Foi Luiz Inácio Lula da Silva, ao assumir a Presidência da República, em 1° de janeiro de 2003, que trouxe o Nordeste, de fato, para a agenda nacional.
Lula, eleito pelo Partido dos Trabalhadores, ousou tomar partido de 55 milhões de brasileiros, espalhados por 1.794 municípios, nos quais 66% das pessoas viviam abaixo da linha de pobreza.
Tratava-se, portanto, de uma nação de 36,3 milhões de nordestinos submetida à fome, às endemias, ao analfabetismo, ao descaso público. Não-cidadãos condenados, desde sempre, à invisibilidade social.
Ao longo dos últimos 12 anos, os governos do PT – oito anos de Lula e quatro de Dilma Rousseff – mudaram tanto o quadro social do Nordeste como, tão importante quanto, a percepção de que esta seria uma região determinada, historicamente, a permanecer pobre e subdesenvolvida.
Não foi apenas uma luta gerencial e política. Foi, por assim dizer, uma revolução cultural, ainda em progresso – contra o preconceito e o desalento provocado por cinco séculos de dominação escravocrata e coronelista.
Ainda há muito o que fazer, mas graças a uma política de desenvolvimento social e econômico voltada para a distribuição de renda e a erradicação da miséria, o PT redescobriu o Nordeste para todos os brasileiros.
A ação direta sobre os problemas crônicos nordestinos – da seca ao isolamento regional – mudou o antigo paradigma de fluxo migratório, de forma a manter os trabalhadores rurais no campo e, lá na ponta, reduzir os bolsões de miséria nas regiões metropolitanas, onde vivem 80% dos brasileiros e brasileiras.
Ao redescobrir o Nordeste, o PT redescobriu, também, o orgulho do nordestino.
Mesmo a seca, o fenômeno físico, econômico e social mais previsível da vida nordestina, deixou de ser o show de miséria e desolação humana que, até a chegada do PT ao poder, se insinuava ainda mais feroz na sua travessia de séculos.
As ações combinadas dos governos Lula e Dilma no Nordeste confirmaram a tese do grande economista brasileiro Celso Furtado, que na década de 1950 nos avisava: a pobreza no Nordeste não é consequência da seca, mas do subdesenvolvimento e da exploração cruel e desumana das elites nordestinas e de outras regiões do País.
Ou seja, a pobreza resulta muito mais da forma de exploração da terra e das relações de produção do que do impacto da seca.
Ou, como dizia o mestre Furtado, o problema é muito mais social que natural.
O País precisou de cinco décadas para, depois de uma ditadura militar e uma fracassada sucessão de governos neoliberais, finalmente entender o recado de Celso Furtado.
Passados 12 anos de governos populares comandados pelo PT, a seca continua a castigar o Nordeste, mas sem aquela que era sua mais perversa característica: as hordas de cidadãos famélicos eternizadas por Cândido Portinari no quadro “Os Retirantes”, de 1944.
Iniciado no governo Lula, a integração do Velho Chico, como o rio é chamado, carinhosamente, pelos nordestinos, irá trazer ao Nordeste, pela primeira vez na história deste País, uma solução prática para o problema de abastecimento de água em vasta área do semiárido brasileiro.
Água para beber, plantar, lavar, viver.
Trata-se da maior obra de infraestrutura hídrica do País e figura entre as 50 maiores construções de infraestrutura em execução no mundo, com mais de 470 quilômetros de obra linear.
Ao todo, 12 milhões de habitantes, em 390 municípios de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte serão diretamente beneficiados por essa obra fenomenal.
Foram, portanto, 12 anos de investimentos de infraestrutura e de programas de transferência de renda, capitaneados pelo Bolsa Família, que devolveram a dignidade aos pobres do Nordeste.
Lá, o Bolsa Família atinge mais de sete milhões de famílias, o equivalente a 35 milhões de pessoas beneficiadas e, graças a essa iniciativa, as taxas de mortalidade infantil caíram e melhorou a educação das crianças das famílias atendidas pelo programa.
Crianças que estão nascendo com peso e altura mais elevados.
O fato é que, assim como os setores da mídia aos quais se vincula e se subordina, a oposição no Brasil está profundamente descolada da realidade do Nordeste. E ainda bem que o Brasil real não depende dela para reconhecer e, principalmente, usufruir dos muitos benefícios trazidos por esse período de mudanças, sobretudo para os mais pobres.
No Nordeste, as obras de infraestrutura e o mercado de consumo criado pelo Bolsa Família gerou, em centenas de pequenos municípios, um impacto responsável pelo ressurgimento de economias locais estagnadas havia muitos anos.
Os recursos do programa, além de prover o mínimo necessário para a sobrevivência de milhões de nordestinos, também estimulou um ciclo virtuoso de geração de empregos e estímulo de investimento de pequenos, médios e grandes empreendimentos locais, de armazéns de secos e molhados a shopping centers.
Hoje, ironicamente, é no rico e desenvolvido estado de São Paulo, há 12 anos governado pelo PSDB, que os brasileiros sofrem com a degradação social provocada pela falta de água. Reflexo, justamente, daquilo que lá não foi feito, e que o PT fez no Nordeste: ações estruturantes como barragens, canais, estações elevatórias e sistemas de abastecimento para os municípios, de forma a ampliar a oferta e o acesso à água.
Ainda assim, se faz necessário reforçar a presença do Estado na região, tanto para continuar com a luta pela erradicação da miséria como, em outra trincheira, para vencer os preconceitos consolidados por longas décadas de exploração e exclusão social do povo nordestino.
Preconceitos responsáveis, em grande monta, pelo tratamento deturpado, e não raro de inspiração fascista, que setores conservadores e reacionários da sociedade dispensam aos brasileiros e brasileiras do Nordeste.
Vencer esse pensamento baseado em estereótipos massivamente difundidos pela cultura de massa é uma tarefa difícil. Exige esforço e vigilância permanentes, até porque, de tão entranhada no cotidiano, essa ideologia acaba por contaminar as relações pessoais, a instrução escolar, as redes sociais e o discurso político.
Na segunda-feira, 6 de outubro, um dia após os resultados do primeiro turno das eleições, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, em entrevista à imprensa, saiu-se com a seguinte definição: “O PT está fincado nos menos informados, que coincide de ser os mais pobres. Não é porque são pobres que apoiam o PT, é porque são menos informados”.
A declaração, mal disfarçada em conceito sociológico genérico e barato, desencadeou uma onda de intolerância e racismo direcionada aos nordestinos, responsáveis por parte expressiva dos votos que candidata do PT à reeleição recebeu, em 5 de outubro.
Os avanços e benefícios trazidos para a região, nos últimos 12 anos, transformaram o Nordeste num polo essencial de desenvolvimento do Brasil.
E resgataram a autoestima e a dignidade de um povo nobre, altivo e trabalhador, orgulhoso de sua história e de sua riquíssima herança cultural.
Por Leandro Fortes, da Agência PT de Notícias