo, assim como para os escândalos no governo FHC?

Júlio Miragaya – conselheiro do Conselho Federal de Economia

Publicado originalmente no Jornal de Brasília –30.10.14 – Página 19 – OPINIÃO

http://www.jornaldebrasilia.com.br/edicaodigital/pages/20141030-jornal/pdf/19.pdf

 

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