Tal qual a ficção, o desastre não se consumou ainda e os prejuízos já ocorrem. O temor não espera a hora final: o preço dos caminhões pipa já disparou 270%. Certamente, o custo de abastecimento de água redundará em aumento de preços dos serviços e é obvio que empresas e agricultores irão adiar investimentos. Em São Paulo, por culpa da crise hídrica, teremos inflação por um lado e retração econômica por outro.
Tal como nos filmes, existem autoridades que, mesmo ciente dos fatos, não informam a verdade. Ocultam detalhes importantes e preciosos para a população. Esquivam-se de responsabilidades, ao mesmo tempo, que, com hipocrisia, enfrentam as críticas com desdém.
Assim, se questionados, serão frios e técnicos em público, presunçosos nos bastidores. Não se assustem se alguma gravação não oficial revelar que esses personagens chamam seus interlocutores de vagabundos e sem-vergonha. Enfrentam a cobrança dos representantes do povo como se “estivessem em um teatrinho que não vai dar em nada”:
Na ficção e na vida real teremos dificuldade de entender como essas autoridades chegam ao poder e como conseguem continuar, eleição após eleição. O enredo sugere grande capacidade de manipulação, talvez com apoio de parte da imprensa dita “livre”. Mas, não há tempo para reflexões mais profundas. O desastre se aproxima e precisamos saber, individualmente, como mitigar os prejuízos.
O discurso enganador atribui a origem do desastre às forças da natureza. Sabemos, entretanto, que mesmo que existam problemas imprevisíveis, as autoridades não se podem furtar ao papel de enfrentar os problemas com planejamento e planos de contingência. Se por ventura as obras não fossem feitas, seriam necessárias medidas emergenciais como o racionamento.
Mas as autoridades da ficção e de nossa realidade paulista não se curvam a imperativos éticos. Chamam a falta de água de “administração da disponibilidade hídrica”.
Enganam, adiam decisões importantes por interesses mesquinhos e potencializam os danos daquilo que já seria ruim por natureza. Na ficção, o problema de índole, de moral, é característico dos bandidos, que antes de duas horas de película serão derrotados pelos mocinhos. Na democracia real é diferente: o problema é ético, de falta de compromisso com o cidadão, que só pode ser superado nas urnas, dentro de um longo processo de aprimoramento democrático.
*João Paulo Rillo é deputado estadual e líder da bancada do PT na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo